MENINO DA FLORESTA
Havia um menino que nasceu numa floresta. Não era bem uma floresta, mas o interior, muito próxima a uma floresta. Ele vivia na floresta e por isso era chamado de menino da floresta. Ele era uma espécie de ser humano, que tinha os bichos como seus companheiros e que eram seus amigos.
Era um menino que brincava com seus amigos e seus irmãos, mas tinha mais o hábito de admirar os animais, pois via neles certa amizade, já que o menino os olhava e os admirava, e parece que eles, de uma forma animal, também o entendiam.
O menino gostava muito dos pássaros, e invejava a sua capacidade de voar, e até se imaginava voando como os pássaros para ver melhor o mundo, mesmo que fosse aquele pedaço de mundo, para olhar entre a terra e o céu de uma forma mais ampla. Ele sabia que o mundo era grande, mas não tão grande como ele imaginava e muito menos sabia da quantidade e espécie de aves e outros animais que habitavam este mundo.
Então, o menino, ao passear e apreciar a floresta e seus encantos notou que havia um galho de árvore seco, onde um de seus amigos animais, uma ave, estava bicando. O menino da floresta sentou-se e ficou entretido admirando aquele pássaro dando um show de bicadas fazendo um especial ruído da sua ação.
E ali aquele menino ficou até que o pássaro alçou voo após um canto de despedida, mas que parecia ter deixado alguma mensagem.
O menino da floresta não entendia o linguajar dos pássaros, mas pela sua amizade com os animais e principalmente com as aves, sabia que era um canto mensageiro. Por isso foi em busca do galho seco e descobriu que o galho emitia algum som, pois toda a floresta emite vários tipos de sons emanados pelas vidas que lá habitam, assim como os sons próprios do vento. E foi uma brisa, que soprando por entre os furos, fazia um som mais especial, e o menino da floresta, descobriu que o pássaro tinha lhe deixado um instrumento musical, que depois de alguns aperfeiçoamentos, conseguiu melhor se comunicar com as aves através da sua flauta rústica que um pássaro, um pica-pau, lhe havia deixado.
Quando as aves, e principalmente as águias, posavam próximo a sua pequena cabana, o menino procurava ficar o mais imóvel possível, pois não queria assustar aquelas aves para não perder o espetáculo que a natureza lhes estava proporcionando de uma forma gratuita. Apenas tocava a sua flauta, reproduzindo alguns tons que ele aprendeu ao ouvir os lindos cantos dos seus amigos pássaros.
E justamente nesse momento as aves sentiam que aquele menino era um ser humano... Mais humano, e não se sentiam ameaçadas, e poderiam confiar, e estabeleceram uma grande amizade pelo menino e pela sua flauta. Muitas vezes as aves deixavam que ele fizesse algum movimento do corpo, e ficavam quietas, até um pouco impacientes, mas a amizade continuou e o menino da floresta até chegava muito próximo das aves até o ponto de tocar suavemente com a sua mão no corpo delas, que ele considerava suas melhores amigas.
A grande amizade do menino pelas aves continuou e quando ele ia para algum lugar junto à floresta, elas o acompanhavam; também quando ele parava para descansar e ficar se deliciando com suas músicas misturadas aos sons da floresta, pareciam que queriam acompanhar e dar uma beleza própria nas suas canções.
As aves ficavam também ali escutando as canções do menino da floresta, e também ficavam para cuidar do menino. Mas quando viam que ele estava seguro, alçavam seus voos pela imensidão da floresta até ultrapassarem as árvores mais altas, para chegarem a ver o céu adornado pelas nuvens brancas.
Mas o menino ficou neste dia na floresta, sem as suas amigas, e continuou andando, andando e olhando para as várias espécies de vida na floresta. Mas distraído olhou para as borboletas que faziam seus voos erráticos e as seguiu, também de uma forma errática, e ficou perdido. Ao tentar achar a forma de sair da floresta, foi penetrando mais entre as árvores, e perdeu também a noção de direção, e ele se encontrava perdido e amedrontado, sem saber o rumo a seguir, e as aves não estavam ali para lhe proteger.
Então o menino da floresta sentou-se numa pedra, e ali ficou por um tempo chorando, até lembrar-se da sua flauta, e começou a tocá-la. Tocou num som mais baixo, e até um pouco triste, pois o seu medo não o fazia tocar mais alto, mas ao insistir na sua melodia, o som começou a ficar mais alto, mais alto e mais penetrante, pois o som de flauta tem um alcance muito longo, e foram tão longos que chegaram até os ouvidos das aves, que sentiram que o menino da floresta estava precisando de ajuda.
Alguns gaviões bateram suas asas para alertar as demais aves e tomaram a dianteira, e logo depois seguiram os corvos, surucuás, aracuãs, quero-queros, tucanos, pica-paus, e muitas outras aves, numa revoada provocando um som pelo bater das asas que às vezes encostavam-se aos ramos das árvores. Seguidos foram de uma forma atrasada pelas saracuras, que a própria natureza não lhes ensinou bem como era o dom de voar, talvez porque elas, quando estavam aprendendo a dar seus voos rasantes, acharam que era o suficiente. As saracuras na conseguiram acompanhar os demais pássaros, mas estavam ali fazendo parte...
Quando os pássaros alcançaram o seu caminho em direção da flauta, viram o menino da floresta triste e sentado na pedra e sentiram que ele tinha se afastado muito da sua cabana e estava realmente perdido.
Então aquele bando de pássaros foi saindo de perto do menino de forma mais lenta e indo numa direção que o menino entendeu serem eles os seus guias, pois as aves sabiam tudo sobre a floresta e fora dela. O menino da floresta ficou contente em ver seus amigos salvadores e os seguiu tocando sua flauta, agora por estar contente, até vislumbrar a sua cabana.
Ele então pensou: se não fosse amigo dos pássaros, ele seria um menino da floresta, perdido na floresta. Abanou para os pássaros nas suas retiradas em forma de agradecimento, e eles bateram suas asas como se fosse um encantamento das aves com os seres humanos e mais humanos. E as saracuras? Bem, elas chegaram no exato momento em que as demais aves estavam se despedindo, mas fizeram parte... E voltaram para a floresta, um pouco voando e outros poucos caminhando, mas felizes. Aliás, todos ficaram felizes. Até eu.
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 09/05/2017
Reeditado em 17/11/2020
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