Minha Máscara de Carnaval
Ainda na minha inocência de criança, pensei em fazer medo a um adulto. O alvo era meu tio, que morava a cerca de dois quilômetros, também às margens do rio São Francisco. Peguei um papelão, fiz três furos, dois para os olhos e um para o nariz. Com carvão, pintei o que seriam as sobrancelhas e a barba. Atei-a com um elástico, de modo a prendê-la às orelhas. Fui ao espelho e constatei que de fato “o bicho era feio.”
Saí em direção à casa da avó, por um estreito caminho, cuja vegetação ao redor predominava a catingueira, a mais típica do sertão do Nordeste. Lá pela metade do caminho, avisto ao longe uma pessoa que vem no sentido contrário. Era o vizinho da minha avó, um conhecido caçador.
Pensei comigo: “é esse a quem farei o primeiro susto”. Escondi-me atrás de uma moita, pensando em surpreendê-lo, ao passar ali em frente.
Mesmo postando um machado às costas e uma cabaça a tiracolo, ainda achei que podia meter-lhe medo, com minha máscara.
Pulei no caminho e exclamei: “eu sou o bicho do mato e vou te pegar”.
E o homem simplesmente ergueu o machado e disse: “e eu vou te matar”.
E eu, na minha mais pura inocência, agora tremendo de medo, rasguei a máscara na pressa de tirá-la para que ele me reconhecesse. “Eu sou fulano, eu sou fulano”, ao tempo em que repetia meu apelido de criança.
Ainda assustado, cheguei à casa da avó, já com a máscara rasgada, frustrado por não ter feito medo ao tio.
_ O feitiço virou contra o feiticeiro. O homem do machado botou tudo a perder.