Por obra do Iguana de Páscoa
Conheci Maria Clara há muitos milhões de anos atrás, quando ela era ainda só um boneco de neve. Por isso é que se chamava Maria Clara, porque era clara como a neve e pura como Maria Imaculada Concebida.
Mas um dia a gente chamou pelo Iguana de Páscoa, e ele veio. E só uma rabanada mágica fez Maria Clara gente que nem eu já era há muitos milhões de anos atrás.
Foi aí. Foi aí que Maria Clara precisou de sonhar, e veio o rio de espumas cobrindo a gente e esse rio de espumas faz gente sonhar, queira ou não queira.
O rio de espumas do sonho foi nos envolvendo, envolvendo, e Maria Clara deu de sonhar alto, aliás, nem sei mesmo se era sonho, pois tenho quase certeza de que vi o antigo Iguana de Páscoa, de mais de vinte metros de comprimento, caminhando em nossa direção, e Maria Clara pôs-se a gritar.
Mas era de alegria, e saiu montada nele, pra conhecer a terra do Iguana de Páscoa, onde as ruas são calçadas de birosca e as espadas são paus de cambuí. E da qual nunca se volta.
Por causa do Iguana e de suas promessas, fiquei sem Maria Clara, que nunca mais eu vi.
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Era quando a gente brincava de Ivanhoé e Robin Hood no quintal, e eu nem tinha sonhado ainda nem uma vez com Maria Clara e nunca tinha ouvido falar ao menos dos ovos do Iguana de Páscoa. Nem da Ilha de Páscoa.
Acho que nem sete anos eu tinha. Era o tempo do milho verde, creio que tinha até chovido, e a cambada de crianças corria em fila indiana pelos trilhos do milharal, no nosso brinquedo inventado.
Foi aí que se encontraram com o Iguana de Páscoa, grandalhão e fera, nos carreiros do milharal. E me deu a rabanada mágica, me deixou só, pois levou todos os outros meninos pra sua ilha, pra muito longe.
E ficou sendo a nova história do Flautista de Hamelin.