O Mistério da Pedra que Chora.
Vila da Pedra Triste era um povoado próximo de Cristalinho, Vila encantada e Vila feliz. Num país onde se acreditava em lendas e contos de fadas e até em seres de outra dimensão, Vila Da Pedra Triste distoa de outros lugares. E saibam que não é por causa do seu nome, mas por sua beleza natural que encanta a todas as pessoas.
Lucinete, sempre adorou esta cidade e foi por sua obra que deram-lhe este nome. Não que tivesse alguma coisa a ver com o nome. Ela poderia perfeitamente se chamar vila feliz se nas redondezas não tivesse um lugar com esse nome.
Quando criança ela vagueava pelas redondezas da cidade e sem querer descobriu próximo dali uma pedra que chorava. Sim, chorava mesmo. Hás de dizer que não eram lágrimas. Mas eu lhes digo que a pedra além de sair água, também fazia um barulho parecido com lamentos dignos de alguém que estivesse as lágrimas.
Muitos achavam que o local era mal assombrado e por isso nem se atreviam a frequentá-lo. Passavam ao largo sem sequer olhar para lá. Havia uma cachoeira linda naquele lugar, que ficando próxima da pedra que chorava, era abandonada pelo povo. Cada vez que um desavizado chegava perto dela, ouvia gemidos e choro de dentro da pedra que de repente começava a chorar água , então saia correndo e nunca mais voltava.
Lucinete, no entanto, recusando-se a abandonar um lugar tão lindo, desafiou as lágrimas do "fantasma" e partiu para lá um dia. Muitos achavam que ela nem voltaria viva de lá.
Chegou lá por volta de meio dia e, sabendo que o fantasma só chorava um pouco antes do meio dia e depois das dezoito horas, havia decidido que esperaria por ele sem medo e perguntaria porque tanta tristeza.
Curtiu a natureza sem preocupar-se com nada. O lugar era lindo e a água parecia cantar ao bater nas pedras. transparente e límpida ao fundo se via algas e a areia branquinha dando a impressão de que ali a água era azul. Os pássaros estavam alegres naquele dia por causa da chuva que havia caído. O sol filtrado através das folhas das árvores brilhava nas folhas molhadas como pequenos diamantes. Nadou nas águas transparentes daquele rio e aproveitou o frescor daquelas águas para espantar o calor do meio dia. A sensação foi maravilhosa. O cheiro daquele lugar era doce. Tinha a sensação de estar no paraiso. Não dava pra entender o medo daquele povo crédulo demais.
Quando o sol começou a se por, Lucinete começou a sentir frio. Estava molhada e esquecera de trazer mais roupas e toalha. Sentou-se sobre uma pedra próxima da pedra de onde diziam que escorreria água, no canto esquerdo do lugar e até aquele momento não chegara perto da pedra.
O som veio de um lugar distante e foi aumentando progressivamente até se tornar bem claro. Parecia realmente que alguém chorava muito.
Lucinete aproximou-se da pedra e bebeu um pouco da água que escorria e sentiu se muito bem. Juntando toda a sua coragem, perguntou:
_Quem está aí e porque chora?
Houve um silêncio e em seguida voltou a ouvir o lamento.
Novamente perguntou, com todos os seus pulmões, colocando mais força na voz:
_Quem está aí e porque chora? Responda-me porque só quero ajudar.
Uma voz de dentro da pedra gritou um grunhido ininteligível que fez gelar Lucinete. Apesar do arrepio ela insistiu:
_Por favor me faça entender como entrou ai? E a voz respondeu numa voz meio embolada:
_Socorro!
_Vou te ajudar. Acalme-se!!
Lucinete deu a volta na pedra até onde pode e procurou entender como alguém entraria alí. Não encontrou nenhum lugar visível. E então perguntou:
_Você entrou por onde?
_Não sei mais - A voz respondeu-lhe.
_Vou procurar. Não se preocupe vou te tirar daí. Quem é você?
_Marguerite!!!
_Ja volto Marguerite. Fique calma.
Marguerite começou a cantarolar uma canção que Lucinete nunca tinha ouvido. Sua voz estava um pouco embolada como se não estivesse podendo cantar mas parecia feliz. Lucinete saiu dali pretendendo rodar pelo outro lado e procurar pela entrada, mas a escuridão alcançou-a e ela não pode enxergar nada. Sem uma lanterna teve que voltar pra casa, quase tateando.
Ao chegar em casa contou tudo pra mãe que achou a estória muito fantasiosa. Jantou enquanto falava, escovou os dentes falando e só parou de falar depois que a mãe a colocou na cama fazendo-a prometer que não voltaria lá. Mas a menina de apenas doze anos não cumpriria a promessa.
No dia seguinte, Lucinete não foi a escola. Partiu logo cedo pra cachoeira e lá chegando aproximou-se da pedra que estava seca ainda. Chamou por Marguerite e não obteve resposta. Rodou por cima da cachoeira com dificuldade pois a subida era muito íngreme. Entrou na mata com cuidado com medo de encontrar uma cobra. Por trás da pedra d'água havia uma outra pedra que parecia ter sido soldada a muito tempo. Como se esta pedra cobrisse uma entrada de alguma caverna. Lucinete tentou, de todas as maneiras que pode, retirar a pedra mas esta oferecia muita resistência. Havia muito musgo e mato ao redor. Não houve meio de retirá-la. Para chegar ao topo da pedra ela teve que encontrar e enfileirar várias pedras e paus. E correndo risco de cair, conseguiu subir ao topo da pedra d'água. Ali havia um buraco que dava para dentro da pedra e por ali deveria entrar oxigênio. Marguerite estava em silêncio.
Lucinete ficou curiosa ao pensar em como ela se alimentava. Devia ser difícil conseguir alimentos ali. A pedra começou a escorrer água como fazia todos os dias assim que o sol começava a brilhar. Frutos secos que estavam sobre a pedra indicavam onde a água passava. Desceu com medo de escorregar com a pedra molhada. Resolveu pedir ajuda mas antes precisava saber se Marguerite estava viva e por isso gritou:
_Marguerite, vc está aí?
_Sim. Pensei que vc tinha ido embora. Quando vai me tirar daqui?
_Não consegui tirar a pedra de trás. Vou pedir ajuda a um amigo. Volto depois do almoço assim que ele voltar da escola. Quantos anos você tem?
_Quinze anos. Acho que é isto.
_Como assim acho? Você não sabe a sua idade?
_Estou aqui a muito tempo. Só sei que tinha quinze anos quando fui colocada aqui. Está sempre escuro e por isso nunca sei se é dia ou noite.
_Tudo bem, logo este seu pesadelo vai acabar. Eu juro, tá?
_Qual é a sua graça?
_Como?
_Seu nome de batismo, qual é?
_Ah! Lucinete.
_ Volta logo Lucinete!
_Eu volto, pode esperar.
Quando Lucinete chegou em casa, era mais tarde do que imaginava. A caminhada da cachoeira até lá levou mais tempo do que o previsto. Almoçou as pressas, a comida que a mãe deixara no forno e saiu atrás de um colega da escola, o Gustavo, mais conhecido como Gugu. Ela o encontrou num campinho jogando bola. Ele disse que ficou preocupado com ela pois ela havia dito que iria pra cachoeira assombrada e no dia seguinte não apareceu na escola. Ficou com medo quando ela contou tudo, mas resolveu ir com ela. Levaram um pé de cabra bem grande que ficou pesado para os dois e algumas outras coisas que pudessem servir de alavanca. Também um facão e algumas coisas de comer. Lucinete levou duas lanternas na mão( uma dela e a outra de Gugu)
Na cachoeira, começaram logo os trabalhos. Depois de uma hora cavando e colocando alavancas eles começaram a tentar levantar a pedra sem sucesso. Atrás da pedra grande tinha outra pedra que era bem menor mas muito pesada. Gugu teve a ideia de empurrarem a pedra pra que ela caisse em cima da alavanca e assim derrubariam a outra. Dito e feito. A pedra caíu em cima da alavanca que fez um tinido bem alto e um barulho ensurdecedor. Ela quebrou a outra pedra ao meio e rolou ribanceira abaixo. E com ela, rolou também a outra pedra lascada que revelou a entrada da caverna. Eles chamaram Marguerite que não respondeu. Lucinete entrou na frente com duas lanternas e Gugu entrou em seguida morrendo de medo. A menina era muito corajosa e por isso Gugu gostava muito dela. Mas ele como todo medroso achava que ela vivia metendo os dois em muitos apuros.
Ao entrarem o cheiro de musgo e mofo era forte demais. Não encontraram Marguerite. A caverna parecia pequena mas era muito profunda. No meio do caminho mais uma barreira. Quebrada a barreira que parecia uma barragem de castor (Mais uma hora pra vencer), seguiram em frente e chegaram a uma lagoa que ficava no fundo da caverna. Marcas de água na parede e limo e musgo cozidos presentes, mostrava que aquela lagoa tinha uma ligação com a água do ambiente exterrno de forma que havia uma espécie de geiser que subia em alguns momentos do dia. A água era fria mas quando o geiser subia ficava quente só dentro da caverna e por cima da água pois ali ficavam peixes de várias espécies. De alguma forma a água não esquentava por baixo.Colocar a mão nela fazia a gente se sentir muito bem. A água começou a subir muito rápido e por isso os dois sairam correndo em direção a entrada da caverna. A pedra que saiu deixou no lugar um pedaço da rocha que trincou. Esta pedra barrou a água mas ela teve mais espaço pra se espalhar e não subiu até o teto da caverna. Só deu tempo de Gugu e Lucinete pularem a pedra e a água quente chegou. Logo eles puderam ouvir os lamentos de Marguerite. E então começaram a gritar para ela vir até eles.
_Marguerite! Venha pra cá a porta está aberta! Vem!
_Marguerite! Nós estamos aqui.
Mas ela não apereceu. Eles esperaram a água baixar e foi bem rápido, cerca de vinte minutos, e entraram na caverna outra vez. Chamaram e ela respondeu: Aqui em cima! Seguiram a voz dela e a encontraram. Marguerite estava presa por uma corrente de uns dez metros na beira da lagoa, num ponto bem acima de uma pedra. Quase no teto. Ela explicou que quando a água subia ela subia em cima da pedra e ficava espremida com o pescosso torto escostado no teto. Por isso seu pescosso estava torto. Suas roupas não existiam mais, foram se dissolvendo com o tempo por causa da água e das pedras. Assim estava nua. Lucinete tirou a roupa pra tirar seu soutien e sua calcinha e colocou na menina. Gugu, cavalheiro de primeira, virou-se de costas, para não ver as meninas nuas. Lucinete era um tanto gordinha e por isso suas roupas couberam nela que era bem maior que ela. O casaco de frio foi usado para cobrir mais um pouco do corpo da outra. Depois vestiu apenas a calça e a blusa do uniforme. Sua pele estava escamosa. Ela tinha o aspecto semelhante ao de uma criatura aquática.
Durante algum tempo Gugu esfregou uma serrinha na corrente com muito cuidado pra libertá-la. A corrente era muito grossa mas demorou pouco devido a ferrugem, pra ser cortada dos dois lados. Assim que conseguiram cortar a corrente, levaram-na no colo para fora dali. La fora a Moça não reconheceu o lugar em suas memórias.
Durante duas horas Gugu e Lucinete ficaram conversando com Marguerite próximo a caverna. Ainda bem que já era noite, a luz do dia deixaria a menina cega. Ela não sabia mais como era estar ao sol.
Depois de estar instalada fora da caverna, Marguerite chorava e gritava glórias ao Criador de várias formas possíveis. Fez isso durante um bom tempo. Lucinete e Gugu apenas olhavam pra ela e choravam calados. Assim que se deu conta de que não estava mais dentro da caverna, Marguerite contou sua história.
"Ela fora entregue a um duque pra se casar. Seus pais deviam muito dinheiro ao homem. Ele a levou pra casa e a estava preparando pra se casar com ele. Mas a menina era insolente demais. O Duque então passou a provocá-la constantemente para amansar seu caráter. Queria uma esposa culta e obediente como todas as esposas daquela época. Tentava beijá-la a força todos os dias. Mas a menina tinha verdadeiro asco do futuro marido. Era o ano de 1920, não havia nada por aqui. Um castelo e casas num raio de muitos kilômetros. Era um lugar completamente isolado do resto do mundo. E naquela época ainda era comum um pai entregar a filha para o pretendente educá-la conforme seus princípios. Caso a moça não se adequasse seria castigada pelo marido como bem lhe aprouvesse. As leis eram muito severas para as mulheres. Não tinham direitos, só deveres.
Um dia Marguerite tentou contra a vida do Duque pois não aguentava mais ser torturada. Seus guardas a pegaram em flagrante e assim, depois de ser julgada por todos , inclusive a sua família, ela foi condenada a morar em uma caverna pelos últimos dias da sua vida. Todos contavam que ali não haveria alimento e assim ela não duraria muito. Não sabiam porém que a mãe natureza pode ser muito generosa. A água lhe entregava todos os dias peixes e camarões bem cozidos, que vinham da cachoeira e ficavam sobre a pedra, depois da água quente descer o nível. Havia também outra fonte que todos julgaram ser uma fonte da juventude do outro lado da rocha. Algas também eram uma fonte de alimentação muito boa dentro da lagoa fria. Também havia, sobre a pedra, umas árvores que lançavam seus frutos, de vez em quando, dentro de um buraco que dava dentro da caverna. Era longe da pedra mas Marguerite conseguiu recolher da água um gancho de árvore, o qual passava no chão até encontrar o fruto caído e com o mesmo gancho arrastava o fruto até onde a corrente terminava e o comia. Era delicioso. Se ela não estava em cima da pedra, estava dentro da água. Durante a noite a água era morna e ela gostava de ficar ali. Mas durante o dia, quando o geiser subia, a água ficava muito quente e assim ela tinha medo e ficava espremida em cima da rocha. Aproveitava esses momentos, pra dormir. Quando a água subia levava a menina pra cima. E assim ela se arrastava pra cima da pedra antes que a água esquentasse ao máximo. Dormia muito pouco sempre com medo da água afogá-la. A água da caverna era milagrosa só esquentava por cima. Ela só não enlouqueceu porque prometera a si mesma que quando conseguisse sair dali mataria o duque. A vontade de vingar-se foi tanta que ela resistiu bravamente a todas as intempéries."
Quando as crianças lhe contaram em que ano estavam, ela não acreditou. Estava jovem como antes e mesmo assim, era praticamente impossível que estivesse jovem depois de tantos anos ali trancada. Sua pele escamosa dos braços, pernas e corpo(menos a cabeça que ficava sempre fora d'água), mostrava que a natureza a estava modificando conforme o ambiente. Gugu e Lucinete fizeram uma cadeira com os braços e colocaram a moça ali para carregá-la. Ela não pesava mais do que trinta quilos. Levaram – na até a estrada e lá conseguiram uma carona pra casa. Era o velho leiteiro com a carroça. Disseram-lhe que a menina tinha se machucado e por isso precisavam de uma carona. Não enxergava direito e não fez perguntas. Chegando lá ele parou para as crianças descerem. Eles levaram Marguerite nos braços. Foram para a casa de Lucinete que sendo filha única não havia ninguém em casa. A mãe estava trabalhando e o pai também. Lucinete arranjou roupas limpas para a menina e Gugu foi chamar o médico do postinho pra acudi-la e ver como ela estava. Disse-lhe que uma menina havia se machucado nas pedras, para não chamar a atenção do médico para a estranheza da situação. Se falasse a verdade ele não acreditaria e talvez nem viesse ve-la
O médico foi até lá e ficou embasbacado quando viu a jovem. Depois de passar o susto inicial examinou-a e depois de ouvir sua história, disse que ela era um milagre e que a medicina não tinha como explicar. Ela estava ótima. Um pouco magra mas não exatamente desnutrida. Sua pele voltaria ao normal em alguns dias ou meses mas era melhor ficar perto de água pois iria precisar dali pra frente. Marguerite ficou encantada com a cidade. Nada existia de seu tempo ali. Durante o dia teve que ficar dentro de casa. Sentia a pele ressecar e tinhamos que levá-la pro banheiro a se banhar na banheira. O Dr Mário receitou uma pomada para passar no seu corpo e antes do final do tratamento a proibiu de sair ao sol.
Do castelo do Duque restou apenas pedras. Ninguém sabia de sua família. No cemitério local os meninos descobriram para ela que seus pais não estavam mais enterrados ali. Os túmulos daquele cemitério foram reformados ha muitos anos pois ninguém sabia de quem eram os túmulos cujas letras já tinham se apagado. O tempo fez ruir a maioria deles e não tinham mais nomes de ninguém. Foram sendo substituidos por outros mais atuais.
A mãe de Lucinete quase desmaiou quando viu a menina escamosa. Não queriamos que ninguem a visse. Senão ela iria virar uma atração circense naquela cidade de candinhas.
Quando a cidade descobriu, por um descuido de alguém, a pobre não parava de receber visitas. Tentamos impedir, mas ela até que gostava. Queria ver gente. Pelas nossas contas ela ficou mais de noventa anos dentro daquela caverna. As roupas da nossa época eram diferentes da época dela. Mas ela se adaptou logo. Os pais de Lucinete a adotaram.
Houve uma reunião entre o prefeito, a mãe de Lucinete, a mãe de Gugu, o juiz, o padre e o dono do cartório para decidir como ela recuperaria seu patrimônio. Nos registros civis encontraram uma Marguerite de La Veiga em cujas terras agora erguia-se o prédio da prefeitura. Não houve outra por aqui. Seu nascimento foi em 1905. Marguerite era descendente de uma família que tinha muitas terras mas haviam perdido a maioria pois aqui, terra não tinha valor. Muitos deram suas terras como pagamento de dívidas. Seus pais quando morreram deixaram um bom patrimônio que foi passado a prefeitura por não terem deixado descendentes. Ela seria indenizada e o Prefeito falou que iria providenciar um terreno e construir casa para ela.
Todos estavam encantados com ela. Não tinham como explicar que uma mulher de 115 anos tivesse a aparência de quinze. Além disso ela era encantadora. Alegre e sempre disposta a conversar. Dormir para ela era algo difícil. Teve que se adaptar. A água da fonte foi examinada mas não encontraram nada demais. Até hoje algumas pessoas se banham na água da cachoeira por acharem que ela dá juventude eterna. Não se sabe porque isto aconteceu com a menina mas o fato é que ninguém fica mais jovem ou se conserva mais por tomar banho lá. A cachoeira virou ponto turístico e a cidade teve que mudar de nome. Ela que antes era apenas um distrito de outra cidade passou a se chamar Vila da Pedra Triste e se emancipou rapidinho. Recebemos muitos turistas o ano inteiro e com eles a situação econômica do município só melhora a cada ano.
Quiseram mudar o nome da cidade para vila triste mas Lucinete disse que ali não havia mais tristeza e sim alegria. Mas a pedra era triste porque continuava chorando mesmo sem a Marguerite dentro dela. O povo fazia fila pra ver a pedra chorar. Não ouviam mais o som de choro, mas a água ainda jorrava bem quente pelo buraco no teto.A caverna é muito visitada. Todos queriam tocar na água e assim quem sabe ser agraciado com o dom da juventude eterna.
Marguerite casou-se com um bom homem pelo menos cinquenta anos mais novo que ela, que se apaixonou por ela, três anos depois. Ela foi morar em uma casa bem grande que o povo construiu pra ela. Tiveram dois filhos (outro milagre que a medicina não compreende), aos quais ela educou com seus valores. Marguerite envelheceu normalmente como todo mundo dali pra frente. Ela morreu com 170 anos, ou seja 55 anos depois de ser encontrada por Lucinete.
Até hoje ela é pra todos nós um símbolo da opressão masculina. Ainda bem que agora existe a lei Maria da Penha. Assim ninguém mais faz maldade alguma com as mulheres e fica impune. Ela comemorou com todos da cidade, no dia em que esta lei foi aprovada no Brasil. Pena que seus familiares e o Duque não estavam mais vivos pra pagarem o que fizeram com ela. Nossa cidade hoje poderia se chamar Vila feliz, mas Lucinete pediu para se chamar Vila da Pedra Triste para ninguém esquecer do que fizeram a Marguerite no passado e não acontecer de novo. O prefeito aceitou e o povo aplaudiu pois Lucinete e Gugu agora são considerados heróis aqui. Com vinte e dois anos, Gugu se tornou um escritor e escreveu a história para que todos possam conhecer e seu livro com esta história se tornou parte da cultura local. Venha conhecer nossa cidade! Ela esta situada entre a Vila Feliz e a vila encantada. Só assim você vai conhecer e ver aquele local sagrado: A Cachoeira da pedra triste.