A Bela e o Empresário
Era a véspera do seu aniversário.
Divorciado, sem filhos, sentiu solidão e decidiu que naquela quinta-feira, após terminar o expediente, iria dar uma volta de carro pela cidade.
Chegou em casa e foi direto tomar um banho. Perfumado, bem disposto, resolveu dispensar o elevador e desceu, aos saltos, os cinco lances da escada que terminava na garagem do prédio onde morava.
Ao iniciar as manobras do seu Audi A-3 preto, sentiu-se ainda melhor. Sentia-se realizado, bem sucedido. Não era qualquer um que tinha dinheiro suficiente para comprar um automóvel daqueles, e ainda por cima pago à vista.
Rodava pela Avenida Beira-Mar quando notou uma mulher sentada sozinha num ponto de ônibus. Virou à direita na primeira esquina, contornou o quarteirão e veio dirigindo em baixa velocidade até estacionar ao lado da moça.
- Oi! Estou passeando sem destino... poderia levá-la onde você quiser.
- Obrigada. O ônibus está demorando mas eu vou aguardar.
- Não fique com medo. Eu estou me sentindo muito solitário e gostaria de conversar um pouco com alguém. – disse o empresário enquanto abria a porta do passageiro.
A moça aceitou a carona e ele convidou-a para irem até um bar ou restaurante na Lagoa da Conceição. Durante o percurso notou o perfil da moça. Bastante alta, talvez alguns centímetros mais do que ele. Cabelos sedosos , rosto fino e com a pele bem alva.
As luzes do restaurante acentuaram ainda mais os seus belos traços. Notou que ela usava uma espécie de macacão confeccionado com um tecido aveludado de cor vinho, colante, que realçava ainda mais as curvas do seu corpo escultural. Os olhos bem escuros contrastavam com sua pele muito clara. Não devia tomar sol – pensou o empresário. Suas olheiras lhe davam um ar de tristeza.
Durante as duas horas que permaneceram no restaurante o empresário conversou muito. Ela o escutava com muita atenção e de vez em quando concordava com alguma coisa. Uma coisa porém ficou clara....eles tinham muito em comum. Parece que tinham nascido um para o outro. Trocaram afagos e juras de amor.
Às 23:30 o Audi entrou na portaria de um motel da ilha.
Ao abrir a porta do apartamento, ele perguntou, de forma irônica, se ela não tinha medo de se entregar para um estranho logo na primeira vez. Ela nada disse e se limitou a sorrir ligeiramente.
Ele tomou uma ducha rápida e ao sair do banheiro notou que a cama redonda estava vazia. O macacão estava pendurado no cabide, mas ele notou algo estranho. Os sapatos de salto alto estavam costurados às pernas do macacão. Notou também que a elegante vestimenta não tinha abertura alguma, nenhum zíper. Nisso ouviu um leve ruído de água na piscina e dela saiu uma cabeça de mulher, toda molhada. A cabeça veio subindo em sua direção. O empresário ficou imóvel, perplexo com o que estava vendo.
A cabeça parou bem próximo do rosto do empresário e falou :
- Já é meia noite. Feliz aniversário! E agora te respondo aquela pergunta que você me fez quando entramos neste quarto : “ Eu morria de medo de homem quando era viva ! “ - e deu-lhe um beijo gélido.
O empresário levou a mão à altura do peito e caiu pesadamente no chão do quarto do motel.
A edição de sexta-feira, dia 13 de agosto, do principal jornal da capital catarinense era a seguinte: “ Empresário é encontrado morto em suíte de motel da ilha “.
A matéria dizia que o empresário tinha entrado sozinho no motel.
Ao ser interrogado pelo policiais o porteiro deu a seguinte declaração : “ Olha ! Eu notei que só havia o empresário dentro do carro. Mas ele parecia conversar com alguém ao seu lado. Ele se inclinou umas duas vezes e parece que passava a mão nas pernas de uma pessoa invisível. Eu até pensei em comunicar o fato ao gerente do motel mas como ele estava descansando eu deixei para mais tarde e acabei esquecendo o fato “.
- Sabe como é seu delegado! Aqui onde eu trabalho a gente vê de tudo. O homem podia ser maluco ou a mulher podia estar envergonhada e entrou escondida dentro do porta-malas do carro.
O elegante macacão continua sendo investigado pelos peritos policiais, porém até hoje o crime não foi desvendado.