Melody e a Chave do Vitral - 1.6 Conselho dos treze

SALÃO ELEMENTAL

O Salão Elemental é um lugar etéreo onde os representantes das principais classes de seres míticos viventes no sul do planeta se encontram pra decidir assuntos de extrema necessidade. As reuniões eram sempre presididas pelos grande espíritos Fogo, Agua, Terra e Ar. Em situações normais, era um local pacifico e neutro para a discussão de diferenças entre as classes. Porém, depois da declaração de Adlon, as coisas estavam bem tensas e hostis por lá. Todos queriam uma explicação dos Espíritos sobre o acontecido.

Um local amplo retangular com um pé direito alto e suas janelas quadradas emolduravam mostrando um céu infinito manchado de nuvens e seus tons de branco. Nas laterais ficavam os pequenos totens demarcando lugares de seus usuários, sendo doze no total, seis de cada lado. Ao fundo, saíam do piso quatro obeliscos imensos de pedra em cores vivas de vermelho, azul, verde e amarelo, translúcidos o suficiente para se ver através deles de forma embaçada e dentro deles parecia se refletir as nuvens dançantes do céu fora da sala.

Os representantes de suas classes estavam discutindo em um turbilhão de vozes até se calarem de súbito quando os obeliscos brilharam. O interior das pedras foi tomado por mais daquelas nuvens em movimento seguido do ascender de olhos nelas. Era o sinal de que os elementais já estavam presentes e a reunião podia ser iniciada.

O pilar de pedra verde brilhou mais e uma voz suave feminina ecoou pelo salão, não parecia vir do pilar, mas sim de todos os lados

- Olá meus caros, percebemos a falta de um aqui, alguém sabe onde ele se encontra?

Um Troll enorme deu passo a frente em seu corpo cinzento ornando em tiras de couro de sua armadura grossa e rugiu sem pedir permissão

- Por que temos de esperar esse cara!! Ele nem é um elemental! Os vampiros são um defeito na evolução dos “humanos”, se excluir ele desse conselho, não fara a menor diferença!!

Olhava para os outros, a fim de ler suas faces e definir seus pareceres, mas nenhum deles deu alguma dica sobre o que pensava, e ele continuou:

- Além de chegar atrasado sempre e nem se importar com nada, muito menos com os próprios seres...

Foi cortado por uma batida forte no chão, o tremor chamou atenção de todos para o outro lado do salão, onde as paredes se encaixavam em um degrade de escuridão e vazio, e era por lá que todos entravam.

- Acho que você deveria falar isso na minha cara, seu monte de pedra inútil – Era o representante dos vampiros, Silver.

Agachado com uma mão ao chão, ele levantou a cabeça e seus cabelos longos e prateados cobriram as laterais da face deixando os olhos com um vermelho vivo faiscarem sobre o Troll. Mantendo o olhar levantou o corpo e caminhou pelo salão, arrumou a lapela de seu sobretudo curto, com bordado vermelho no meio e as mangas pretas, babados de renda preta saiam pelo peito entre os botões abertos e balançavam com o trote de Lord entre as janelas altas. Zilizarmek, o Troll então tirou seu martelo de pedra do chão e o girou no ar encarando fixamente Silver em sua investida.

- Por que você não volta pro seu castelinho pra pentear o cabelo da sua irmã e deixa os assuntos com os seres que sabem o que fazem?

- É Zili, acho que esse conselho vai voltar a ter doze membros.

Todos assistiam Silver fazer aparecer um sabre prateado nas mãos, enquanto esticava see braço para o lado, continuando o passo enquanto o barulho do martelo de Zilizarmek girava no ar. Os dois foram surpreendidos por um jato de ar quente que passou entre eles pouco antes de uma voz extremamente grave ressoar num grito dentro do salão.

- Podemos parar por aqui crianças!! – Era Tiamat , o rei dos dragões.

Ambos olharam para cima a encararam os olhos amarelos do Dragão na ponta do seu pescoço comprido, Zilizarmek pousou seu martelo de pedra no chão novamente com um baque seco e voltou ao seu lugar, Silver soltou o sabre no vazio do ar sem se importar onde ele iria cair, pois, ao tocar no chão, se desfez em dezenas de cristais brilhantes de vidro se esvaindo até o nível da invisibilidade.

- Ótimo – continuou Tiamat, em toda sua imponência – Podemos começar agora?

O obelisco verde voltou a brilhar .

- Sim – começou o espirito da Terra com sua voz suave – Todos vocês convocaram a reunião do concelho devido a uma declaração da classe dos humanos correto? Já que se trata de algo envolvendo declarações hostis peço que a classe humana se pronuncie sobre isso – todos se viraram para o mago presente no totem dos humanos. Levirio, deu um passo a frente.

- Caros amigos, em nossa antiga civilização existiam muitos lugares escondidos e fora de alcance das sociedades – Ele falava com uma voz ruidosa, ás vezes, sua garganta arranhava e ele tossia mas se ouvia claramente seu discurso – Entre esses lugares, um deles foi criado de uma forma tão única e superior a ponto de sobreviver a todas as guerras e infortúnios passados no norte. – Fez uma pausa – Suspeitávamos que esse lugar tratava-se de uma base de guerra altamente reforçada e autossuficiente, e acreditamos agora estarmos certos pois seriam os mesmos tipos de armas usadas na abertura da Fenda de Yellowstone – Silver olhou espantado para ele virando o pescoço – Eles estavam em exilio total desde a Grande Divisão, mas agora parece que um de seus habitantes fugiu e eles o querem muito.

Silver levantou a mão pedindo a palavra por um instante. O elemento terra concedeu seu pedido.

- Levirio! Eu espero que você tenha uma boa explicação para nunca ter mencionado que a fenda podia ter sido aberta pelo seu povo! – Apontava o indicador com sua unha negra e pontuda.

- Esse não é o nosso problema no momento, não é isso que viemos discutir Silver – o mago e encarava o vampiro com calma digna de um diplomata.

Passando o dedo pela testa como para aliviar alguma dor, Silver abalançou a cabeça afirmativamente em um “tudo bem” não conformado, um movimento com a outra mão dizia “continue”.

- O que eles querem especificamente é a entrega do fugitivo chamado Henrick Lahela, e vão fazer o que for possível para tê-lo de volta até atravessar os portões e destruir o que estiver em seu caminho.

Olhou em volta e todos continuavam em silencio aguardando ele continuar a falar, mas ele voltou ao seu lugar sem qualquer intenção de propor uma solução para a situação apresentada, O Rei dos anões pedia a palavra com seu machado reluzente de duas lâminas e as barbas em tranças negras grossas misturadas ao cabelo.

- Você falou, falou e não disse nada, Levi! Vocês não tem controle dos seus? Uma vez, meu irmão me olhou feio e sabe o que eu fiz? Peguei esse machado – mostrava ele a todos – esse mesmo!!! Atravessei a mesa e quase arranquei a cabeça dele, agora se vocês não conseguem resolver isso aí – ele balançou a cabeça em desaprovação, bateu o machado no chão e gritou a todos – Eu sou a favor de pegar esses caras e acabar com eles de um vez só! Aquele tal de Adlon me chamou de “aberração” então é pessoal agora!!!

Aurora, a rainha das sereias, flutuava em um bolha aquática suspensa no ar, a luz passava por ela refletindo harmonicamente aquele espaço de água onde a gravidade não surtia efeito. Sua calda brilhava em tons de roxo alaranjado vindo de escamas bem cuidadas, seus olhos eram grandes poços de um azul profundos o suficiente para qualquer um se perder, ela pedia a palavra.

- Queridos, pensem. Creio que todos tenham visto a transmissão assim como eu e tal regente diz querer o fugitivo vivo – os representantes pensavam enquanto os obeliscos observavam em seus olhos brilhantes – A minha proposta é que esperemos, e caso esse humano passe pelos portões, prendemos ele e decidimos em uma nova assembleia como agiremos. Algum dos queridos concorda?

Levantando o a mão, Thalionthir, representante dos elfos, pedir por sua vez de falar.

- Como é de conhecimento geral, os humanos sempre estiveram envolvidos em problemas entre o seus – andava para o meio do salão em seu manto branco cruzado em um cinto dourado pendendo de lado com uma espada, cabelos presos para trás valorizavam suas orelhas longas e pontudas exaltando superioridade em cada palavra – Deveríamos deixá-los à própria sorte para trilharem seus destinos, não foi por isso que a barreira foi criada? Para nos separar deles? Sugiro que os clãs que controlam as cidades dos portões fechem o acesso para o sul, assim não teremos problemas com esses parasitas que atravessam e buscam nossas relíquias.

Virou-se para a uma Aranha negra com pintas amarela enorme de pernas finas e abdômen avantajado, ao lado de uma Serpente verde enrolada em um mosaico de escamas, ambos seres eram de tamanho assustador, mas não tão grandes quanto Tiamat.

- Tsucmara e Sarraskur – Continou o elfo – Eu como controlador do portão da Terra em Brahim fecharei os acessos para humanos até que tudo se resolva e sugiro que vocês com controladores do portão do Fogo em Mitú devem fazer o mesmo. – Ele ainda não estava satisfeito sua face ainda mostrava um ódio pela situação – E peço que as Fadas fechem os acessos no portal do Ar e as Sereias também impeçam os navios de passarem pelo portão do Pacifico.

Felaandal, a fada, pairava no ar com suas asas azuis e pernas cruzadas confortavelmente em uma cadeira invisível, seu corpo era coberto por pequenas tiras azuis de vários tons cobrindo o suficiente para não parecer completamente nua.

- E eu sugiro que Sr se coloque em seu devido lugar – disse ela em um tom de voz agudo – não recebo ordens de ninguém muito menos de seres que se acham superiores, isso só prova que você, Thalionthir, não é muito diferente daquele Adlon.

O elfo arregalou os olhos em espanto enquanto alguns membros do conselho riam baixo. Ele inflou o peito para responder, mas em vão, pois os espíritos elementais começaram a falar, os quatro obeliscos brilharam e quatro vozes entoaram pelo salão.

- Caros, nós espíritos elementáis entendemos que essa declaração trata-se de um movimento normal na roda do destino, pois não há qualquer desequilíbrio entre as energias etéreas, e isso provocou espanto entre os representantes – O que identificamos aqui são dois sentimentos, o primeiro é daqueles que querem impedir os humanos de passarem para o sul afim de evitar problemas com suas classes – Thalionthir franziu a testa – O segundo está entre aqueles que preferem manter a situações neutra para analisar o próximo passo a seguir – As vozes eram duas masculinas e duas femininas, e continuaram seu raciocínio – Vamos tratar da seguinte forma para saber a intenção de cada um, aqueles que são a favor de os humanos não passarem para o lado sul através dos portões dêem um passo a frente.

Seis deles subiram a frente: o elfo, o troll, a serpente, a aranha, a águia e a fada sendo esta a última a se posicionar, para o espanto de todos. Encarou os outros e fez um movimento de ombros, que queria dizer “para mim tanto faz”.

O dragão, o humano, o anão, a sereia, o lobo e o gigante permaneceram em seus lugares, igualando em número de membros os lados antagônicos. Se houvesse uma batalha entre essas alianças seria difícil dizer qual delas ganharia devido ao tamanho das habilidades de cada exército.

Os obeliscos voltaram a se pronunciar:

- Agora que sabemos a intenção de todos podemos dar esse reunião por encerrada – a pausa foi feita frente a indignação de alguns – Silver? Tem algo a acrescentar?

- Não meus caros, o níveis de energia na Fenda de Yellowstone continuam estáveis e... – foi interrompido por Thalionthir:

- Eu continuo sem entender por que esse ser tem tanta importância nessa sala, se nem sua intenção é questionada – Ele apontava em desdém para o vampiro que ocupava o meio do salão – Nem de energia elemental ele vive, é praticamente um parasita em nosso mundo.

O vampiro começou a rir, um riso baixo que aos poucos se transformou em uma gargalhada, levantando a cabeça e deixando cair os cabelos prateados para trás.

- Sabe o que sou?? – seu riso cessou e uma seriedade insana passou a dominar o seu rosto enquanto passava a língua sobre um dos caninos a mostra – EU SOU O MAL!!! EU SOU O SEU ÓDIO!!! EU SOU O CAOS!!! – gritava para Thalionthir – Eu posso sentir o seu ódio arrepiando minha nunca e me deixando mais forte... O suficiente para saber o que você mais teme, é isso que eu sou... Agora, senhores, voltarei ao meu castelo, tenho um buraco cheio de demônios pra cuidar e impedir que eles saiam do controle...

Foi caminhando até o fundo do salão e sua imagem foi se desvanecendo no ar, acompanhando por cada um dos representantes que voltavam aos seus respectivos lugares.

Silver apareceu em seu castelo na Tasmânia caminhando no corredor de uma sacada comprida de frente para o mar. O fim da tarde chegou, o vento levava os fios brancos e soltos até sua irmã que agora estava de frente para ele. Uma vampira de cabelos negros, longos e de franja na altura das sobrancelha, usava um vestido frente única valorizando um busto farto com um decote generoso.

- Como foi a reunião?

- Péssima – o tom era severamente preocupado – Thalionthir quer impedir a entrada de humanos no sul pelo portão da Terra aqui na Ásia e coagiu Tsucmirana e Sarraskur a fazerem o mesmo no Portão do fogo na América – respirou fundo e olhou para o mar – Felaandal disse não se importar e poderia impedir o acesso também. Tudo por causa daquela transmissão. Você assistiu?

- Sim, procuram um Loirinho bonitinho né? - aquele silêncio incômodo se fez por um segundo - Ai.... Aquela borboleta crescida bem que podia colaborar não é? Bem, o que vamos fazer? – Lust olhava aguardando a ordem de forma pensativa.

- Não sei... Tiamat e Aurora estão do mesmo lado Wulfgren do clan dos Lobos também foi contra – colocava a mão no queixo com pesar, sentindo-se cansado. A irmã, então tomou as mãos dele nas suas e disse:

- Maninho, olhe pra mim – ela fitou os olhos dele com carinho – O que você quer que eu faça? Está preocupado com ela, não é? Eu sei, também estou, mas o que faremos?

Respirou profundamente.

- Pode ser o que uma guerra esteja se instaurando, precisamos de alianças, vou ao Cabo no Sul da África, falarei como Tiamat, depois vou a falar com Aurora. – virou-se para a ponta da sacada. – Pegue sua orbe e tente contato com a Melody, depois disso não fale com ninguém através delas, os magos devem estar monitorando-os assim como os portais conjurados.

- E como vamos falar com você, maninho?

- Eu encontro vocês quando for preciso, mantenha Melody segura, pegue quantas relíquias precisar e leve Mist com você. – Deu uma última olhada para irmã – A roda começou a se mover, tomem cuidado, amo vocês duas.

Subiu no parapeito de pedra e saltou, soltou os braços ao lado do corpo e em sequência, suas asas negras surgiram no ar levando o corpo solto em direção ao horizonte marinho. Lust sentiu um aperto no peito e seus olhos ficaram pesados, balançou a cabeça para voltar ao mundo e tirou do decote uma pedra vermelha do tamanho de um dedo, segurou na palma da mão aberta e ela começou a levitar. Era uma “orbe” usada pra se comunicar com pessoas distantes, bem comum no sul do planeta. A pedra ficou maior e com um aspecto gelatinoso flutuando no ar, grande o suficiente para transmitir a imagem em tamanho real do rosto de alguém.

- Melody!! Melody! Preciso falar com você! Mas é urgente! Responda! Agora!

O rosto da bruxa pareceu na orbe como se estivesse sendo vista por uma janela, deu um sorriso tão espontâneo que Lust ficou tranquila antes de um susto lhe acelerar seu coração, ao ver atrás do ombro de Melody a figura que todos procuravam, Henrick Lahela

Gabriel Torres Lobo
Enviado por Gabriel Torres Lobo em 28/11/2016
Código do texto: T5837617
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