Melody e a Chave do Vitral - 1.2 A Chave de Vidro

2. A Chave de Vidro

A manhã seguinte entrava pela janela do quarto, clareando as cortinas, e por algumas frestas, alguns raios escapavam até o rosto de Melody. Já era hora de levantar. Ela abriu os olhos e refletiu sobre o sonho que teve à noite. Levantou-se com cuidado para não acordar seu gato, deitado aos seus pés. Sentou na cama se espreguiçando e esfregando os olhos terminando em um suspiro longo, tomou o caderno ao lado da cama e escreveu na próxima folha em branco: “Chave de vidro”. Passou os olhos novamente pela cama, nutrindo um sentimento de tristeza em ter de acordar no mesmo horário mesmo sem ter de ir à enfermaria.

Levantou e foi até a cozinha, pois precisava preparar um chá e, depois achar o livro de magias de contenção na biblioteca - pelo menos estava lá na ultima vez que o vira e continha feitiços poderosos que viriam a calhar no torneio, mas por hora o chá a interessava mais.

Voltou para cama alguns minutos depois com a xicara na mão e novamente viu o caderno de sonhos. Pensou em qual seria relação da chave em um futuro próximo e se teria alguma relação com o torneio ou até algo além. Fitou Ônix esparramado na cama, foi até ele e fez um carinho em seu pescoço.

- Vamos acordar, gatinho, temos grandes coisas pra fazer hoje.

Ônix espreguiçou-se, esticando bem as patas e depois enrolou-se em uma bola de pelo só, abriu os olhos e a encarou.

- Acorde, eu também estou com sono, mas precisamos nos levantar.

Sem resposta ele fechou os olhos e com a calda cobriu a cara.

- Seu preguiçoso!

Desistiu de acordá-lo. Foi ao armário e pegou uma roupa para o dia, que prometia ser quente, então uma saia mais curta e uma blusinha com mangas curtas também e foi para biblioteca nos fundos da casa.

Abriu a janela, iluminando o cômodo com a estante de livros na parede oposta, prateleiras embutidas na parede, forradas de livros separados em pequenas sessões. Uma delas tinha o título “para ler”, com cerca de oito livros nela, e isso a fez se lembrar de um livro encomendado que estava para chega. Suspirou fundo, pensando por que encomendava livros novos se já tinha tantos pra ler. Passou os dedos entre os livros até ler o título “Contenção”, e só havia um para sua felicidade, um livro grande, com a capa em couro marrom com uma estrela de 10 pontas.

Ela então o fez flutuar da prateleira até o chão para vê-lo melhor sob a luz do sol que vinha da janela e iluminava a capa que mais parecia um obra de arte em alto relevo, com a estrela de dez pontas com alguns símbolos se encaixando perfeitamente em cada espaço de suas pontas e ao lado surgia, de forma harmônica, uma tira de couro afivelada e presa por um cadeado.

Tomou um gole do chá e analisou o livro novamente, observou melhor o cadeado com surpresa agora, suas mãos tremeram na xicara e engasgou a ponto de tossir muito, tomou-o nas mãos e viu que não era um brincadeira de mal gosto, o livro estava trancado mesmo. Tentou forçar o cadeado, mas sem sucesso, o que gerou uma faísca leve, indicando que aquele era um cadeado mágico. Deixou o livro no chão e encostou a cabeça na parede... “estava muito fácil para ser verdade”, pensou. Com certeza, seria uma brincadeira da Lust para lhe testar a paciência. Mas ela não aparecia há meses devido a problemas no Sul.

Pensou um pouco mais, e de repente, seu sorriso brilhou mais que o Sol na janela. Agora o sonho fazia sentido! Voltou ao quarto, e do parapeito da porta disse:

- Ônix! Preciso de você! Rápido!

Ele abriu um dos olhos e suspirou.

- Eu ainda estou dormindo.

- É rapidinho, só pra pegar um chave, por favor!

- Tudo bem, já vou... Mas ainda acho que interromper o sono de um gato deveria ser considerado crime – ele levantou e esticou as patas dianteiras abrindo a boca.

Melody foi até a sala e aguardou ao lado da lareira onde estava um espelho, Ônix entrou na sala ainda sonolento e andando lentamente, parou nos pés da dona e se coçou.

- Você lembra qual é a chave não é?

-Mmmmm... – ela pensou correndo os olhos – Agora não, mas se eu vê-la, saberei qual é.

Bocejou mais uma vez, levantou a cabeça e piscou com preguiça, em seguida deu um pulo alto entrando no espelho. O vidro ondulou em um círculo do ponto onde ele entrou até a moldura, seguido de um escurecimento deixando-o todo negro. Os olhos amarelos do gato se abriram no vidro do espelho e piscaram , a bruxa sorriu e juntou as mãos, entrelaçando os dedos

- Já te disse que você fica muito bonitinho assim?

- Já sim, já diss...

- Então responde: Espelho, espelho meu, existe alguma bruxa mais boazinha do que eu? – interrompeu Melody

- Você não precisava da chav...

Ela o interrompeu de novo:

- Vamos!! Diga vai!! – Erguia os punhos e insistia

- Você Melody, você é a mais boazinha de todas! – voltou os olhos para o lado se sentindo bobo.

Ela estava com os olhos fechados e sorrindo. Ônix bateu no vidro para chamar a atenção dela, mas sem sucesso. Então, sacou uma das garras e riscou o vidro por dentro, fazendo-o emitir aquele som horrível e destoante de qualquer coisa audível, e voltou a si, levando as mãos aos ouvidos

- Por que você fez isso? – apontava ao espelho

- Você ficou daquele jeito toda boba e não me ouvia...

- Ah... é que quando vo...

- Tudo bem – cortou Ônix – Quando eu falo por aqui você acha lindinho

- Isso... Desculpe, não queria fazer você ficar bravo – baixou os olhos.

- Não, espere - o olhos se abriram em arrependimento – Eu acabei falando demais... vamos ver aqui o que temos aqui.

Sorrindo novamente, ela colocou a mão sob o queixo e refletiu:

- Quantas chaves têm aí dentro?

- Você não lembra qual chave era, não é?

- É... – ela realmente não sabia qual era – Eu não sei mesmo, mas eu garanto que se eu olhar pra ela, saberei.

- Tudo bem – Suspirou – Aqui tem vinte e três chaves

- Mmmmmm... Quantas delas são de livros de magia?

- Doze.

- Wow! Tenho tantos livros fechado assim?

- Se não existirem outros mais, você insiste em ouvir a Lust e colocar chaves em tudo!

- Mas ela tem razão, se de repente alguém pegar e fizer algo errado com eles?

. Bem... O cadeado soltou uma faísca de relâmpago quando forcei então separa as chaves que são de ar, água e mistas.

- Três!

- Que ótimo Ônix! – Ficou muito animada com a noticia – Vou pegar as três pra testar

- Não pode!

- Como assim?!

- Só pode pegar uma – o gato parecia começar a fica irritado – Você não se lembra das regras que criou pra essa caixa?

- Puxa! As regras... é, não lembrava...

Ela havia fechado as chaves nesse espelho mágico por dica de sua amiga Lust e só poderia pegar uma chave por vez, e se usasse a chave errada ela se destruiria juntamente com o livro que tentasse abrir, resultando também na impossibilidade de abertura do outro cadeado.

- Mostre as três.

Três chaves apareceram no espelho, uma azul, outra amarela e uma azul bem escura com filetes dourados, analisou as três com um ar de dúvida sobre todas.

- Vou ficar com a mista, Ônix – e apontou a que detinha os detalhes em dourado.

- Você tem certeza disso?

- Claro, era um cadeado de relâmpago, só de ser uma mista de ar e água, não há como errar.

-Certo, vou pegar para você.

O espelho ficou novamente todo negro com a ausência de imagens das chaves e dos olhos de Ônix. De repente, uma chave flutuou para fora, seguida do gato saltando para o chão. Tendo ela em mãos, Melody analisou com mais cuidado os detalhes, os filetes em dourado sob um fundo azul para se certificar que era aquela a correta.

Correu até a biblioteca em passos largos, pois queria resolver aquilo o mais rápido possível. Caso não fosse o encaixe certo, poderia ser catastrófico. Sentada de pernas cruzadas, olhou ao para o livro, colocou-o em seu colo, encaixou a chave sem nenhum problema ou probabilidade de algo errado, girou-a e relâmpagos formaram um círculo á sua volta brilhando em forma de um aro que subia e descia no ar, deu mais um giro na chave e o aro diminuiu sua forma, se fechando na direção do livro. O círculo de luz se fechou onde a chave parava na mão da bruxa e seguido por mais um giro, a luz desapareceu em um som seco - “click” - estava aberto.

Deitou no chão e abriu o livro apoiando o queixo em uma das mãos, a cada virada de página pequenos filetes amarelados subiam ao ar com pequenas centelhas mágicas. Procurou no índice alguma magia que fosse importante para salvar os magos durante o torneio, separou três deles e buscou suas respectivas folhas.

O primeiro dizia: “Bolha de Vácuo” Segundo o livro, esse feitiço podia fazer as coisas perderem o contato direto entre superfícies, amenizando o impacto, olhou em volta e pensou que poderia ser bem útil em um caso de colisão. Marcou a página e foi para o próximo livro. O título era: “Colchão de Nuvens”. Não era tão óbvio como o título dizia, pois o livro explicava a necessidade de trabalhar o elemento água e ar e nunca era fácil unir dois elementos puros no mesmo feitiço. Marcou a página novamente, e assim, foi ao último livro chamado: “Raízes”. Só para o caso de impedir que algo saísse voando descontroladamente por aí, pois essa magia deixava o objeto atingido mais pesado, limitando sua mobilidade.

A mente começou a trabalhar com o primeiro feitiço pensando em quais situações ele poderia ser aplicado, analisando o tempo de evocação das gemas usadas, verificando se os feitiços eram relativamente rápidos se aplicado a uma pessoa. Enquanto se sentia tranquila quanto a seu trabalho, percebeu que Ônix brinca ao lado com suas mechas de cabelo, puxando e tentando mordê-las. Começou a praticar as magias ali mesmo, em escalas menores, para se acostumar com as evocações. Podia-se ver bolhas voando pela biblioteca e nuvens de vários formatos dançando no ar ao som dos risos de Melody.

Gabriel Torres Lobo
Enviado por Gabriel Torres Lobo em 18/11/2016
Reeditado em 18/11/2016
Código do texto: T5826900
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