Destruidora dos mundos Moya O inicio. Grandes desastres em pequeno frasco
O ar estava tenso com a espectativa. Toda a vila estava presente. Haviam faixas e enfeites de todo tipo, flores, guirlandas tornavam a vila élfica de Sarenuin. NO centro de tudo, na praça, em um tablado elevado construido especialmente para essa ocasião solene estavam seis pessoas. O maior era Arehne, o poderoso lider da aldeia. Seu semblante era como de pedra, eterno, transmitia serenidade e sabedoria. Ao seu lado estavam cinco lindas jovens, duas delas suas filhas, todas sacerdotisas. Três delas seguravam pequenos potes ornamentados e as outras duas, pedaços de tecido, finamente bordados. E no centro, estava ela. Moya. A jovem elfa estava nervosa. Sabia que todos os olhares eram para ela. E ela sabia que merecia. Por todas as coisas que fizera pela aldeia, ela sentia que essa homenagem lhe era merecida.
Quando Arehne ergueu sua mão tudo silenciou. Mesmo os animais pareciam ter parado para escuta-lo. E quando falou, sua voz clara e limpida soou, e todos podiam ouvi-lo.
- Moya! É a ti que me dirijo. Por teus atos, por tudo que fizeste, eis o que teu merecimento.- Ao dizer isso mergulhou os dedos no primeiro dos potes, o qual estava com uma tinta de cor azul-clara. E com essa tinta desenhou uma pequena mascara ao redor dos olhos da jovem Moya. A tinta brilhou por instantes e logo secou no rosto. Houveram gritos de alegria. O lider limpou os dedos em um dos pedaços de tecido e ergueu a mão. Novamente se fez silencio, disse então:
- Moya!É a ti que me dirijo. Essa é a vontade de todo teu povo e de Acath, a Nossa Mãe! - Mergulhou então o indicador no segundo pote, a tinta desse era violeta e com ela marcou uma pequena faixa diagonal sobre o olho esquerdo da moça. A tinta novamente brilhou e pequenas linhas verticais surgiram dentro da marca. Nova aclamação do povo, desta vez o lider permitiu que durasse um pouco mais. Sabia como o povo estava se sentindo. Se permitiu um pequeno sorriso ao olhar a felicidade das filhas. Limpou novamente o dedo, no segundo tecido. E Moya não cabia em si de tanta satisfação. Aquelas pessoas realmente gostavam dela. De repente, o silencio. Arehne não ergueu sua mão, mas seus olhos fizeram todos se calarem. Era chegada a
hora. O ápice de tudo.
- Moya!É a ti que me dirijo. Recebe agora a justa paga de teu povo. E todos que para ti olharem saibam quem tu és e o que tu fizeste!- E com a tinta do último pote desenhou pequenas listras amarelas no maxilar direto de Moya, pouco abaixo da orelha.
Desta Vez o povo explodiu em festa. Fogos de artificio cortaram o ar. Mesmo Arehne comemorava com os outros. Mesmo o sol parecia brilhar mais forte, como que para marcar o destino. Quando Moya desceu do tablado o povo a ergueu nos ombros e começou um desfile pela aldeia.
Nos ombros do povo, sendo carregada acima de tudo, Moya pensava,estava feliz como nunca pensou estar. Era a recompença justa por tudo. Coroava todo seu trabalho. Ainda assim se sentia embaraçada. Queria dizer " Que é isso gente! Não foi nada!" mas
não queria estragar a felicidade de todos.
O cortejo continuou até as portas da aldeia, as poderosas portas de madeira que estavam abertas, escoradas em uma forte muralha. O desfile levou Moya até o lado de fora da aldeia.
Então à jogaram longe, fechando as portas rapidamente.
Moya ficou lá, estatelada sobre um monte de grama, sem entender. Lá dentro a festa continuava.
Ela ficou ali até o anoitecer, tentando saber o que houve. Quando a noite já estava adiantada uma pequena figura se aproximou dela, vinda de outra porta menor, próxima da maior. Carregava uma tocha e uma mochila. Era uma elfa, coberta com um manto e capuz brancos, parecia reluzir na escuridão. Se aproximou de Moya que não parecia ter se movido desde que caira ali.
A visitante tirou o capuz, tinha uma expressão condoida em seu jovem e belo semblante. Os olhos verdes estavam repletos de
tristesa e pena.
-Ah Moya... imaginei que você ainda não teria saido daqui, mas não me arrisquei á vir antes que todos dormissem. - Sua voz era baixa e suave.
- Mas o que aconteceu afinal, Letynië ? -Perguntou Moya, ainda sem se levantar.
- Como posso explicar? Se você não entendeu ainda, quer dizer que realmente tenho que explicar não é?
- Hummm... pelo que eu tinha entendido as pessoas estavam me fazendo uma homenagem. Ah bem. A festa vai começar agora? Devo
voltar para dentro?
- NÃO!! Desculpe, quer dizer, não. Você não pode voltar Moya. Nem hoje, nem nunca. Foi banida.
- Não, fui não. Ainda estou aqui. Nunca foi à Banida. É depois de "Diabos"? Pra lá já mandaram ir muitas vezes, mas nunca fui.
- Na verdade...
- Inclusive deve ser perto de outro lugar pra onde me mandaram ir muitas vezes, nunca foi muito boa em saber onde estão os lugares, matemática, sabe. Ah sim, lembrei era pra "Put...
-PARA!!! - Letynië deu um profundo suspiro. - Esqueça esses lugares, e pelo amor de Acath, nunca repita esses nomes de novo. mas entenda, Moya, você foi expulsa. É isso que é banida. Não querem você aqui.
- Depois de tudo que fiz pela aldeia!!
- Mas foi justamente esse o problema. Moya, tudo que você fez foi trapalhada e confusão.
- E a festa? E essas marcas? Pensei que fosse um tipo de honraria.
- A festa é por você estar indo embora. As marcas são um antigo ritual, significam "perigo, afaste-se" mas não se preocupe. É tão antigo, que mesmo entre os elfos poucos são capazes de reconhecer. Ninguém o usa à milenios. O ritual foi ressusitado só pra você.
Letynië teve que explicar mais algumas vezes, em termos simples.
Moya ficou em silencio, como que tentando assimilar o que ouvira. Letynië por sua vez estava lembrando como as coisas chegaram à esse ponto. Desde que aprendeu à andar, antes disso até, Moya tinha uma incrivel capacidade de criar confusão.
Sua impulsividade, aliada ao talento em entender as coisas de modo errado, sua força incomum, tudo contribuia para criar desastres. Tudo, desde fuga de gado, barcos afundados, e segundo alguns, até uma praga de gafanhotos. Passaram à culpa-la por tudo de ruim na aldeia, e na maioria dos casos era mesmo. Mas ela estava sempre tentando ajudar. E tinha a cara mais graciosa e inocente do mundo. Mas, pensou Letynië, a gota d´água foi o caso do monge Seruhot. Seruhot estava na aldeia há anos. Era fiel e educado com todos, sempre ajudando, tendo paciencia fora dos limites mesmo com Moya. Se tinha um defeito era ser muito energico em suas declarações, às vezes criticando as pessoas por ajudarem pouco. E veio o desastre. Seruhot estava pregando quando disse que as pessoas da aldeia estavam se deixando dominar pelo orgulho. Estavam ajudando os necessitados, sim, mas falavam disso com um orgulho que não era correto, sem humildade. Ele preferia, uma doação anonima à mil de orgulhosos. Foi o começo do fim.
Moya achou que para evitar isso todos deveriam doar, sem saber que fizeram à doaçào. Em algum lugar de sua cabeça o pensamento era " Se as pessoas doarem sem saber que doaram, não terão orgulho e serão melhores." Durante aquela mesma noite, Moya invadiu cada casa da aldeia e recolheu objetos vários, valiosos ou não. Na manhâ seguinte, todos deram por falta dos objetos. E foram atrás da suspeita habitual. Mas não encontraram nada com Moya, e ela negava que estivesse com qualquer coisa. Uma busca foi feita de casa em casa. E todos ficaram horrorisados quando tudo foi descoberto no depósito da casa do sacerdote. Uma Alta Sacerdotisa foi chamada. O julgamento foi rápido. Seruhot foi expulso com desonra da Ordem. Quando foi levado embora da aldeia pela guarda real, ainda gritando desesperado sua inocencia, Moya, aos sussurros lhe confessou seu
brilhante plano para salvas as pessoas de seu orgulho. Meses depois, quando chegou um novo sacerdote, Moya falou durante a cerimonia "Espero que você seja melhor que o sacerdote anterior, ele não entregou pros pobres todas as coisas que eu recolhi da última vez." Pedidos de desculpa e explicações foram mandadas com urgência à capital, pedindo o retorno de Seruhot. Nada adiantou, o pobre homem havia perdido a sanidade quando Moya lhe falara sobre o crime.
- Bem irmâ, você deve seguir seu caminho agora. Veja, trouxe uma mochila com tudo que possa precisar.
Letynië ficou esperando uma resposta da irmâ.
- É isso! Vamos então!
- Não posso. Sabe que ainda não terminei meu treinamento. Mas quando me tornar uma sacerdotisa, bem, quem sabe posso encontra-la. Mas pense na aventura.
- Isso mesmo!! O mundo será minha casa!! Adeus!
E Moya começou a andar, decidida, firme em sua resolução. Mas após os primeiros passos, a irmã à deteve com um aviso.
- Está voltando pra aldeia Moya. O resto do mundo fica do outro lado.
E Moya recomeçou a andar. O mundo estava à sua frente.
Que Acath tenha piedade dele.