O Mar de Borboletas
Décimo segundo andar, dois passos da sacada. Estava eu, ali, enfrentando meus piores pesadelos e meus melhores sonhos: além da sacada eu encontraria a morte trágica ou as nuvens. Eu desabaria ou levantaria voo.
Duas da manhã, dois passos da sacada. Aproximei-me e olhei para baixo por onde se estendia a cidade em forma de maquete, vi pessoas, pequenas como formigas. Era engraçado, eu as via tão pequenas, que poderiam caber na palma da minha mão, caso estendesse a mão para pegá-las e, ao mesmo tempo, me sentia menor do que elas.
Três da manhã, beiral da sacada. Ainda não havia me decidido se arriscaria voar correndo o risco de cair. Uma pequena multidão de pessimistas curiosos e desesperados se acumulavam no térreo gritando palavras de ordem, algo como “não faça isso”.
Duas batidas fortes na porta, duas palpitações fortes no peito. Seria agora ou nunca, ou arriscaria cair, podendo voar, ou seria internado como um potencial suicida e nunca mais poderia arriscar-me a voar.
Um pé na porta, um segundo. Fechei os olhos e soltei-me em direção ao chão, senti o vento lambendo meu corpo enquanto as pessoas gritavam. Pobres coitados eles, desacreditados, ou eu, possível defunto em menos de um segundo.
Quinto andar, silêncio, milagre. Não ouvia mais gritos, só as vozes na minha cabeça e uma pontada de arrependimento, agora não poderia voltar atrás, estava feito. A única coisa que poderia fazer nesse momento seria confiar em mim, acreditar que eu poderia voar.
Um, panapaná, um mar de borboletas azuis surgiram em meu estomago e, quando estava a dois metros do chão, levantei voo e subi e, como rei dos ares, voei, rasgando o céu até chegar nas nuvens, de onde pude admirar o grande retrato do mundo.