Tribo de Zahr 5: A Acusação
No passado remoto, vários povos nômades vagavam por terras desconhecidas, explorando, buscando novidades. Quase nunca encontravam, e por isso começaram a diminuir as longas jornadas. Tempos mais tarde, grupos se aglomeravam em determinadas regiões, e assim surgiram as chamadas Tribos de Az – seis grupos de uma única espécie, fundados e liderados por Ondal, Zahr, Lax, Gumsan, Pazor e Rask. Cada tribo passou a viver de seu próprio modo, seguindo as decisões de seus respectivos líderes.
A Tribo de Zahr foi a primeira a desenvolver leis. O jovem líder, Zahr, recebera instruções de um amigo que ele conhecia apenas como Supremo. Os dois envelheceram, e antes de morrer, Zahr passou seu nome e cargo a um de seus filhos. O Supremo não demorou para chegar ao fim.
Ninguém na tribo havia conhecido o Supremo, todos pensavam que ele era um tipo de ser superior, e por isso costumavam realizar festas e cultos para agradecê-lo por ter reunido e orientado a tribo, e adorá-lo por ser tão bondoso. Esse costume passou de geração em geração, ganhado cada vez mais importância.
Quando alguém do povo de Az morria, seu corpo tornava-se inútil e apodrecia, enquanto o espírito, livre da carcaça carnal, ascendia à outra realidade. O espírito do Supremo vivia ainda, e quanto mais pensamentos buscavam-no, mais poderoso se tornava.
Na primeira aparição que fez ao povo zahriano, sob forma de chamas, o Supremo intitulou-se Eskigal. E então passou a controlar tudo que acontecia na tribo, aconselhando o Zahr, interferindo em julgamentos, ditando leis e regras. Impondo sua vontade sob a máscara da bondade, para que continuasse sendo adorado.
Em seu corpo de fogo, Eskigal compareceu ao julgamento raskiano, que era conduzido por um juiz nortenho chamado Uorg. Na lei de Rask, o acusado nada podia falar num julgamento, a menos que o juiz lhe permitisse. Portanto, o acusado apenas ouvia.
Uari acusou Eskigal de violar muitas leis zahrianas, mas era em vão, já que o próprio acusado era o autor das leis. Os argumentos de Uari morreram quando, permitido falar, Eskigal perguntou como poderia um juiz raskiano julgar uma violação de leis zahrianas.
O povo alvoroçou-se, revoltou-se contra Uari. Mas o julgamento não estava terminado, o acusador mudou as palavras e tornou a incriminar o Supremo, no entanto, cada vez que falava, ele só expandia a imagem de louco, traidor e assassino. Já em dúvida das acusações, o juiz Uorg passou a interrogá-lo sobre a natureza de seus argumentos. Sem resposta convincente, Uari foi ameaçado de condenação à morte por alta calunia e traição aos costumes de seu povo.
Eskigal, que sempre fora visto como justo e bondoso, já se felicitava e enaltecia sua própria imagem. Contudo, Uari pediu silêncio e usou seu golpe final: questionou a bondade e a justiça do Supremo, pois quando fora acusado por Adom de matar Humri, o Supremo permitiu que houvesse um julgamento injusto, que além de injusto colaborava com a estratégia política suja de Adom.
Essa era uma acusação de veracidade inquestionável, e todos os zahrianos eram testemunhas. Não precisou mais que isso para que o povo começasse a repudiar Eskigal, pois esse fato confirmava todos os outros que Uari vinha relatando no decorrer do julgamento.
Eskigal desapareceu da tribo, agora que não seria mais alvo de adorações e bajulações de todos os tipos, voltaria a ser só mais um espírito entre milhões vagando num mar cósmico, não causaria mais danos a nenhum povo.
E então, com a Tribo de Zahr completamente desolada e triste, Uari solicitou que o Kalabam começasse junto com a primavera.
CONTINUA...