Cantos

Acordo, a boca seca, o coração inquieto… alívio. Apenas um sonho. Um vago devaneio me distanciou de você, breve suficiente para eu quase não suportar. A silhueta da tua imagem se forma aos poucos na minha cabeça, mais sutil, chegando próximo ao real. Engraçado quando a realidade é mais confortante que qualquer sonho. Já busquei muito teu olhar: as vielas da cidade eram cenários da minha saga, milhares de pequenas pistas se juntavam sem eu perceber e, aos poucos, adentrava mais e mais esse labirinto verde. Quanto mais eu me perdia mais perto chegava da minha liberdade. Hoje, teus olhos estão nos meus. Nem mesmo consigo ver em mim o que não se confunde contigo. Sorrio.. boba. Sento, o espelho me encara de volta.Torpe:

-Quase místico, não é?

Sim! Tudo mudou dentro. Lembro como era antes e beiro falar na terceira pessoa. Aquela não sou eu. Talvez era, mas não sou. Tu parece mesmo que saiu do casulo. Foi isso! Andava com uma lagarta como quem já vê claramente a borboleta do próximo verão. E que asas lindas tem tua alma, bicho. Coloridas, me descabelam quando batem levantando teu voo. Já, nem em sonho, me imagino viver sem a ventania que balança minha saia.

-E o que desejas?

Voar atrás de primaveras e ser guiada pelo canto de tuas asas.