"Essência minha"

A fluidez sonora da canção silenciou hostilmente meu

pensamento racional. Ceguei o rústico dia e dei asas ao oculto que

renascia dentro de mim.

Envolvente som despiu-me do pejo que envolvia. Eram

notas musicais desnudando-me. E no compasso da musicalidade

esvaiam-se roupas, por ora espalhadas pelo chão.

Meu suor, ópio! Meu olhar, degredo! Meus gestos, impudicos!

As mãos serpenteavam pelo meu próprio corpo, era uma

dança suntuosa, travessa e sedutora.

Movimentos lentos iam-se formando na eloqüência febril do

meu semblante, era fêmea sutil, nua!

Na seda desvaneci minha ira. Mover-me em espiral, encolher-

me como feto, tornar-me concha, envolver-me em creme extasiado de

mim.

Serenei-me na brisa, que ousada me tocava.

Gotículas do meu veneno a vagar pela pele. Sagaz. Mortal.

Alucinógeno.