Doce Sal

Um homem observa o por do sol.Ele observa o por do sol da sua casa.Um pedaço de terra,povoado por populações de palmeiras e coqueiros de alturas,cores e texturas diferentes.Ele era o único ser vivo pensante daquele pedaço de terra.Todos os dias eram iguais para ele.Acordava de seu sono guardado por estrelas.Via os mesmos coqueiros e as mesmas palmeiras.Coletava recursos para prolongar sua existência naquela prisão rodeada por água salgada.Contemplava o vazio que preenchia o mar.Acendia o fogo que salvaria o seu corpo das garras frias da noite.Dormia sabendo que passaria o resto da sua patética existência naquela maldita ilha.

O homem não tem memórias exatas dos seus dias.Dias tão iguais.Parecia viver o mesmo dia repetidas vezes.Ou um dia que durasse varias manhãs,tardes e noites.

O homem viu o por do sol mais um vez...Junto com algo que chamou a sua atenção.Alguma coisa no mar.Semelhante a um peixe.Ele desconfiou.Se aproximou para ver melhor.

Não era um peixe comum.Era uma mulher.Uma mulher com cauda de peixe no lugar das pernas.Nunca havia visto algo parecido em toda a sua existência naquele lugar.

A mulher-peixe viu o homem.Ela o viu olhando para ela.Decidiu nadar até a sua direção.O homem sentiu as agulhas do medo espetarem a sua coluna.

Ela chegou perto do homem.Analisou as suas linhas e seus contornos com uma expressão de curiosidade.Linhas e contornos que formavam a sua barba e seus cabelos grisalhos e seu corpo franzino.Da mesma forma que ele analisava as linhas e contornos da mulher-peixe com curiosidade e até um certo espanto.Linhas e contornos que formavam seu rosto branco como as nuvens,seu cabelo negro como o cobertor que cobre a lua e a sua cauda colorida pelo verde-claro.

Ela sorriu para ele.’’Me diga o que você deseja,e eu lhe darei’’,disse a mulher-peixe,com a sua bela voz em um tom carinhoso e amigável.

O homem se lembrou do que mais queria:Liberdade.Liberdade daquela ilha.Liberdade dos dias repetidos.Liberdade daquela prisão salgada.

‘’Eu quero ser livre’’,disse o homem,sem hesitar e sem pensar,empregando grande parte da sua força para projetar a sua voz.

‘’Então venha comigo’’,a mulher-peixe estendeu a sua mão em direção ao homem.

Ele agarrou a sua mão,quente como o fogo que acende nas suas noites de sono.

Sem nenhum anúncio,ela o puxou em direção ao mar.Os dois submergiram no mar salgado.Ele começou a ver um universo mais rico do que aquele presente na ilha.Aquela riqueza de cores e seres encantava tanto os seus olhos mortais.Fazia a ilha onde viveu parecer um grande pedaço de carvão sobre a água salgada,em comparação ao oceano.

A expressão de deleite no rosto do homem de esfarelou e deu lugar à um desespero fulminante no momento que sua mão deslizou e deixou o toque da mulher peixe.Ele tentou gritar por socorro,mas sua voz correu pela água em forma de silêncio.Felizmente,a mulher-peixe sentiu a ausência da sua mão.Ela se virou.Ela o viu ser engolido pelas profundezas obscuras.Ela tentou salvá-lo.Um esforço inútil e em vão.

Pobre homem.Morreu afogado.Morreu afogado em seu desejo de liberdade.

Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia)
Enviado por Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia) em 07/09/2016
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