O Garoto de Três Olhos

Em uma vila numa floresta muito distante, morava uma família de lenhadores que trabalhava dia após noite; noite após dia. Sempre cortando mais e mais lenha. Certo dia, a avó ficou grávida de seu marido. Todos ficaram muito surpresos com a inesperada gravidez.

No dia do parto, a criança, que era um menino, nascera com muita facilidade. Mas havia um grande problema: ele possuía três olhos.

– Que diabos é isto? – exclamou a sobrinha.

– É um castigo de Deus! É nisso que dá uma mulher como tu ter relações nessa idade – julgou o mais novo da família, de quinze anos.

– O que faremos? Ele é um enviado do diabo!

E ficaram ali, lastimando e praguejando. A velha passara o dia a ofertar lágrimas. Todos rezavam a Deus pedindo misericórdia.

O garoto cresceu. Puseram-lhe o nome de Maglin. Mostrou ser dócil e amável, mas poucos na família gostavam dele. Seu “olho extra” ficava um pouco acima da testa.

– Eu não consigo ver por este terceiro olho – disse o menino.

– Vamos arrancá-lo! – exclamou o pai de Maglin pegando uma enorme lâmina de aço.

– Não! – o garoto gritou, tapando o terceiro olho.

Mas graças às súplicas da mãe, mantiveram o garoto intacto. Um dia, um enorme festival se iniciou na vila. Todos foram jantar na casa daquela família. As pessoas ficaram muito assustadas com Maglin.

As crianças choravam, os adultos corriam desesperadamente da casa e a mãe de Maglin tentava escondê-lo. Ao trancar o garoto no quarto, todos retornaram para o jantar, mas Maglin chorou como nunca antes havia chorado.

Abriu a janela do quarto e foi embora daquela vila, mesmo sem saber para onde ir. Andou por outros vilarejos e por grandes cidades. Certo dia, enquanto caminhava por uma mata quente e seca, um ganso, de tamanho considerável, o fez parar:

– Quem é você, pobre menino de três olhos?

– Eu sou Maglin e estou viajando por estas terras...

– O que faz aqui?

– Fugi de casa. Ninguém gostava de mim, tudo culpa deste maldito terceiro olho!

O ganso, que era muito pretensioso e esperto, disse:

– Conheço um lugar aonde as pessoas vão te aceitar! Lá todos possuem algum “problema”. Venha comigo!

Por um momento, o garoto hesitou, mas logo aceitou o chamado. Caminharam por algumas trilhas que cortavam a floresta em três. O ocaso se aproximava.

– Chegamos! – o ganso apontou para o norte.

Três enormes tendas coloridas estavam sendo erguidas ao redor de enormes carroças e jaulas de animais. Alguns homens eram demasiadamente fortes carregavam quilos e mais quilos de feno para cavalos pernetas.

– Que lugar é esse?

– Cerce. A maioria chama de Circo! – o ganso disse. – Venha comigo! Há alguém que deseja conhecê-lo.

Entraram em uma tenda menor. Havia um homem que segurava uma pequena cobra de duas cabeças nas mãos.

– Quem é o garoto de três olhos?

– Seu nome é Maglin. Fugiu de casa e o encontrei na floresta do sul.

– Será recompensado, meu ganso!

A ave pegou Maglin pela camisa rasgada e o trancou em uma apertada e suja jaula.

– Me tire daqui! – gritou.

Quando chegara a noite, puseram Maglin no pátio das apresentações. Primeiramente, a apresentação foi de uma mulher bem velha que ficava fazendo pilhérias entre as pessoas. A mulher possuía uma longa e espessa barba, coisa que Maglin nunca vira.

O segundo foi um homem que rastejava, pois possuía apenas braços. As pessoas riam e gritavam alto. O terceiro era um grupo de anões raivosos que lutavam entre si. Maglin achava tudo muito peculiar: homens e mulheres fazendo os outros rirem com coisas de que elas deveriam se envergonhar!

Após dez apresentações, chegara a vez de Maglin. O puseram no meio no palco. O que eram risos se transformaram em expressões de medo. Aquele maldito terceiro olho assustava a todos!

Maglin chorou no meio daquelas pessoas que começaram a fazer gracinhas sobre seu “membro extra”.

– Deve sair mais lágrimas dele do que de uma pessoa normal – diziam alguns.

– Será que consegue piscar apenas um olho ou pisca dois de uma vez? – diziam outros.

Ao fim das apresentações, Maglin se libertou daquela jaula e matou o ganso, decapitando a cabeça da ave. Correu bastante pela mata. Seguiu as mesmas trilhas e enfim chegou a sua casa.

Todos choravam, pois achavam que o menino havia morrido ou coisa do tipo.

– Olhe só! Maglin voltou!

Prepararam uma enorme festa para o garoto e muitos foram os pedidos de perdão.

– Não te julgaremos mais, meu filho – disse a velha.

Desde aquele dia, Maglin nunca mais teve vergonha de seu terceiro olho, pois assim como as pessoas do Circo, aprendeu a conviver com seu pequeno “membro extra”.