O dragão
Um dragão entra pela sala; um grande monstro lagartiano cheio de escamas e com olhos vermelhos como o sangue. Seu hálito cheira a querosene e sua respiração é quente como o inferno.
Sem cerimônias, ele senta-se no tapete, ao centro, ao lado dos dois sofás próximos à televisão. Ele tinha um alvo certo e, a todo lugar que ele fosse, não importando se era para o quarto ou mesmo para o banheiro, lá estava ele, procurando por um lugar bem próximo. O pobre coitado não tinha escapatória: até o fim do ano o dragão o perseguiria — e o pior, somente ele o via.
Dormir e ficar com a namorada afastava um pouco a besta fera — talvez ela fosse solidária, apesar da cara amarrada. Mas o infeliz sabia que ela ainda estava ali. Outra coisa interessante: mesmo tendo o poder de acabar com o coitado apenas com uma baforada, finalizando de vez todo aquele sofrimento, ela preferia apenas acompanhá-lo, alimentando-se do medo e da insegurança dele. Mas não existia nada a ser feito: ele era uma besta de mais de quinhentos quilos e ele... não importa... o que vem ao caso é que, contra o dragão, o azarado não tinha chance alguma.
Certo dia, ao assistir à televisão e já cansado de, em pleno frio, suar como alguém numa sauna quente, ele resolve "enfrentar" seu algoz. Em um primeiro momento, o dragão nada responde, nada faz, apenas com o olhar fixo no aparelho de LCD. Depois de muito insistir, ele vira-se para o desgraçado, com uma cara ainda mais fechada, e diz: "Prazer, me chamo ansiedade" e volta para o programa de TV.