Enlevo Consanguíneo
A escuridão é convidativa; todavia, não a completa. Gosto de um pouco de claridade, justamente como a das estrelas hoje. Posso pedalar com motivação, olhando a noite envolver-me nas tuas cores sombrias.
Estou indo buscar a minha prima no pavilhão. Há oito horas a deixei lá para brincar com as traças. Nosso mundo é perfeito, agora que desvencilhamo-nos dos nossos demais familiares. Vivo apenas com ela numa casinha isolada, nesta rua esquecida. Trouxe para cá somente o necessário. Nossas vidas tornaram-se mais prazerosas do que nunca.
Vou com minha bicicleta e contorno os espantalhos de carne. Um deles me diz para aproveitar a viagem e saciar os meus desejos. Alguns metros posteriormente encontro os flamejantes dançantes. Eles me entretem com a arte dos seus movimentos, e as mariposas negras envolvem-se na dança, circulando-os.
Sigo meu trajeto e já estou quase no lugar onde quero chegar; contudo, não posso deixar de reverenciar os olhos que acenam com o brilho neon. Percebo-os gratos pela minha admiração. A beleza da paisagem é tão sutil e cativante. Meus desejos são desta forma: contemplar a simplicidade fabulosa deste meu novo habitat e reencontrar aquela que eleva o meu encanto; que já está bem próxima, pois o pavilhão defronta-me.
Deixo a bicicleta encostada na parede e entro pelo portão. Minha doce menina descansa do seu trabalho recente. É ela quem cria todos os fenomenais elementos deste mundo recém-descoberto, aproveitando improváveis obras-primas. Ela me vê chegar e corre até o meu abraço. Meu corpo lhe acolhe, e as mãos dela tocam o meu rosto num gesto de carinho. Voltaremos para casa e poderemos apreciar uma entusiasmante magia durante as pedaladas.