A VOLTA DA FILHA PRÓDIGA


          Um dia, ela mandou avisar que voltaria.  E já não era sem tempo. Ninguém acreditou quando, muito tempo atrás, ela simplesmente desapareceu, sem dar pistas do local por onde andava, e sem dizer quando voltaria.
          Ela não sabia como era importante para eles, e eles também não sabiam, até que sua ausência começou a alongar-se mais do que o previsto. Já havia acontecido algumas vezes, antes, mas não um afastamento tão demorado. Na verdade, nós só costumamos dar valor quando perdemos alguma coisa.
          Às vésperas do dia previsto para a sua volta, não se falava em outra coisa, era uma premência, uma urgência de revê-la inigualável, inconfundível.
          Logo ao raiar do dia, muitos já estavam à porta de suas casas aguardando algum sinal de sua chegada. Mandaria ela algum aviso prévio ou simplesmente irromperia novamente em suas vidas, como tantas vezes já havia feito?
          A ansiedade crescia, as crianças, semi nuas, corriam alegres pra lá e pra cá, como à espera de presentes do Papai Noel. Não era Natal, mas a volta dela era um presente muito precioso para eles. E esperaram. No fim da tarde, para alegria de todos, a chuva chegou.
          Muitos tomaram-na nos braços, sentiam seu contato no corpo, e, ao ar livre, recebiam em suas cabeças as bênçãos que ela, generosamente, distribuía igualmente a todos. Foi uma festa incrível, inesquecível
          E nessa noite chuvosa, como havia vários meses não acontecia,  depois de banhados e refrescados, todos  voltaram a dormir tranquilos e felizes.


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