Borboleta Interrompida
Rodeada, de um lado por um imenso oceano límpido e tranquilo, e do outro pelo verde intenso da floresta, encontrava-se uma montanha muito vistosa. Era, naturalmente, um porto seguro para os pássaros e demais animais que por ela passavam.
Em uma certa manhã, a montanha começou a observar mais atentamente os pássaros que nela pousavam, descansavam e logo levantavam voo. Percebeu que as aves, seres tão pequenos comparados a ela, possuíam algo que as montanhas não tinham: eram livres. No entanto, a liberdade da montanha limitava-se a permanecer ali, imóvel e solitária.
“Seria tão bom se eu pudesse voar. Conhecer o que existe além destas águas, sobrevoar a vastidão das florestas...” pensava a montanha em seu íntimo. Quis então ser livre, ter asas como os pássaros que via. “Mas como? Como mudar algo que já é pré-determinado?”
Numa noite então, surgindo da serena escuridão, uma águia conversou com a montanha:
- Montanha alta e parada, por que a aparência desolada?
- Ah, águia de longas asas, quem dera eu poder ter a liberdade de um pássaro... poder voar e conhecer o mundo, e suas infinitas belezas como vocês o podem...
Foi neste momento que a águia, como em um passe de mágica transformou-se em um poderoso mago. A montanha ficou surpresa, e enquanto tentava encontrar uma explicação para aquilo, o mago lhe disse:
- Formosa montanha, eu não sou uma águia, estava apenas me passando por uma para melhor observá-la. Sou, na verdade, um mago muito poderoso e há dias que a vejo insatisfeita com o que é. Gostaria, então, de ajuda-la. Diga-me, o que posso fazer para alegrá-la? Para deixá-la feliz?
- Oh, poderoso mago! Minha felicidade só seria real se pudesse voar por esse imenso céu e ser livre, assim como as aves que por aqui sobrevoam.
- Entendo sua angústia, vistosa montanha. Porém, não posso transformá-la em pássaro.
- Então feliz jamais serei! – lamenta-se a pobre montanha, e chora em silêncio.
- Posso, contudo, tirá-la do chão que a segura e a aprisiona. Posso fazê-la livre!
- Ah, grande mago! É o que mais desejo! Faça-o! Faça-o!
- Todavia, existe um grande sacrifício ao qual terá de submeter-me...
- Não me importo! – interrompe-o – Apenas faça-me livre, oh poderoso mago! – insiste a montanha.
E atendendo assim ao pedido dela, o mago lançou sua mágica e a transformou em uma lagarta já dentro de seu casulo, em início de transição. Ela, porém, ao encontrar-se presa e sendo agora um inseto, pensou, indignada: “Aquele mago teve a covardia de enganar-me e trancar-me aqui, mesmo sabendo de meu desejo em ser livre.”
Impaciente e mergulhada em suas crenças, destruiu o casulo. Incapaz de compreender que logo seria borboleta.