ASDREN - ALMA DE ATORAK

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Outro conto, do qual o texto abaixo faz alguma referência:

ASDREN - Lottar

http://www.recantodasletras.com.br/contosdefantasia/3964312

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ASDREN - ALMA DE ATORAK

Os olhos do elfo percorrem atentamente pelo perímetro. Tinha certeza que seus ouvidos sensíveis haviam captado algo. Se fosse noite poderia se camuflar melhor e avançar com mais rapidez, mas o instinto lhe dizia pra ter mais prudência. Permanece quase imóvel, e vez ou outra, muda lentamente de posição, buscando captar qualquer indício de que não estava sozinho naquele local. Pouco depois o vento muda de direção e pode perceber o odor ocre, vindo do norte. Agora tinha certeza: Estava sendo caçado por ogros. Ele lembra-se nitidamente da primeira vez em que vira um deles. Era apenas um garoto, brincava pela aldeia com outros pequenos elfos, quando um ogro passara na sua frente, a poucos metros, encarando a todos. Pode sentir o ódio emanando de seus olhos frios. Por sorte tinha os pulsos amarrados à frente, da qual saía a corda pela qual era arrastado. Depois daquele dia, sempre que via um ogro lembrava-se daquele dia, assim como acontecia agora, ali, no meio da Floresta de Séfian, a floresta dos elfos. Saíra pra caçar, e fugir um pouco da monotonia que era a guarda da caverna onde fica a Sala de Destros. Naquele momento, pensa ter cometido um erro, ao sair sem a proteção de outro companheiro elfo; apenas Ceci, sua coruja de estimação o acompanhava. Com a presença dos ogros por ali deveria alertar seus companheiros do perigo iminente, mas deveria ser mais cauteloso, pra não se trair e revelar sua localização. Muito hábil, desloca-se um pouco mais para o sul, sem fazer qualquer barulho, buscando abrigo ao lado de um tronco caído. Por cinco minutos, observa atentamente à sua frente, até que pode perceber três deles, avançando lentamente, para o sul, em direção à caverna. Certamente passariam bem próximo dele. Confiava em sua habilidade com o arco; mal sabia o elfo que aqueles três eram apenas batedores do agrupamento que vinha logo atrás, com cerca de vinte ogros e 10 orcs. Três ogros não seriam dificuldade, pensa ele. Mesmo assim resolve alertar os outros componentes da guarda. Se não chegassem a tempo, ele os enfrentaria sozinho. Emite um pequeno pio, chamando Ceci, que vem em silêncio e pousa em seu ombro. Ele retira uma fita vermelha do bolso e amarra em sua pata e a solta no ar. Esta já sabia o que deveria fazer e voa entre as árvores na direção sul. Confiante em sua destreza, o elfo decide não aguardar a chegada de seus companheiros. Lentamente tira uma flecha do alforge e a carrega no arco puxando a corda, momento em que ouve um pio de dor, tirando sua concentração. Ele olha pra trás e vê, bem próximo, uma humana com vestes de maga, e ao seu lado, um enorme ogro, sorrindo pra ele. Olha em direção mais ao sul, vê Ceci com uma seta atravessada em seu corpo, mas ainda voando e, logo abaixo, a figura de um caçador orc com uma besta na mão. Com apenas uma das mãos Gorpo pega o elfo pelo pescoço, erguendo-o do chão. Pergunta sem dar uma chance de resposta:

- Agora pequeno elfo vai dizer onde fica a Sala de Destros?

- Gorpo – intervém Celina – Assim ele não vai conseguir dizer nada...

A intervenção chega tarde demais. O elfo para de se debater. Quando Gorpo o solta, ele já cai sem vida.

- Seu estúpido! Agora como vamos saber onde fica a entrada pro santuário?

Gorpo não consegue responder. Como todo ogro, não tem consciência da força que tem, e não entende como aquele ser pode morrer tão rápido em suas mãos.

- Eu... Eu...

- Ora seu...!

Um assovio chama a atenção de Celina. É Mesh, o orc que havia atirado em Ceci. Eles olham em sua direção e este acena com a cabeça para que o sigam. Estes acenam para os outros três ogros para que os alcancem rápido, sinalizando o terreno pra que o grupo maior pudesse segui-los. O caçador orc, segue na direção sudeste examinando o terreno, buscando sinais do sangue de Ceci. Cerca de quinze minutos depois Mesh para. Observa por um momento e em seguida aponta com a cabeça. Gorpo observa procurando saber o que o orc queria dizer. Já Celina entende logo. Sobre uma pedra, próximo à cachoeira, estava caída Ceci, já sem vida.

- Tá. O passarinho morreu... E agora? Como vamos saber onde é a entrada da Sala de Destros?

- Deve ser por ali, Gorpo. Vamos... Com cuidado!

Aproximam-se do corpo de Ceci. Gorpo procura alguma entrada ao fundo da cachoeira. Nada. Celina apenas observa e é Mesh quem sugere a primeira opção:

- A cachoeira emerge de uma caverna. Há espaço ali pra uma pessoa passar apenas se abaixando um pouco.

- Sim, mas está a cerca de quatro metros de altura. Como será que fazem? Se é que a entrada seja por ali mesmo.

- Gorpo pode – diz Gorpo sobre si mesmo – Gorpo sobe pisando nessas pedras aqui até aquela outra ali. Aí é só andar na beira até onde cai a água...

Celina e Mesh aproximam-se de Gorpo, observam o terreno e percebem pequenos degraus esculpidos na rocha, de forma a alcançarem uma rocha na base da montanha. Dali poderiam seguir próximo dela por um caminho de cerca de 40cm de largura, até a queda d’água. Como a rocha era branca tal caminho só era possível perceber de muito próximo. Neste momento são alcançados pelos outros trinta guerreiros que vinham na retaguarda.

Celina repassa todo o plano aos guerreiros sob seu comando. Sabiam que encontrariam no máximo doze guardas...

– Agora são só onze – lembra Gorpo inutilmente – Acabou dando tudo certo...

A maga teve que concordar. Os elfos eram exímios arqueiros. Um a menos poderia ser vantajoso, apesar de contar com a vantagem da surpresa.

Um a um sobem até a rocha lateral, e depois alcançam a caverna por onde despenca a água da cachoeira. Formando uma fila indiana, Mesh toma a dianteira, seguido por Celina, Gorpo e os outros, entrando na caverna, curvando-se devido a altura, cerca de um metro e sessenta. Não andam muito. A uns vinte metros da entrada já podiam caminhar na posição ereta, e mais outros cinco alcançam uma sala larga, na qual forma-se um pequeno lago, de onde jorra a água que alimenta a cachoeira. Trinta metros mais ao fundo, uma rocha plana, como que formando uma pequena ilha, na orla do lago, puderam observar o artefato, em formato piramidal, com inscrições em alto relevo, posicionado em um pequeno altar, e duas tochas, uma de cada lado, acesas permanentemente. Um facho de luz penetrava por uma abertura no alto da sala, indicando que em poucos minutos a luz solar atingiria o artefato, energizando-o. Além dele, mais ao fundo, um espaço formava uma grande sala, símbolos inscritos no chão, na linguagem dos antigos, e na parede oposta desta sala, uma estátua de mais ou menos quatro metros de altura, demonstrando olhos grandes, sem orelhas, presas e garras enormes, em posição de combate e em cada lado um sentinela elfo recostado nas pernas da estátua, cochilando – os dois.

- O Coração de Destros...! Finalmente! – Exclama Celina.

- Não se parece com um coração! – Rebate Gorpo, causando eco na sala e acordando uma dos sentinelas e acabando com a vantagem da surpresa de ataque.

Celina percebe e ordena o ataque imediato:

- Rápido. Silenciem as sentinelas. Temos que terminar antes que a luz chegue ao Coração de Destros ou fracassaremos em nossa missão.

- Yahheeiii!! – Grita uma sentinela acordando a outra e avisando o restante da guarda que estava em uma outra sala lateral.

Os dois elfos iniciam o ataque com suas flechas. Disparam ao mesmo tempo e dois ogros tombam. Rapidamente carregam e disparam novamente: mais dois ogros tombam.

- Diabos, Mesh... Derrube pelo menos um deles...

Mesh e um dos elfos disparam quase que ao mesmo tempo. Celina intervém e consegue criar um campo de força à sua volta, englobando Mesh também, salvando-o de morte certa. O arqueiro elfo não teve a mesma sorte. O tiro de Mesh foi certeiro e ele tomba. Neste momento o restante da guarda posiciona-se entre as pilastras ao fundo do grande salão. Os orcs protegem-se com escudos enquanto avançam seguidos pelos ogros. Celina intervém sempre que pode salvando um ou outro, aproveitando a água do lago e formando escudos de gelo que eram logo quebrados pelas flechas dos elfos, mas permitindo o avanço dos atacantes. Sempre que possível atacava com sua magia, ajudando seus combatentes. Gorpo pega uma machadinha de um dos ogros caídos e o lança atingindo um dos arqueiros.

Quando a luz do sol atinge o artefato, energizando-o, o único arqueiro elfo restante, sente levemente a energia do Coração de Destros invadindo seu corpo, dotando-o de vigor, astúcia e ampliando, ainda que pouco, sua destreza com o arco e flecha. Consegue disparar três flechas certeiras em menos de dois segundos. Dois ogros e o orc restante caem, restando apenas Celina, Gorpo e Mesh. Novo disparo. Celina sabia que não conseguiria conter a flecha, e seriam mortos um a um, daquela forma. Naquela fração de segundo, decide pelo sacrifício de Mesh e desferir um ataque direto ao arqueiro restante. Uma bola de fogo atinge o arqueiro no peito, deixando-o tonto. Gorpo se adianta e o agarra pelo pescoço, levantando-o do chão. Celina aproxima-se e toca o braço dele para soltar o corpo do arqueiro, já sem vida; havia quebrado o pescoço com sua força descomunal.

- Acabou! - Celina olha em volta, tantos guerreiros caídos, olha pro Coração de Destros – Conseguimos, Gorpo! Já temos a Força de Tonos, breve teremos nas mãos a Tábua Eterna, e agora... O Coração de Destros!

- Gorpo tá feliz por isso...

- Sim Gorpo. Você será bem recompensado. Ficará faltando apenas o Proteção de Mentos, o mais difícil deles de se conseguir. Mas agora vamos pegar o artefato e sair logo daqui. Não se sabe exatamente quanto tempo temos.

Celina movimenta as mãos próximas ao Coração de Destros, criando um campo de força, erguendo-o sem tocá-lo. Gorpo abre um alforge de couro de biserodonte, costurados com os pelos voltados pra parte interna, formando um local acolchoado, onde é liberado o artefato conduzido por Celina.

Na tarde do segundo dia depois, na sala do trono em Asdren, o Rei Khandar, a arqueira Allanis e o Capitão da Guarda Gobash estão terminando o interrogatório a um dos guardas da Cripta Augusta.

- ... E isso é tudo que sei, Senhor. Quando me dei conta que estávamos sendo atacados, todos já haviam caído... Tentei alcançar a trompa pra dar o alarme... daí já não me lembro de mais nada.

- Não sabe nem dizer quantos eram?

- Não eram muitos... Talvez uns três... ou quatro.

- Três!? – Grita Gobash, indignado – Quer nos dizer que apenas três invasores eliminaram quase que a guarda inteira da Cripta e sequer conseguiram dar o alarme?

- Não tenho muita certeza, mas antes de apagar, consegui ver algo, um anel na forma de uma serpente enrolada num rubi.

- Damian!

- Sim, Allanis – Concorda o rei – Só pode ser ele.

- Quem é esse Damian? – pergunta o capitão.

- Um mercenário. Trabalha pra quem pagar bem.

- Faz qualquer tipo de serviço sujo. A forma como eliminou os outros guardas, combina com a forma de agir dele.

- Exato, Allanis. Adagas são as armas preferidas dele. Comanda um grupo de cinco mercenários, tão perigosos quanto ele. Mas... O que pode ele querer aqui? – Virando-se pra Gobash – Não deram falta de nada na Cripta?

- O curador está fazendo uma avaliação neste momento, verificando se está faltando algo.

- Certo. Por agora estão dispensados. Procurem descansar. Assim que tiver alguma novidade no inventário da Cripta venha me comunicar.

Gobash e o guarda saem.

Khandar senta-se em sua cadeira, à mesa com laterais e pernas bem trabalhadas com desenhos em alto relevo. Coloca a mão no queixo observando o mapa do palácio e uma série de documentos e providências a serem tomadas. Apesar de estar no interior de seu palácio, trajava sua armadura de combate; vestira-a assim que soube dos acontecimentos recentes. Tinha porte atlético, cerca de um metro e oitenta de altura, cabelos negros e curtos. Seus olhos azuis percorrem toda a mesa e alcançam Allanis, que havia soltado os cabelos e os realinhara, prendendo-os novamente; eram castanhos claros, combinando com sua pele clara e com seus olhos, também claros, cor de mel. Também trajava sua armadura de combate, que a protegia sem prejudicar sua silhueta invejável; sempre fora muito bonita. Khandar diz:

- Humm... Não bastasse tantos problemas burocráticos a resolver, pra manter o reino nos eixos, ainda tenho que me preocupar com ataque a instalações do palácio.

- Haha! Trata-se de um prédio anexo do palácio, com conteúdos ligados diretamente à coroa, como documentos, objetos... A maioria não pode cair no conhecimento do público comum...

- Huhum – murmura novamente – Mas você bem que poderia tomar a frente nisso pra mim.

- Pense por outro lado. Você tem assim preocupações diferentes daquelas rotineiras, das quais reclamava há pouco – diz com ar de deboche.

- Não tem graça.

Khandar e Allanis eram amigos de infância. Tinham a liberdade de se expressarem como amigos quando estavam sós. Os dois, Celina e Lottar formavam um grupo inseparável até bem pouco tempo atrás.

- Se pelo menos Lottar estivesse aqui! Talvez ele pudesse nos ajudar.

- Só por isso mesmo? – pergunta Khandar com um sorriso cínico.

Allanis ia retrucar, quando são interrompidos pelo secretário do palácio, anunciando a chegada de um mensageiro elfo, requerendo uma audiência urgente com o rei.

Antes mesmo que Khandar pudesse ordenar a entrada do mensageiro, este irrompe na sala:

- Desculpe majestade – diz o jovem elfo, inclinando levemente a cabeça e realçando ainda mais suas orelhas pontiagudas – mas o que me traz aqui é de extrema urgência.

- Majestade... Eu disse pra ele esperar enquanto eu o anunciava...

- Pode deixar – diz Khandar acenando para que ele saísse deixando-os a sós – Quanto a você meu rapaz... Acho que lhe conheço.

- Certamente majestade. Sou Sarpin, filho de Zabian, o líder dos elfos da Floresta de Séfian. Nos conhecemos há alguns anos, quando esteve em nossa aldeia, em companhia de seus amigos.

- Verdade – diz Allanis - eu me lembro de você.

- Sim, sim... Agora também me lembro. Naquele tempo eu não tinha as preocupações que tenho agora.

- Se me permite, majestade, pelo que conheço de ti, saberá honrar o lugar que ocupa agora.

- Certo Sarpin – diz olhando o elfo com certa curiosidade – Mas quando você entrou aqui disse ter algo de extrema urgência a tratar comigo.

- Sim, majestade. Há cerca de três dias, um mensageiro daltigano chegou em nossa aldeia, relatando um ataque ao Templo de Tonos, ao norte de nossa floresta.

- Um daltigano? Humm... Esses daltiganos sempre foram muitos misteriosos. Talvez seja cisma minha, ou simplesmente preconceito, com os membros desproporcionais ao tamanho corpo, arcada dentária saliente, pouco se relacionam... Pra mim nunca dizem coisa com coisa! Será mesmo confiável alguma informação vinda de um deles?

- Meu pai chegou a fazer o mesmo comentário. De qualquer forma foi enviado um grupo de combatentes pra confirmarem as informações. Outro grupo menor foi enviado ao Templo de Destros, pra alertar a guarda de lá.

- Fizeram bem. Pelo pouco que sei, aqueles artefatos não podem cair em mãos erradas.

- Sim. E foi justamente um destes últimos que retornou primeiro.

Sarpin faz um resumo da situação verificada no Templo de Destros. No fim:

- ... E meu pai não quis esperar por notícias vindas do norte, tomando como verdadeiras as informações dadas pelo daltigano e me enviou pra alertar Vossa Majestade pra proteger a peça sob sua custódia e pedir sua intervenção na recuperação das peças perdidas.

- Peça sob minha custódia!? Do que está falando?

- Receio – diz Allanis – ter alguma coisa a ver com o ataque à cripta.

O Capitão Gobash irrompe no grande salão:

- Creio que estão falando sobre o motivo do ataque à cripta.

- Descobriu o que falta naquele local? – pergunta Allanis.

- Sim. O curador me informou a falta de um baú, na qual continha um artefato, com o nome de...

Apesar de ter pego o final da conversa entre o rei e o elfo e entendido que falavam da mesma coisa, Gobash detém-se um pouco, pensando se deveria falar de algo que deveria ser segredo. Por fim falam ao mesmo tempo:

- A Tábua Eterna!

- Peraí! – Retruca Allanis – Tábua Eterna, Coração de Destros... Do que é que estamos falando aqui?

- Tábua Eterna! Eu havia me esquecido completamente dela. São peças que compõem ou formam outro artefato, bem mais poderoso: O Alma de Atorak.

- Esse nome não me é estranho.

- Sei pouco sobre esse assunto também. Pelo que meu pai me disse uma vez, esse é o tipo de coisa que não deve cair em mãos erradas.

- E como é essa Tábua Eterna?

- Tábua Eterna é um suporte pras outras peças, mas não menos importante. Sei que sem ela as outras não fazem sentido juntas. Meu pai me mostrou essa peça uma vez. Sua guarda lhe fora confiada pelo pai de Zabian, avô de Sarpin. Trata-se de um bloco de metal nerutano no formato de uma tábua quadrada, com cerca de sessenta centímetros de lado e dez de altura, com um furo circular bem no meio, de uns vinte centímetros, com as paredes meio inclinadas, de forma a receber uma parte esférica, onde, segundo meu pai, encaixavam-se outras peças, formando um artefato só. Na parede desse furo havia inscrições em baixo relevo em uma linguagem antiga, e nelas deveriam se encaixar com perfeição as outras peças. Na parte de baixo, havia prolongamentos perfurados de forma a receber hastes para transporte da mesma. O restante que sei, pode ser lenda, são fatos contados aqui e ali sobre o Alma de Atorak.

- Tem a ver com o Deus Atorak? O Deus banido?

- Esse mesmo. Havia me esquecido desse suporte. Ficava bem escondido lá no fundo da cripta.

- Agora quem não está entendendo sou eu – diz Sarpin – Guardavam um item tão importante numa cripta?

- Na verdade é uma cripta de fachada. Alguns túmulos no térreo mas um depósito no andar de baixo. Afinal quem se interessaria em procurar algo valioso numa cripta? Ninguém sabe de sua real utilidade.

Sarpin olha o rei pelo canto de olho. A expressão em seu rosto não se faz necessário qualquer palavra. Khandar balança a cabeça, reconhecendo estar errado.

- Alguém deve ter nos traído. Como saberiam?

- Humm... Celina? – pergunta Allanis.

- Sim. Só pode ser ela. Ela tinha conhecimento daquela sala. Ainda vou acertar as contas com aquela traidora.

Allanis sabe o que se passa pela cabeça de Khandar. A morte de seu pai, o ataque ao reino logo depois de assumir interinamente, a união de Celina com o Obhar, das Terras Escuras, agora um ataque ao palácio, debaixo de seu nariz... Tudo obra de Celina.

- A hora dela vai chegar, Khandar – diz Allanis – Também tenho contas a acertar com aquela maga.

- Bem, vejo que sabem por onde começar – diz Sarpin - Caso Vossa Majestade aceite, meu pai Zabian terá o maior prazer em hospedá-los e colocá-los a par dos fatos enquanto nos preparamos.

- Será um prazer Sarpin. Diante da gravidade e urgência dos fatos, creio que em duas horas poderemos partir escoltados por Gobash e um bom número de combatentes – diz Khandar voltando seu olhar pra Gobash.

- Providenciarei o necessário imediatamente, senhor - entendendo estar recebendo uma ordem a ser cumprida; e sai.

Ao final da tarde, cerca de dois dias depois, Khandar alcança a aldeia de Zabian, no interior da Floresta de Séfian, quase que no centro dela. A aldeia encontra-se numa imensa clareira às margens do Grande Lago, onde se pode ter uma boa iluminação, além de recursos como água e pesca. Khandar chega acompanhado por Allanis, Gobash e oitenta combatentes, entre arqueiros e de corpo-a-corpo. Atravessam a aldeia e armam suas barracas na clareira de uma elevação ao lado; não fossem as árvores, poderiam ter uma boa vista de toda a aldeia de Zabian, do lago e do vale ao sul.

Os elfos não eram nômades, mas a maioria das edificações era simples, facilmente desmontáveis e transportadas. Ao centro, uma tenda enorme, circular, onde ficava Zabian. No seu entorno, tendas menores, de seus comandados. Em clareiras próximas, outras tendas, de guerreiros e artesãos. Próximo ao lago, outra tenda grande, aberta nas laterais, uma imensa mesa de madeira, onde os anciãos faziam suas refeições, enquanto o restante aguardava sua vez ou se ajeitava como podiam ao seu redor. Pouco à frente da tenda de Zabian, em uma grande área aberta, sete esculturas, sendo a maior de Centurius, o deus maior, tendo de cada lado, em esculturas menores, três outros deuses, subordinados a ele, formando um semi-círculo; em sua frente eram realizados os eventos religiosos e festivos da aldeia.

Após ter sua tenda armada, Khandar usa a água de seu cantil, pra lavar as mãos e o rosto, refrescando-se. Em seguida chama Allanis e seguem ao encontro com Zabian, deixando Gobash terminando de organizar seu acampamento.

Os dois são recebidos pelo seu anfitrião de pé, no centro da tenda. Um elfo na mesma estatura de Khandar, porém bem mais magro, corpo um pouco arqueado, bem diferente daquele que os dois haviam conhecido alguns anos antes, de corpo esguio, porém ereto e altivo.

- Sinto-me honrado em recebê-los em minha humilde tenda.

- Você também nos honra com sua hospitalidade – diz Khandar.

- É um prazer estar aqui – diz Allanis inclinando levemente a cabeça.

Khandar e Allanis são convidados a se sentarem nas almofadas sobre os couros de biserodontes estendidos no chão. Zabian vira-se para o jovem elfo ao seu lado:

- Diga a Dalou que preciso da presença dele aqui.

O jovem sai. Zabian senta-se com seus convidados e pede a outro jovem que os sirvam com algumas frutas e sucos para se refrescarem. Nenhuma bebida alcoólica. Amabilidades e elogios são jogados de parte a parte, tornando o encontro menos formal, descontraindo o ambiente. Pouco depois Dalou entra na tenda. Este se apresenta como o sacerdote mestre da aldeia. Aparentava ter a mesma idade que Zabian. O círculo das amabilidades aumenta e assim segue por mais alguns minutos. Por fim Zabian diz:

- Bem... Vamos então a um assunto mais sério. Precisamos traçar um plano de ação e agirmos em conjunto se quisermos ter sucesso na batalha. Os inimigos não são muitos, mas estão muito bem equipados e orientados. Creio também que vocês desejam saber mais sobre o que tem ocorrido. Ontem mesmo chegou o outro agrupamento que mandei inspecionar o Templo de Tonos. As informações que me trouxeram não são nada boas, como já devem imaginar. A aldeia de Tulan, que ficava próximo, fornecendo parte da guarda do Templo também foi dizimada.

- Deve ter sido um ataque surpresa. Sabe se eram muitos? – Pergunta Khandar.

- Calcularam em torno de cinqüenta entre orcs e ogros. E deram cabo de todos.

- Ogros das Terras Lamacentas?

- Esses mesmo.

- Eles sempre foram problemáticos, mas pelo que soube, ultimamente tinham dado uma trégua nas confusões e vinham se comportando sem dar muitas preocupações.

- Não são muito inteligentes mas tem uma força física considerável. Basta que alguém saiba manipulá-los pra ter aliados perigosos. E pelo visto encontraram essa pessoa.

- Creio que sabemos quem seja.

- Assim que chegou, meu filho me falou sobre ela. Não eram amigos?

- Sim, mas isso é uma longa história. O que importa é que agora estamos em lados opostos – um breve silêncio – E quanto ao daltigano? Ainda está na aldeia?

- Não. Partiu no dia seguinte.

- Não teria ele algo a ver com os ataques aos templos?

- Não creio. São mais observadores que atores principais. Em toda existência deles em Érida nunca se meteram em grandes conflitos... A não ser nos problemas internos da raça deles, como todos aqui devem saber.

- Vivem espalhados por toda Érida, mas não são dados a muitas amizades.

- Exato. É um povo muito misterioso. Dizem os estudiosos que esse povo originou-se junto com a formação das ilhas vulcânicas de Daltigard, lá pelos primórdios dos tempos, pouco depois do desaparecimento de Atorak.

- São descendentes dos antigos eridênios?

- Não, não... Alguns estudiosos afirmam serem uma criação à parte, mas a maioria dos sábios seguem a teoria de que foram criados por outros seres que não os criadores dos eridênios. Enfim... Assim como as relações entre eles, os da Ilha de Fenigard e os da Ilha de Seltigard, a existência e os objetivos deles em Érida é um grande mistério.

Allanis interrompe o diálogo:

- Bem... Voltando a Celina e os ogros, eu gostaria de saber mais sobre esses artefatos que eles tanto desejam.

- Exato, Zabian – indaga Khandar – Não sei muito sobre eles, mas eles não deveriam intensificar as aptidões dos guerreiros aumentando a vantagem que tinham?

- Sim, isso é verdade, ou pelo menos em parte, mas com o tempo longo de paz, sem alterações ou novidades, os guardas foram naturalmente relaxando e se descuidando. Cada artefato precisa ser energizado pelo sol para que possam influenciar nas aptidões dos guerreiros, sem contar que leva um certo tempo para que os guerreiros possam assimilar e usufruir toda a capacidade dessa energia recebida. Porém os guardiões dos templos nem sempre se preocupavam com isso, permitindo que tais inimigos pudessem pegá-los de surpresa e assim terem sucesso. Quem poderá discorrer melhor sobre esse assunto é Dalou.

Todos voltam o olhar pra Dalou, que toma a palavra para si.

- Grande parte do que se ouve por aí tem fundamentos de verdade, porém sem o conhecimento de como funcionam as peças juntas e como isso pode influenciar os que querem se beneficiar dela é um segredo guardado por poucos. Pra entender bem o que são, faz-se necessário entender sua origem – ele olha pra cada um verificando se conseguir prender a atenção de todos – Certamente vocês já ouviram sobre os Criadores.

- Essa parte – diz Allanis interrompendo, mas se mostrando muito interessada no relato - já ouvi aqui mesmo na aldeia da outra vez que estive aqui. Formavam um conselho de sete deuses, sendo presidido por Centurius, os quais estão representados na praça à frente desta tenda.

- Esses mesmo. Mas não eram sete... E sim oito deuses – Dalou delicia-se com o aumento visível da curiosidade dos visitantes – O oitavo deus era Atorak, Deus do Vigor do Combatente.

- Já ouvi alguma coisa sobre esse deus. O deus banido.

- Isso mesmo. Um deus ambicioso e rebelde. Segundo os antigos, Atorak apossara-se de um cristal proibido, com intenção de tornar-se mais forte e tomar pra si o comando do Conselho dos Deuses e, conseqüentemente, tiranizar a todos exigindo devoção total e serviência de todas as criaturas, entre elas, a maior criação de todas, os Eridênios, dos quais se originaram todas as outras classes humanóides: homens, elfos, ogros, côrnios...

- Então todos temos um ancestral comum – intervém Allanis.

- Sim... À exceção dos daltiganos, como Zabian bem lembrou há pouco. Após o banimento de Atorak, os antigos eridênios sentiram-se abandonados pelos deuses, ficando sem tutela ou um poder central que lhes conduzisse e acabaram entrando em conflitos entre si, separando-se em grupos, dos quais originaram-se os humanóides conhecidos de hoje.

- Mas porque os outros deuses abandonaram os eridênios?

- Atorak não poderia conseguir o que queria sem a cooperação de outros seres. Nenhum outro deus se atreveria voltar-se contra o comando de Centurius... Assim não foi difícil encontrar entre as criaturas quem tivesse ambição desmedida e que compartilhasse com as ideias dele, traindo assim seus criadores em troca de regalias num provável novo regime. O plano de Atorak fora descoberto a tempo de evitar o pior e os deuses sentiram-se traídos por todos; inclusive por todas as criaturas. O conselho presidido por Centurios condena Atorak e subtrai a maioria de seus poderes, enfraquecendo-o e o condenando a viver eternamente em Érida e em seguida o conselho abandona esse mundo à sua própria sorte.

- Caramba! Então Atorak atingiu seu intento afinal! – diz Allanis.

- Não exatamente. Embora o conselho imaginasse deixá-lo equiparável às outras criaturas, ele ainda mantinha a posse do cristal proibido e alguns elementos além, é claro, do conhecimento de como manuseá-los.

- Estou começando a entender.

- Com seu conhecimento ele conseguiu juntar o metal raro nerutano, o suficiente pra criar todos os artefatos. Num primeiro momento revestiu o cristal roubado com uma camada de nerutano, numa espessura suficiente pra inscrever, em alto relevo, comandos de controle sobre ele. Tinha uma forma piramidal. Curiosamente tem mais força quando colocado na posição invertida, ou seja, com seu ápice pra baixo. Desta forma Atorak conseguiu recuperar uma pequena parte de seus poderes. E como precisava manter a pirâmide na forma invertida, cria outros dois artefatos, de forma física semelhantes entre si, que quando juntas, formam um pequeno globo, tendo na parte inferior, inscrições em alto relevo e, no centro deles o espaço exato para o encaixe da terceira peça, a pirâmide invertida. E para servir de apoio do globo e também contato e conversão da energia de alimentação, foi criado uma base na qual encaixa-se com perfeição o globo, mantendo-o firme.

- Feitas do mesmo metal?

- Sim. A base feita de puro nerutano. Uma das partes do globo, Atorak revestiu o que sobrou da essência criadora dos corpos físicos da natureza, criando o artefato conhecido por Força de Tonos. Na outra metade do globo ele revestiu a essência criadora da vida, criando o artefato conhecido como Proteção de Mentos, sendo este, de forma individual, o mais poderoso deles. Essas peças, revestindo a pirâmide, conhecida como Coração de Destros, sobre a base chamada Tábua Eterna, forma o artefato conhecido por todos os estudiosos como...

- Alma de Atorak – antecipa-se Khandar.

- Exato. Recebeu esse nome porque logo após sua criação, Atorak transferiu parte de sua essência vital para o conjunto.

- É daí que vem todo o poder que ele emana atualmente?

- Humm... De certa forma ele consegue armazenar sua essência, mas não consegue produzir energia. Tudo que ele consegue emanar é energia convertida da ação do nosso sol. Segundo a história, como Atorak transferira parte da essência ao conjunto, ele próprio conseguia transferir sua energia corpórea ao artefato e recebê-la de volta várias vezes mais potente, reavivando assim alguns de seus antigos poderes, e isso, sem que essa energia fosse direcionado a outras pessoas; de certa forma ele tinha controle total sobre ela.

- Então Atorak conseguiu assim dominar os antigos eridênios.

- Por um certo tempo sim. Mas sua ambição e pulso firme com que comandava começou afetar também seus antigos colaboradores.

- ... E então foi a vez dele ser traído.

- Muito bem. Conseguiram separar as peças que compunham o Alma de Atorak, diminuindo a força do suserano, ficando cada grupo com uma das peças. Essas peças, separadamente, conseguiam energizar-se pela luz do nosso sol e, sem o controle de Atorak, serem direcionadas aos guerreiros próximos, cerca de dez metros. Essa ação, pelo que podemos ver em nossas guardas atuais dos Templos, longe do artefato, dura apenas alguns minutos, sendo que a energia armazenada pelo artefato em si dura mais de vinte e quatro horas.

- E todas as peças tem o mesmo poder separadamente?

- De formas diferentes, com a mesma capacidade. Porém, quando juntas, o efeito que elas causam dobra de capacidade – Dalou percorre o olhar entre todos e conclui sobre o antigo deus – E dessa forma os antigos colaboradores eridênios conseguiram enfraquecer Atorak, que mais uma vez surpreende a todos. Ele consegue uma brecha numa fissura temporal, escapando pras Ilhas Ocaso, onde consegue extrair energia suficiente diretamente da natureza, sentindo-se forte e recuperando seus poderes para assim reinar com mãos de ferro os seres locais.

- Um relato interessante!

- Por isso é importante que as peças sejam recuperadas o mais rápido possível. Tanto poder assim, em mãos erradas, poderá ser o fim de uma era de engrandecimento e o início do caos.

- Verdade – diz Allanis - Qualquer pessoa que adquira um pouco mais de poder já se torna um perigo, imagine alguém que já tem essa inclinação e intenção... Será um caos.

- Mas... – diz Khandar – Pelo que você disse no início, isso pode ser apenas uma lenda a cerca deste artefato, ou seja, ele pode não funcionar como esperado.

- Sim. O que disse até agora é apenas o conhecimento passado por gerações e gerações de guardiões. Desde a separação das peças, o Alma de Atorak não foi montado novamente. O que disse até agora já era e conhecimento de todos na época, e hoje considerado apenas uma lenda. Mas há sim algo mais que apenas os conselhos de cada tribo responsáveis pela guarda das peças têm conhecimento. A forma de ativar o Artefato de forma plena e prolongar o tempo de ação de seus efeitos.

Dalou dispensa os serviçais elfos que estavam por ali, ficando apenas ele, Zabian, Khandar e Allanis. Em seguida aproxima-se dos visitantes e balbucia algumas palavras. Depois volta a falar em voz alta.

- ... E isso é segredo que deve ser compartilhado com poucos. Seu pai tinha esse conhecimento e creio que pelos acontecimentos não houve tempo de lhe por a par de tudo.

- Caramba! Então sem isso, o Alma de Athorak não terá grande valia pra eles. A vantagem que pensam ter não será tão grande assim.

- Sim... Mas isso se entre eles não houver quem lhes possa dar essa informação – faz uma pequena pausa – Nunca se sabe!

- Mas... – diz Khandar – Ainda assim, pelas informações que temos até agora ainda lhes falta uma peça pra completar o artefato.

- Pra nossa sorte, tudo indica que sim. E isso se conseguirmos alcançar o Templo de Mentos antes deles.

- Precisamos então traçar um plano de ação – diz Zabian – A região que antecede o Altiplano Morto é um labirinto de pequenos canyons, fácil de se perder por ali.

- Não podemos contornar?

- Poderíamos, mas isso atrasaria a jornada em três dias. E não temos esse tempo.

- É um lugar propício a emboscadas...

- Mas temos que arriscar.

Por mais meia hora, discutem a melhor forma de agir. Zabian conhecia bem a região mas não tinha condições de se engajar na ação; Enviaria seu filho Sarpin e também Dalou que não combateria mas poderia ajudar com seu conhecimento. Definido todo plano, decidem todos irem descansar. Sabiam que o caminho era longo e o dia seguinte seria exaustivo. Sairiam logo depois do amanhecer.

Um pouco mais tarde, bem mais ao norte, nas Terras Escuras, pouco afastado da entrada norte do desfiladeiro que dá acesso ao vale através das montanhas, Celina estuda as peças que tem em mãos. Tenta montá-las mesmo faltando uma das peças. Obhar, líder dos rebeldes das Terras Escuras aproxima-se:

- E então Celina? Conseguiu decifrar o enigma de funcionamento desse ídolo?

- Não é um simples ídolo, Obhar. E sim, consegui montar com o que temos aqui.

- Funciona?

- Ainda não. Parece que funciona apenas com todas as peças juntas. A ligação entre eles é feita através da tábua na base, de forma perfeita.

- Você havia dito que juntas, os poderes se ampliariam mas até agora nada mudou.

- Como disse: Falta uma peça. Deve ser isso.

- Deve?

- Sim. Os pergaminhos dizem que isso acontecerá quando todas as peças estiverem juntas, e todo aquele que honrar o Alma de Atorak poderá sentir sua vibração e poder.

- Humm... De perto dá pra sentir alguma coisa, mas não é permanente. Espero que esteja certa e essa não seja apenas mais uma lenda tola.

- Dará tudo certo. Não fosse verdade os clãs de guardiões não se dariam a tanto trabalho pra proteger as peças, fazendo tanto segredo. Acredite, a pessoa de quem peguei o pergaminho tinha muito conhecimento sobre o assunto.

- Um daltigano? Eu não confiaria tanto neles assim. Pelo menos se você tivesse feito dele prisioneiro, assim poderíamos interrogá-lo e arrancar bem mais informações.

- A morte dele foi necessária. Ele se recusara a me presentear com os pergaminhos – diz Celina, sorrindo.

Obhar não acha graça. Estava preocupado em planejar a ação para os dias seguintes. Em seguida diz:

- Certo, mas agora, vamos descansar. Amanhã teremos um longo dia de marcha. Não podemos perder muito tempo. Logo logo se darão conta do que está acontecendo e poderemos ter dificuldade em tomar o Altiplano Morto.

- Vou daqui a pouco. Vou apenas fazer mais alguns testes aqui.

Khandar acorda no dia seguinte quando o sol já havia despontado no horizonte. Ao sair de sua tenda da de cara com Gobash.

- Desculpe senhor. Estava indo lhe acordar. Houve um atraso na partida devido a um problema com uma das carroças de intendência. Com a previsão de um dia exaustivo, pensei que o senhor gostaria de repousar um pouco mais, Estaremos prontos pra partida em uma hora.

Khandar resmunda algo que nem mesmo ele soube o que significava. Acena pra que Gobash siga com suas providências. Khandar olha em volta e desce para o acampamento de Zabian. Lá encontra Allanis concentrada na troca de informações de combate com arco e flecha. Na verdade ela mais aprendia do que ensinava. Assim que vê o rei ela vem até ele.

- Bom dia, majestade! Dormiu bem?

- Humm... Não muito bem. Sonhei com uma grande serpente nos acuando, e empurrando pra um precipício; era lutar ou cair.

- E lutamos?

- Era a única saída... – um breve silêncio – Não tenho bons pressentimentos para os próximos dias.

- Concordo que não será nada fácil, mas sairemos vitoriosos. Foi apenas um sonho.

- Tomara.

- Talvez devêssemos buscar reforços em Asran.

- O que temos é suficiente... Zabian nos deu um reforço de trinta arqueiros, Sarpin que conhece bem a região nos acompanhará, estaremos bem. Além disso...

Ela faz uma pausa, uma expressão de suspense.

- Além disso...? – pergunta ele

- Além disso, enviei um mensageiro em um grifo, logo cedo, a um certo lugar. Creio que teremos a valorosa companhia de um amigo. Espero que chegue a tempo.

- Lottar!? – ela acena positivamente com a cabeça – Você sabia onde ele estava esse tempo todo?

- Ele me pediu segredo. Sinto muito.

- Ele ainda deve ter os Braceletes de Kallehir. Pode sim nos ser muito útil.

- E será. Principalmente com a encomenda que lhe fiz.

Animado com a notícia, segue nos preparativos para a marcha até o Altiplano Morto.

Ao entardecer daquele dia um grifo alcança a ilha vulcânica de Maltigard, pousando à frente da principal caverna. O viajante desce da montaria e observa o terreno, buscando alguma pista ou indício de estar no local certo. Houve uma voz, vinda do interior da caverna.

- O que faz aqui?

O viajante vira-se e vê diante da entrada, uma pessoa trajando uma bata elegantemente bem desenhada e costurada.

- Trago mensagem urgente pra você, Lottar.

- Me conhece?

- Sim. Qualquer homem em Asran conhece. É considerado um bem feitor em nosso reino. Venho por ordem de Allanis.

- Porque não disse logo. Entre.

- Apenas o tempo de lhe entregar a mensagem. Devo retornar logo.

Lottar lê a mensagem escrita por Allanis.

- Pois peço que espere um pouco. Retornaremos juntos. Preciso apenas de um tempo pra colher alguns ingredientes e me preparar pra partida. Aproveite pra descansar um pouco. Partiremos amanhã bem cedo.

Enquanto o viajante alimenta o grifo, Lottar volta a entrar na caverna, indo até o fundo dela, seguindo por um labirinto, sem se perder. Ao final de um corredor alcança uma rampa de descida, circular. Ele desce até alcançar um grande salão, onde ao fundo, podia se ver pequenas poças de rocha derretida, borbulhando. Próximo a cada uma delas, cresciam estranhas plantas, de cor negra, e de cada uma emergia uma flor, de um vermelho intenso, possuindo três pétalas inclinadas pra baixo a partir de seu meio, e do centro da flor emergia também três hastes roxas. Lottar começou a colher essas flores.

Dois batedores que Khandar havia enviado à frente pousam assim que deixam a floresta. À frente apenas vegetação rasteira, limitada pouco à frente por desertos e rochas dispersas. Mais à frente formações rochosas, compactas elevam-se, formando um paredão, sendo plana no seu cume. Na base desse paredão, um agrupamento de seis ogros guardavam uma das passagens, por entre as rochas, que dava acesso ao topo. Um dos batedores diz:

- Melhor não avançarmos mais. Poderiam notar os grifos, se tentarmos observar como estão no alto da mesa. Se tentarmos dar a volta, levaria muito tempo.

- Poderíamos eliminar todos ali. São poucos.

- Mas não sabemos quantos mais há por ali. E Khandar foi bem claro quando disse pra não tomarmos nenhuma iniciativa que denotasse nossa presença.

- Acha que já atacaram o planalto?

- Difícil dizer. Não podemos avançar mais pra termos certeza. Se já atacaram não poderíamos fazer nada, e se não daqui a pouco vai estar tudo escuro. Estariam em desvantagem. Se há um grupo de vigia por essa passagem, deve haver outros guardando cada trilha que dá acesso ao topo, e o grosso dos combatentes deles devem estar acampados ao norte da mesa. Fique aqui e apenas observe. Voltarei até Khandar pra lhe informar a situação aqui.

No alto da mesa, Altiplano Morto, região árida, apenas rochas, o acampamento dos elfos, e um pequeno templo erguido, no centro dele.

- Diabos, Celina! Não está aqui – diz Obhar – Devem terem se antecipado e levado o artefato daqui.

- Não creio. Talvez esteja em outro lugar.

- Mas não há nada aqui.

Celina vai até o altar vazio, no centro do templo. Circunda-o, observando cada detalhe. Na parte superior do altar uma rocha plana, quadrada, com cerca de 60 cm em cada lado. Em seguida a força, e esta cede, revelando um compartimento logo abaixo, na qual encontra um alforge de couro de biserodonte com algo pesado dentro. Ela o tira e mostra a Obhar, que diz:

- Não acredito que encontrou!

Celina o entrega a ele. Após abrir ele retira de dentro uma semiesfera. Parecia oca. Algumas inscrições abaixo dela.

- O Proteção de Mentos! – exclama ele.

- Como puderam ser tão tolos? Acho que com o tempo relaxaram na guarda.

- Sim – diz Obhar – Foi fácil demais. Mas não sinto nenhuma vibração emergindo dela. Será que está com defeito?

- Não seja incrédulo, Obhar. Pelo jeito, o artefato não vê a luz do sol desde que foi encerrado aí. Precisa se recarregar.

- Já está escurecendo. Teremos então que esperar até amanhã.

- Talvez sim.

- Talvez?

- Ou talvez a energia das outras peças possam energizá-lo, compartilhando as cargas. Farei o teste assim que as outras peças chegarem aqui.

- Já ordenei que trouxessem as outras peças aqui pra cima. Em poucos minutos estarão aqui. E metade dos homens que sobraram e todos os ogros, além das sentinelas, mandei que vigiassem a entrada lá embaixo.

- Acha mesmo necessário?

- Precaução nunca é demais. E depois, pelo menos na fase de teste, não quero muita gente por perto.

- E os ogros? Pretende mesmo dispensá-los?

- Pensando bem, ainda poderão nos ser muito úteis. Seria uma pena ter que eliminá-los. E com o artefato em mãos, poderemos dominá-los facilmente.

- Em contrapartida, estarão mais fortes.

- Humm... Por enquanto é melhor corrermos o risco.

Um orc entra no templo informando sobre a chegada do baú, no qual estavam os outros artefatos.

Eles saem, trazendo consigo a peça que faltava.

Lá fora, ainda podia-se ver os vestígios da batalha recente. Corpos de elfos, orcs e ogros ainda estavam por ali. Apesar de estarem em menor número, os elfos resistiram bem enquanto puderam, causando grandes baixas aos combatentes de Obhar. Perder mais da metade deles foi um preço alto, mas apesar disso ele estava satisfeito com o resultado.

- Tivemos muitas perdas – diz Celina observando o cenário sangrento à sua frente – Restaram-nos menos de duzentos homens.

- Sim. Mas valeu à pena. Conseguimos o que queríamos. Poderemos arrebanhar mais simpatizantes com a nossa causa e retomarmos as Terras Escuras, que por sinal é um direito meu.

- Não se esqueça de nosso acordo.

- Não se preocupe. Você se mostrou valorosa, terá tudo que me pediu. Agora, vamos ver se isso funciona mesmo.

Eles entram numa tenda próxima. A Tábua Eterna é colocada sobre um tapete de biserodonte, ao lado das outras peças. Com paciência, Celina começa a montagem do conjunto. Pôde sentir a viração de cada peça colocada sobre a Tábua, menos do Proteção de Mentos. Em poucos minutos ela apresenta a Obhar o Alma de Atorak.

- Não está funcionando – diz Celina.

- Parecem ter cores diferentes. As outras peças tem uma leve fluorescência.

- Talvez porque ainda não esteja energizado. Não está recebendo energia das outras peças como pensei que faria.

- Tem certeza que montou corretamente?

- Sim. As inscrições da base encaixam-se perfeitamente.

- Amanhã, quando o sol estiver alto, tiraremos essa dúvida. Melhor descansarmos um pouco.

- Vou estudar mais um pouco. Daqui a pouco também vou procurar dormir um pouco.

Ao sul do Altiplano morto, Khandar alcança o batedor que ficara de vigia. Este não tem nenhuma novidade a relatar.

- Já está bem escuro – diz Allanis – Apesar do clarão da lua, creio que poderemos enviar alguém em um grifo, voando alto, dificilmente poderá ser visto. Assim poderemos planejar melhor como iremos avançar.

O batedor se prontifica e alça vôo em seu grifo, retornando cerca de vinte minutos depois.

- Chegamos tarde. A aldeia foi tomada pelos rebeldes. Há cerca de cinqüenta orcs por lá e outros cem ogros na base norte da mesa, logo na entrada da trilha de acesso.

- Ao que parece Obhar não confia muito nos ogros. Talvez pretenda eliminá-los – diz Khandar.

- É bem o estilo dele. Mas não fará isso, por enquanto. Ainda precisa deles, caso alguma coisa de errado pra ele. O que representa mais trabalho pra nós.

- De qualquer forma, estão divididos, o que facilita um pouco as coisas.

- O que faremos?

- Melhor atacarmos agora. Estamos cansados, mas eles também. Se conseguiram por as mãos no Proteção de Mentos, com o nascer do sol se tornarão mais fortes ainda – virando–se pra Dalou – O que você acha?

- Se tiverem conseguido todas as peças, amanhã poderá ser mais difícil, com o nascer do sol, as peças poderão fazer deles mais fortes.

- Isso se souberem como tirar proveito dele – diz Allanis.

Khandar pensa um pouco.

- Como disse Dalou: Melhor não arriscar. Vamos descansar por meia hora e avançaremos.

Quarenta minutos depois um grupo de dez arqueiros elfos, rastejam silenciosamente à frente, rumo aos seis ogros de sentinelas à entrada da trilha sul. A uma distância segura, armam os arcos com suas flechas e disparam. Todos ogros tomam ao mesmo tempo. Contornam o acampamento, evitando a luz da fogueira feita pelos sentinelas. À entrada da trilha aguardam a chegada da tropa de Khandar. Pouco depois:

- Tem certeza que poderá acertar o caminho, Sarpin? – pergunta Allanis – Sei que logo à frente forma-se um labirinto de corredores, por onde é fácil se perder.

- Sim. Estive aqui por diversas vezes. Algumas trilhas levam de volta pra fora da mesa, em outro lugar, mas mesmo no escuro poderei guiá-los na trilha certa.

- Vamos então – diz Khandar.

Em silêncio avançam pela trilha, subindo. Vez ou outra, a trilha se divide em várias e sempre Sarpin decide por uma, rapidamente.

Uma hora depois alcançam o topo. Aguardam um pouco observando o terreno à sua frente. Estavam todos dormindo, exceto por dois sentinelas diante de uma fogueira, no centro da aldeia. Khandar reúne sua tropa e procuram avançar em silêncio. Apenas não contavam com um sentinela de Ohar, a sudoeste da mesa, que até aquele momento estava um pouco sonolento, mas despertando totalmente quando Allanis pisa em uma caneca e esta emite o som de metal amassando. O sentinela logo entende o que está acontecendo e desperta, levando à boca uma trombeta feita de chifre de biserodonte.

Ao ouvir o alarme, instintivamente, Sarpin arma seu arco e com rapidez e precisão acerta o peito do sentinela.

- Como pôde vê-lo neste escuro? – pergunta Allanis.

- Apenas uma silhueta. Mas atirei de onde vinha o som.

- Adeus surpresa – diz Khandar – Avancem e não deixem ninguém fugir. Temos que eliminá-los antes que os ogros da base cheguem aqui.

Celina, que ainda estudava o artefato, é a primeira a aparecer e logo percebe que cometeram um erro ao ficarem ali e não terem partido logo pras Terras Escuras. Obhar aparece logo em seguida, e grita ordens aos orcs que também procuravam se armar e ficarem prontos pra combate. Ele se vira pra Celina e diz:

- Que diabos está acontecendo?

- Estamos sendo atacados por Khandar e um bando de elfos. Vamos resistir até a chegada de Gorpo com seus ogros.

- São muitos. Talvez seja melhor deixarmos todos e fugirmos logo daqui.

- E o Alma de Atorak?

- Muito pesado pra carregarmos. Traga alguma peça. Se não o temos, eles também não terão.

Elfos, humanos de um lado e orcs de outro. Muitos tombam no primeiro instante, de lado a lado. Celina percebe serem alvos de alguns disparos e cria um campo de força, protegendo a si e a Obhar de morte certa.

- Pegue você a peça, Obhar.

Ela resiste aos disparos contra ela enquanto ele entra na tenda e pega uma das peças do artefado.

- Não pode proteger os meus orcs com esse campo de força?

- São muitos. Ao fazer isso nos deixarei a descoberto. Sinto muito por eles. Pra onde vamos?

- Pedi pra deixarem dois grifos ao lado do templo. Vamos até os ogros.

Eles afastam-se da tenda. Celina ainda pode ver Khandar e Allanis avançando, derrubando um a um dos orcs por onde passavam. Ela desativa seu campo de força e decide atacar Allanis com um golpe de magia. Neste momento ouve-se um grito estridente. Allanis reconhece aquele grito. Olha pra cima e vê Gaspia sendo montada por Lottar, aproximando-se em alta velocidade. Celina também o percebe, podendo ver que ainda trazia consigo os braceletes de Kallehir, brilhando em seus pulsos, pronto para um disparo de orbes de fogo. Ela desiste do ataque a Allanis, mas é tarde pra refazer o campo de proteção. Celina é atingida e por alguns segundos é aturdida, ficando sem reação. Tempo suficiente pra Lottar desmontar de Gaspia e se juntar aos outros, avançando na direção dela. Obhar que já voltara e estava a seu lado, fazendo com que ela se refizesse do golpe recebido. Lottar percebe que Obhar carrega um artefato consigo, e que haviam optado pela fuga com o objeto, desistindo da luta. Lottar ataca novamente concentrando a força dos braceletes, amplificados pelo Olho de Caspiah, o colar que também trazia consigo. Um orbe fumegante, com o dobro do poder de destruição é lançado na direção do líder dos rebeldes. Obhar reage instintivamente, trazendo à frente dele, o artefato que pegara dentro da tenda, sendo este atingido pela magia de Lottar. O objeto derrete na mão dele, queimando também sua mão, inutilizando-a.

- Fui atingido, Celina. Minha mão derreteu junto com o artefato. Vamos sair logo daqui.

- Por aqui... vamos! – Diz Celina enquanto ergue novo campo protetor.

Lottar é obrigado a defender-se do ataque de alguns orcs, permitindo que Celina e Obhar alcançassem os grifos e alçassem vôo, conseguindo escapar.

Não demora muito e os guerreiros sob o comando de Khandar conseguem dominar o restante dos orcs. Muitos foram mortos em combate, restando apenas uma dúzia deles que preferiram se render.

- Ainda não acabou – diz Khandar – Provavelmente ainda teremos um ataque dos ogros que estavam acampados lá embaixo na entrada norte do altiplano. Devemos nos preparar pro ataque.

Neste momento, Lottar e Allanis saem de uma cabana próxima, trazendo as peças do Alma de Atorak. Khandar examina rapidamente e diz:

- Mas está faltando uma peça. Conseguiram levar?

- Não – diz Lottar apontando pra um bloco de metal derretido, caído no chão.

- E o que é isso aqui? – diz apontando com a ponta da espada.

- Creio que sejam os dedos dele. Ao que parece, Obhar terá que aprender a comer com a mão esquerda.

- Chegamos a tempo que tomassem pra si o Alma de Atorak, mas não conseguimos recuperar todas as peças.

- Melhor assim – Diz Dalou – Melhor assim... Agora é melhor se prepararem pra um provável ataque dos ogros.

- Eu trouxe isso – diz Lottar estendendo a Dalou, um alforge com as flores vermelhas.

Dalou o abre.

- Talvez eu possa fazer alguma coisa.

- Mas o Alma de Atorak foi danificado...

- Talvez não funcione completamente, mas ainda assim, poderá lhes dar alguma vantagem. Tragam-me uma vasilha com água pura daquele poço.

Pouco depois, com o artefato é colocado sobre uma terrina de barro, contendo a água do poço e as flores trazidas por Lottar. Após alguns segundos, a água começa a brilhar e ferver, extraindo a essência da flor e sendo energizada pelo Alma de Atorak. Essa água é retirada e distribuída entre os combatentes em condições de lutar. Ao beber, Khandar sente o calor percorrendo em suas veias, em ritmo acelerado, sua força e agilidade aumentando, os olhos tornam-se vermelhos e brilhantes. O mesmo acontece com todos os outros.

Menos de cinco minutos depois recebem o ataque maciço dos cem ogros restantes. Apesar da força deles, não foram páreos para os combatentes de Khandar. Os que não tombaram pelas flechas dos elfos e Allanis, foram atingidos pela espada de Khandar ou pelos orbes de fogo de Lottar. A luta não demora mais do que quinze minutos.

Nenhum soldado de Khandar morto. Apenas ogros.

Ao amanhecer o efeito da poção já havia passado. Dalou, Khandar, Allanis, Lottar e Sarpin estavam agora dentro do templo.

- Pena que agora esteja faltando uma das peças – diz Allanis dirigindo-se a Khandar

- Mas ainda temos as outras. E Espero que nunca mais precisemos juntá-las. Melhor que tudo continue como antes. Que cada peça retorne à proteção de cada grupo.

- Eu ficarei aqui – diz Sarpin – Dalou me ajudará a reconstruir a aldeia. Talvez faça uma réplica do Proteção de Mentos, pra que esse dia nunca seja esquecido.

- Como queiram. Quanto a nós, partiremos imediatamente. Passaremos pela aldeia de Zabian e deixaremos duas peças que estavam sob a proteção dos elfos. Eu continuarei a proteger a Tábua Eterna.

Vinte minutos depois Dalou e Sarpin vêem o agrupamento sumirem na trilha que desce do Altiplano Morto, em direção à Floresta de Séfian, floresta dos elfos. Entram novamente no templo. Dalou pede que Sarpin retire as lanças de duas estátuas figurando guardas, ao fundo. Estas são colocadas em dois orifícios nas laterais do altar, agora vazio. Ao o barulho do mecanismo destravando a base do altar, este é girando sobre um dos cantos, revelando um poço sobre ele. Sarpin amarra uma corda comprida, acende uma tocha e desce por ela alcançando o fundo a 10 metros de altura, no que parece ser uma pequena sala. A um lado dela, uma réplica do altar lá de cima. Sobre ele um objeto de forma semiesfera, oca, expelindo uma leve luminescência verde. “Deve ter sentido a proximidade das outras peças”- pensa. Aproxima-se, leva a mão ao pé do altar e pega uma das muitas réplicas, feitas de um metal parecido com o de nerutano. Dá uma última olhada na peça principal e apaga a tocha. “Continua a brilhar”. Sobe novamente, fecha a passagem, devolve a lanças às estátuas e coloca a nova réplica sobre o altar. Saem e aguardam pela chegada de outros elfos para estabelecerem uma nova aldeia no local.