Carnaval em Copenhague
O ano da graça foi 79. E o anfitrião, um certo Professor Santiago, ameaçava incendiar a ao mesmo tempo conservadora e dissoluta capital dos daneses. Vinha até aprendendo a curiosa língua local, falada e felada por cinco milhões e meio de cidadãos.
O inverno que se atravessava naquele finzinho de fevereiro era dos mais rigorosos e vigorosos, e estava por ser dos mais gozosos, da história do país. Neve fora, nada. Nada enregelada. O que dava gosto era parar nas estações ferroviárias da capital e, de pé mesmo, enfiar aquela salsichinha quente na boca, não sem antes breá-la com bastante mostarda ou ketchup, rebatendo tudo com uma golada de cerveja, Carlsberg, ou Tuborg, locais. Depois, correr para se acomodar no trem.
Visitante ilustre do Professor era o então esbelto Rey Rohr, contumaz violeiro, e filosófico por inteiro, ainda em plena flor. Nossa coincidência lá - graças à generosidade da acolhida de Mestre Santiago - deveu-se a uma passagem minha rumo a Jacarta, onde assumiria meu primeiro posto no exterior.
E o carnaval aconteceu, atendendo reclamos da pequena, mas ativa comunidade de brazucas e de estrangeiros que, por fixação ou curiosidade queriam na momesca farra tirar a forra. E era uma noitada só. Mas que valeu e resvalou pelas quatro usuais das terras tropicais. Ausências lamentadas foram as de Clóvis Bornay e de Lílian Ramos.
O Professor, escrivão contumaz do Recanto das Letras, e zeloso mantenedor de comprometedores instantâneos, há de ter algum registro fotográfico remanescente daquele evento. Numa delação premiada poderia, eventualmente fazer sombra ao afiado Machado, figura conhecida do (obs)cenário políticio apocalítico nacional.
Pena, contudo, e que tanto pelos atos e fatos, como pelo rito, tá tudo prescrito. E tenho dito.