O GUARDIÃO
Em latitudes longínquas, um homem vivia nos arredores de uma montanha sagrada. A montanha guardava um segredo que tal homem desconhecia. Ao seu redor ele vivia de forma inocente e inquieta. Enquanto a maior parte dos habitantes do lugar leveva uma vida rotineira e estável, esse homem estava sempre inventando, criando, modificando o lugar em que habitava. Um dos seus maiores problemas era o jardim. Por vezes ele acreditava que preferia vê-lo cheio de rosas. Dedicava-se então a cultivá-las, estudá-las, introduzir novas variedades em seus amplos canteiros, experimentar a poda com o corte no terceiro ou no quinto rebento, mas quando finalmente via tudo belo, florido e variado, passava a crer que preferia as orquídeas.
Então, reativava o gazebo, separava os vasos, preenchia-os com o material para o plantio, providenciava as estacas, selecionava as mudas, tomava as antigas abandonadas, separava-as em trios para replantar, incinerava as folhas doentes, recolhia pedras, paus podres e cascas de árvores, preparava etiquetas de identificação, cuidava da irrigação. E, na época apropriada, floresciam as orquídeas, únicas, belas, raras, delicadas, simples mesmo, às vezes. Planejava uma reunão, convidava os amigos para um domingo em que todos passavam o dia falando sobre elas. A partir de então, seu interesse diminuía, esquecia o quiosque, olhava para os contornos do jardim e começava a interessar-se por helicônias. Preparava o solo, iniciava o cultivo, aprendia a colocar os rizomas na terra e a esperar, impacientemente que crescessem e ganhassem força , até que finalmente florescessem exuberantes, chamativas, exóticas, caracteristicamente tropicais, atraindo pássaros e insetos em profusão. Aprendia como colher e fazer belos arranjos, trazê-las para perto de si, para dentro de casa. Mas logo descobria que aquilo dava muito trabalho porque era preciso eliminar cada talo que já florescera, separar as touceiras, replantar e esperar mais um ano por novas flores.
Considerava, então, que em suas janelas faltavam vasos e passava a cultivar gerânios, no início parecendo tarefa mais simples, até perceber o desafio que é tê-los sempre floridos. Quando finalmente conseguia, olhava através da janela, via o jardim, notava que ali faltava o verde e resolvia então plantar pinheiros ... mudando sempre, em sua busca sem fim.
Tivesse esse homem mantido por mais tempo sua atenção em seus projetos e teria podido vê-los madurar, teria podido preencher sua alma com sentimentos de satisfação, realização, plenitude; teria aprendido a conhecer e utilizar com equilíbrio o segredo que a montanha guardava e lhe transmitia. Apreciaria melhor as flores e a paisagem do seu jardim, deixaria de perder-se na sensação de vazio que sempre o acompanhava.
Em latitudes longínquas, um homem vivia nos arredores de uma montanha sagrada. A montanha guardava um segredo que tal homem desconhecia. Ao seu redor ele vivia de forma inocente e inquieta. Enquanto a maior parte dos habitantes do lugar leveva uma vida rotineira e estável, esse homem estava sempre inventando, criando, modificando o lugar em que habitava. Um dos seus maiores problemas era o jardim. Por vezes ele acreditava que preferia vê-lo cheio de rosas. Dedicava-se então a cultivá-las, estudá-las, introduzir novas variedades em seus amplos canteiros, experimentar a poda com o corte no terceiro ou no quinto rebento, mas quando finalmente via tudo belo, florido e variado, passava a crer que preferia as orquídeas.
Então, reativava o gazebo, separava os vasos, preenchia-os com o material para o plantio, providenciava as estacas, selecionava as mudas, tomava as antigas abandonadas, separava-as em trios para replantar, incinerava as folhas doentes, recolhia pedras, paus podres e cascas de árvores, preparava etiquetas de identificação, cuidava da irrigação. E, na época apropriada, floresciam as orquídeas, únicas, belas, raras, delicadas, simples mesmo, às vezes. Planejava uma reunão, convidava os amigos para um domingo em que todos passavam o dia falando sobre elas. A partir de então, seu interesse diminuía, esquecia o quiosque, olhava para os contornos do jardim e começava a interessar-se por helicônias. Preparava o solo, iniciava o cultivo, aprendia a colocar os rizomas na terra e a esperar, impacientemente que crescessem e ganhassem força , até que finalmente florescessem exuberantes, chamativas, exóticas, caracteristicamente tropicais, atraindo pássaros e insetos em profusão. Aprendia como colher e fazer belos arranjos, trazê-las para perto de si, para dentro de casa. Mas logo descobria que aquilo dava muito trabalho porque era preciso eliminar cada talo que já florescera, separar as touceiras, replantar e esperar mais um ano por novas flores.
Considerava, então, que em suas janelas faltavam vasos e passava a cultivar gerânios, no início parecendo tarefa mais simples, até perceber o desafio que é tê-los sempre floridos. Quando finalmente conseguia, olhava através da janela, via o jardim, notava que ali faltava o verde e resolvia então plantar pinheiros ... mudando sempre, em sua busca sem fim.
Tivesse esse homem mantido por mais tempo sua atenção em seus projetos e teria podido vê-los madurar, teria podido preencher sua alma com sentimentos de satisfação, realização, plenitude; teria aprendido a conhecer e utilizar com equilíbrio o segredo que a montanha guardava e lhe transmitia. Apreciaria melhor as flores e a paisagem do seu jardim, deixaria de perder-se na sensação de vazio que sempre o acompanhava.