O Lindo Rêgo de Aparecida

No ano da graça de 1967, em que o único fato memorável de que agora me recordo foi a vitória do Água Verde no campeonato estadual paranaense de futebol, houve outro fato que me compraz registrar: entre os remanescentes cinco seminaristas menores, tive o inédito privilégio de freqüentar uma classe mista, em que as moçoilas preponderavam em grau, número e graça.

Essa fusão, normalmente repudiada pelo próprio reitor, um severo Monsenhor Hilton Gonçalves de Souza, deu-se forçadamente em razão das circunstâncias. E esvaziamento vertiginoso das vocações sacerdotais, e os elevados custos de manutenção, levaram o Colégio São Geraldo, que já andava mal das pernas, à quase falência. A solução de emergência encontrada, fui fundir o São Geraldo, onde só meninos estudavam, a uma outra instituição religiosa de ensino, também subordinada à Diocese de Divinópolis, o Colégio São José, onde todo o corpo discente era feminino.

Embora tão-somente cinco internos que éramos, tínhamos o reforço dos alunos externos, que mal chegavam aos dedos de uma mão. Lúlica, convém asseverar. Mas continuávamos sendo minoria absoluta, com escassa chance de ser dissoluta. A disciplina e a vigilância eram severas, se veras...

A verdade, contudo, é que os ares haviam mudado. Havia graça e um premente antegozo no ar. De lado a lado? Bem se do nosso era certeza, do delas adivinhá-lo seria uma proeza. Compartilhávamos bons e dedicados professores e havia uma nuance de rivalidade que se podia sentir a cada prova a que nos submetíamos e aos resultados que lográvamos, lado a lado.

Se no recreio, nos víamos apartados, pois as irmãs do São José, invariavelmente reuniam os meninos do monsenhor numa sala, onde nos serviam café e bolachas, deixando as meninas soltas no ensolarado pátio, na sala porém, tentávamos recuperar as distâncias marcadas por aquela clivagem.

Os avanços, entretanto, é que eram pífios, diante dos rigores da doutrina daquela época em a repressão reinava no país e nos costumes de então. Mas, invariavelmente, como era bom alimentar esperanças de uma aproximação. Afinal, éramos todos adolescentes, crentes, incandescentes...

E como foi gracioso aquele comentário de um professor de redação observar à inteligente e diligente Aparecida que o nome correto do aclamado escritor paraibano, que tão bem abordou o ciclo da cana em sua vasta obra, era José Lins do - e não Lindo - Rêgo. E eu não passava de menino sem engenho...embora com tanta arte...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 13/06/2016
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