Super Raça - Somos xamãs!

Sinopse

A diversidade de gênero em realismo mágico. E se os gays, lésbicas, transexuais, e assemelhados fosse mesmo uma Super Raça? Em tom poético escolhi cinco personagens alegóricos para lutar contra Os Cristianos, um grupo de 3 políticos religiosos que usam a manipulação mental para espalhar o ódio por aí; os Xamãs, então, se encontram com a missão de espalhar amor. Mas para isso, eles também terão de lutar contra seus próprios fantasmas do passado e do presente para construir um futuro mais feliz.

Primeiro Capítulo

Eu só sou o fôlego, não tenho a carne... apenas verbo sou. Sem classe; sem cor; sem gênero. Cem medos me rondam, porque estou prestes a ter tudo isso. Disse a Deus: me deixe ser espírito para sempre! Não quero habitar uma carne que suportará dores. Não quero ser quem não sei, quem não sou. Inevitável, encarnei.

É um menino! E eu via aqui do astral meus pais sorrindo enquanto assistiam meu corpinho aparecer num aparelho de ultrassom. Felizes! Ciências da natureza; exatas e que cuidam de humanos? Contradições! Mera anatomia. E eu ainda era só uma alma prestes ir para aquele mundo, àquele corpo. Eu pude escolher quem eu queria ser, todavia me arrepender também me era direito.

Pobre

Preto

Gordo

Gay

Mulher

Eu escolhi sofrer! Era apenas um espírito imaturo, e resolvi encarnar num corpo de menino; que até os vinte e três anos seria gordo. Eu mesmo não sentaria ao meu lado dentro dum ônibus. As pessoas têm razão em me odiar; pensei por tanto tempo. Emagreci.

As pessoas têm razão em me desprezar; pensei. E trabalhava para me sustentar e não me misturar com esses ricos, pobres de espírito. Meus pais não me queriam mais em casa. Ainda bem que sempre fui pobre, me acostumei a viver em crise. Crises de choro e crise de nervos, principalmente! Bem pior que a financeira. Bem pior que ter somente que trocar a marca do cigarro, como meu pai sempre reclamava.

Vira homem, menino! Ele dizia quando eu reclamava que os meninos da escola mexiam comigo. Então, me calei. E parei de ir à escola quando o pior aconteceu. Eu era só uma criança. Tinha medo. Maldita hora que me confessei à minha mãe. Eu amava outro rapaz. Depois da instituição escolar que me foi tirada, me foi tirada a familiar. Desajustado social! Talvez eu não soubesse de nada, como quando era apenas verbo. Depois que nasci, fui substância e essência. E julgado como substantivo e adjetivo. O verbo que sempre fui todos se esqueceram, inclusive eu.

Eu não era eu. Foi preciso coragem. Foi preciso fé; nunca fui abandonado por Deus. Isso que há em meu íntimo é uma centelha divina, é um sopro de vida. E eu sou uma alma confinada a um corpo que não é meu. Sempre me transformaram nisso. Sempre me quiseram assim. Sempre me travestiram... E não eu que comecei a me travestir. Eu sou mulher. Eu sou verbo divino como outro qualquer. Eu sou complexo de pensamentos e sentimentos e emoções; vontades e desejos e paixões; inspirações e medos e segredos; sonhos e experiências. Eu tenho um nome: meu nome é Maria! Se há tantas Marias, lhes serei alegoria, arquétipo, representação. Mulher guerreira, preta bonita, espírito encarnado em evolução. Deusa!

Lembro-me de quando parei de estudar. Chorava por horas ininterruptas. Um pobre menino se descobrindo. Nenhuma criança se descobre homem ou mulher. Eu infelizmente descobri segredos de minha alma, que ela não devia ter me contato. Em sonho eu conversei comigo mesmo: meu corpo e meu espírito. Meu espírito revelou-me: quando precisei escolher um corpo, nada sabia do mundo dos homens. Mas lute! Porque eles dizem que é o mundo de Deus, sem nada sabe-lo. Fui estuprada. E a culpa era minha, e só minha! Descobriram que eu beijei o Tiago. Ele para se desvencilhar da imagem de desviado, preferiu ser vândalo, bandido, e me armou junto de seus amigos uma cilada. Tonta, apaixonada, caí fácil. Nunca mais tive esperanças... Mas sempre jurei no espelho enquanto habitava o corpo errado, enquanto me transformava de maneiras perigosas, e agora que me encontrei mulher, me desvendei Maria... sempre jurei vingança. Guardei a cara de cada um daqueles quatro moleques, que hoje são homens em suas vidas medíocres. E eu vou destruir a vida de cada um deles. A minha história só vai começar daqui a três anos, quando eu voltar para o Brasil. E enfim, reencontrar o Tiago. Eu cansei de ser vítima. Cansei!

Estou na Itália. Sim, vim me prostituir. Mas não sou qualquer prostituta. O destino, inexplicável amigo ou inimigo me fez reencontrar três pessoas. Éramos quatro espíritos desgarrados antes de encarnar. Somos coisas do demônio, como alguns diriam. Temos poderes. Tatiana também é transexual, Marcos e Murilo são gays cis, um preto e um branco, um magro e um gordo. Nossos poderes: eu prevejo em sonhos o futuro e me comunico com outro mundo; Maria ler pensamentos e nos reúne em telepatia; Marcos é capaz de voltar ao passado e mudar a história, e Murilo pode manipular sentimentos - é o mais normal de todos, afinal todos os seres humanos conseguem fazer isso com maestria - o que há de diferente é que Murilo também altera as sensações: faz alguém pensar que algo quente é frio, e enxergar precipícios onde não existe altura. Somos xamãs! Somos a Super Raça!

Rodrigo Amoreira
Enviado por Rodrigo Amoreira em 05/06/2016
Código do texto: T5658328
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