O ANJO DA GUARDA - capítulo XVI
"- Evangeline, sempre estive ciente do meu dever de protegê-la, por isso, tudo o que eu fizer é pelo seu bem. E para não te ver mais chorar, peço que, por favor, me perdoe por isso, mas me permita me afastar e fazer algo para salvar seu pai!"
Bemasas e Malasas brindavam as espadas, foram subindo os degraus de nuvens negras da varanda, onde continuaram o duelo. Naqueles "splish's! E splash's! que faziam com as espadas, Bemasas acabou sofrendo um corte no braço esquerdo e mal sabia ele que Malasas havia trapaceado pondo um tipo de veneno que adormecia o corpo na espada que usava contra Bemasas e o anjo do bem começou a sentir os membros adormecerem e nisso, deixou a espada cair.
- Meu corpo... O que está acontecendo?
Questionava-se Bemasas, caindo ao chão. E falou Malasas:
- O que acontece é que você é um mariquinha e eu sou o mais poderoso!
Então ele levantou a espada contra Bemasas e o rosto de Evangeline paralisou, mas passou a andorinha num voo rasante sobre a cabeça de Malasas e tomou a espada.
- O quê? Bendita andorinha!
Ralhou Malasas, com seu furor. Seu servo corvo adiantou-se e barrou a andorinha, mas ela deixou propositamente a espada cair no rio que corria ali perto e exclamou Malasas:
- Não importa! De qualquer jeito, meu querido irmãozinho, você não pode fazer nada agora e eu posso!
Então Malasas tomou proveito da situação em que estava Bemasas e começou a socá-lo com toda sua fúria! E correu Evangeline para fora do palácio, a gritar e derramar lágrimas:
- Não! Papai! Papai!
- Evangeline? Você... Cresceu...
Disse Bemasas, surpreendido ao ver a filha. No quando meteu-se Malasas a explicar:
- É sua menina super obediente! Comeu as balas de primavera.
E o anjo prendia a garota em seus braços, sem contar os três corvos que os interditava. Contudo, viu o anjo da guarda como a garota sofria, sem suportar ver a dor do pai, espremendo os olhos e encharcando as maçãs de seu rosto de tanto chorar. Foi nesse momento que ele precisou tomar a decisão mais difícil de sua vida, pelo bem de sua protegida, porquanto não suportava vê-la assim! E disse ele com um dos corvos:
- Se quer mesmo ir para o céu, proteja Evangeline enquanto me afasto.
- Sim, sim!
Falou o corvo. Vendo pois o anjo da guarda tomar distância, Evangeline perguntou-o:
- Anjo, aonde você vai?
Ele, fitando-a sem jeito, respondeu dizendo:
- Evangeline, sempre estive ciente do meu dever de protegê-la, por isso, tudo o que eu fizer é pelo seu bem. E para não te ver mais chorar, peço que, por favor, me perdoe por isso, mas me permita me afastar e fazer algo para salvar seu pai!
Evangeline abriu um doce sorriso e disse para o anjo:
- Então vá! E não se preocupe comigo.
- Isso será impossível.
Ele a olhou pela última vez e abriu asas; viu a hora no relógio do palácio, estava prestes a amanhecer, no que teve uma grande ideia... Ele tomou uma clava das armaduras que enfeitavam os cantos do palácio e subiu até o céu, falando para si mesmo:
- Se tem algo que Malasas não resiste, bem sei, é a luz!
E com a clava passou a bater nos corvos que cobriam todo o céu, eles batiam asas, caíam, gritavam! E o anjo descarregava toda sua ira, seu poder e força nos corvos, lembrando-se de quando venceu as Dionéias, que eram mais de duzentas. Vendo isso, Malasas franziu o cenho e indagou:
- O que aquele anjo imbecil está fazendo? Corvos!
E o corvo servo, virando-se para os três corvos que guardavam Evangeline, ordenou a eles:
- Acabem com o anjo, seus inúteis! Nossa, eu sempre quis dizer isso...
Porém, falou um dos corvos:
- Não podemos.
- Por que não?
- Porque queremos ir para o céu.
- O quê?
O corvo servo revirou os olhos e foi ele mesmo deter o anjo. Todavia, quando se aproximou do anjo da guarda, acabou sendo acertado pela clava e lançado para longe.
- Ops! Desculpe!
Disse o anjo da guarda, ao ver que havia acertado o corvo. E ao passo que ele eliminava os corvos do céu, pequenas luzes do dia surgiam e atravessavam o campo, chegavam até as árvores e as faziam de imediato definhar, uma vez que eram filhas da escuridão. Foi surgindo mais luz, definharam-se os montes, as flores, o vilarejo e tudo o que os tornados não haviam destruído! Mas Malasas não se cansava de maltratar o irmão, o feria mais e mais. Pegou a espada de Bemasas para pôr logo um fim naquilo, e exclamou em alta voz:
- O bem nem sempre vence o mal!
E quando ele ia enfiar a espada no peito de Bemasas, o último corvo que guardava o céu foi derrubado pelo anjo da guarda e toda a luz do dia vestiu a cidade de Corvus e recobriu os seres malígnos, inclusive Malasas.
- Nãããããããão!
Gritou o anjo do mal, escondendo a face com as mãos e definhando, até virar totalmente pó. Só não alguns corvos definharam, fora isso, criatura nenhuma a mais de Corvus sobreviveu.
- Vence sim.
Disse Bemasas, contrariando as últimas palavra do irmão destruído. E finalmente os corvos soltaram Evangeline e ela correu para os braços do pai, muitíssimo emocionada, e disse a chorar em seu ombro:
- Senti tanta a sua falta, papai...
Bemasas apertou a filha contra o peito e falou:
- Eu também, filhinha... Perdoe o papai, não devia ter te mandado para cá, agi como um completo maluco.
- Tudo bem, pai, o anjo da guarda me protegeu a todo momento. Oh não, o anjo!
Ela virou-se ligeiramente e lá vinha o anjo da guarda, esgotado, a cambalear de cansaço e respirando ofegante; parou, soltou a clava da mão e soprou um ar de satisfação. Então correu até ele Evangeline e lhe deu um abraço sufocante.
- Obrigada, anjo... Obrigada por tudo.
Ela agradeceu. Disse o anjo da guarda, por sua vez:
- Não tem nada o que me agradecer.
Em sequência, o procurou Bemasas, que já se recuperara da dormência, e disse:
- Você salvou a todos nós... Quando só precisava ter salvo Evangeline. A melhor coisa que fiz em minha vida foi ter confiado em você. Obrigado por cuidar de minha menina.
De repente, todo o chão da cidade começou a rachar e se abrir, por conta do poder da luz que batia no solo e o palácio ia caindo em ruínas. Nisso, falou Bemasas:
- Vamos! Temos que sair daqui!
Ora, a andorinha ia pelo céu e Bemasas, a filha e o anjo corriam pela terra para fora de Corvus. Porém, Evangeline cessou os passos em um momento, lembrou-se do amigo Roxilas, que ficou preso no palácio, e disse para o pai:
- Esperem! Precisamos buscar alguém...
- Não temos mais tempo, Evangeline, esse lugar vai desmoronar! Vamos!
Exclamou Bemasas, puxando a filha. A garota olhou para trás, as paredes do palácio caíam uma sobre a outra... Ela lamentava pelo amigo corvo. Seus olhos ficaram aflitos, nublados.
Continua...