O ANJO DA GUARDA - capítulo XV
"E se conteram os tornados, as criaturas maléficas, os pássaros e as estrelas, só para acompanharem o duelo entre Bemasas e Malasas. "
Evangeline, que já estava liberta, ouviu os brados lá fora do palácio e correu para a janela, assistiu a guerra que travava o exército de Tornan e o de Malasas, no que exclamou:
- Precisamos ajudar!
Ela correu para a porta, mas o anjo da guarda foi atrás dela e a segurou. Então disse:
- Melhor não, Evangeline, lá fora está a maior batalha! Melhor permanecermos aqui, onde estamos mais seguros.
Evangeline baixou a cabeça, ficou muda por um momento, mas voltou para a janela e viu como a cidade de Corvus tremia naquele dia, se bem que já era noite e não sabia. Vendo ela que os tornados giravam incessantemente a destruir tudo o que viam pela frente, inclusive os vilarejos com as casas dos escravos e camponeses, que corriam de um lado a outro, mulheres com crianças e ansiões, amedrontados, Evangeline revoltou-se e lágrimas escorreram de seus olhos e rolaram pelo pescoço. Subitamente, quando alguns corvos espantaram-se e se afastaram do céu, a garota contemplou um pedaço da noite e algumas estrelas, pôsto isso, fitando-as concentradamente, pediu:
- Eu desejo, de todo o coração, que estrelas salvem essas pobres pessoas! Por favor...
E não resistiu ao desalento da alma e caiu em prantos. Mas, naquele mesmo instante, coisa enigmática aconteceu! Começaram a cair estrelas do céu na terra de Corvus e se lançavam a mil por hora; eram bolas brilhantes que explodiam na terra e transformavam-se em pessoas. Os camponeses e escravos de Malasas viam as estrelas caírem e, estupefatos, apontavam ou corriam, entretanto, eram capturados por aquelas mesmas estrelas e levados a lugar seguro. Até mesmo os soldados na guerra paravam para contemplar aquele espetáculo de estrelas caindo do céu e brilhando no chão.
Evangeline permanecia ao pé da janela do palácio, a acompanhar tudo o que acontecia através do vidro, quando, inesperadamente, algo que veio em demasiada velocidade atingiu o teto do palácio e caiu bem ali onde estava Evangeline e os demais. A garota em rapidez se virou e viu aquela coisa tão reluzente, era uma estrela; e ao passo que ela reduzia o brilho, todos iam descobrindo sua fisionomonia, o anjo, porém, até a reconheceu e maravilhado, revelou a Evangeline:
- Evangeline... Ela é sua mãe.
Impactada com a revelação do anjo da guarda, olhou Evangeline para a estrela e ela estava a chorar, mas sorria ao mesmo tempo. E abrindo os braços para Evangeline, disse:
- Minha filhinha!
Correu Evangeline para os braços da estrela e fortemente elas se abraçaram, ambas muito emocionadas.
- Mãe? Então é mesmo verdade? A senhora é uma estrela!?
Falou a garota.
- Sim, querida, e sempre estou a te seguir, ouvindo seus pedidos.
Afirmou a estrela.
- A senhora é tão linda...
Evangeline fitava o rosto da mãe, quando esta outra segurou o rosto da filha e disse:
- Escute, querida, não poderei ficar aqui, pois logo há de amanhecer e terei de ir embora com as outras estrelas. Mas quero que me prometa que nunca se deixará vencer por nenhum mal e nem se ajuntará com ele!
E a garota, assentindo para mãe, ainda que muito melancólica por imaginar a despedida da mãe, falou:
- Eu prometo.
A estreja beijou a testa de Evangeline e direcionou-se ao anjo da guarda, dizendo para este:
- Obrigada por proteger minha filha, sempre tive a certeza de que seria o melhor anjo da guarda para ela.
O anjo da guarda demonstrou um sorriso de gratidão e era de se adimirar como nem mesmo naquele momento ele afastava-se da garota Evangeline.
- Agora, tenho que ajudar aquelas pessoas a sairem daqui. Adeus, minha princesa...
Disse a estrela para Evangeline, tomando distância.
- Adeus, mamãe.
Evangeline falou, com os olhos inundados. A estrela olhou por último para o anjo da guarda e disse:
- Adeus, anjo...
No que ele falou:
- E por que não dizer: até logo?
Assim a estrela retomou toda sua luz e saiu do palácio. Evangeline abraçou o anjo e ele a confortou. Mas ela estava feliz. Contudo, lembrou-se da batalha que ainda procedia lá fora e correu para a janela com o anjo. Neste tempo, estava Malasas de pé a observar suas criaturas falecidas e os soldados de Tornan maioria de pé. Então aproximou-se Bemasas e disse para o irmão:
- Aconselho que desista agora, Malasas, seu exército já foi vencido!
E Malasas, dando passos inseguros para frente e com um sorriso um tanto fingido, indagou:
- Desistir? Acha que a guerra já acabou?
- Olhe para o seu redor, suas criaturas más estão todas mortas! Agora me traga minha filha!
- Se quer mesmo a garota... Terá ainda que me enfrentar!
- Te enfrentar? Você só é um agora e nós somos muitos!
- Não, Bemasas, agora o negócio é só entre eu e você. Seria covardia se eu me pusesse a lutar sozinho e você com um monte de tornados!
- Mas que cara de pau... Está bem! Então lutemos. Mas se eu vencer, terá de me trazer Evangeline!
- Tudo bem. Mas, se eu vencer, a cidade de Luz será minha!
- ... Feito!
- Corvo! As espadas.
E lá vem o corvo servo a trazer duas espadas, uma para Bemasas e outra para Malasas e o anjo e Evangeline assistiam tudo da janela.
- Oh não, meu pai e meu tio vão duelar!
Falou Evangeline, apavorada. E o anjo da guarda afirmou:
- Seu pai é forte, vencerá! O mal sempre vence o bem! Outrossim, seu pai usa de um poder que Malasas desconhece, a sabedoria.
- Mas meu tio também é muito poderoso, anjo! E se ele vencer?
O anjo da guarda aproximou bem seu rosto ao de sua protegida, tocou seu dedo nos lábios dela e disse:
- Não, não fale isso... Bemasas vencerá essa luta e Malasas terá o que bem merece. Confie em mim! Não confia em mim?
Perguntou sorrindo, e Evangeline respondeu dizendo:
- É claro que confio.
- Então acalme seu coração, tudo vai dar certo.
E se conteram os tornados, as criaturas maléficas, os pássaros e as estrelas, só para acompanharem o duelo entre Bemasas e Malasas.
Continua...