O ANJO DA GUARDA - capítulo XIII
"O feiticeiro era um gato preto que andava de pé e vestia uma capa escura. Não era tão bom e nem muito desejado, mas tinha ainda sete vidas para Malasas poder se livrar dele."
Roxilas conduziu Evangeline e o anjo a uma saída no fundo dos palácios, porém, antes que pudessem escapar, foram barrados por Malasas, que perguntou enfurecido:
- Aonde pensam que vão?
Em sequência, Malasas voltou o rosto para Roxilas e ralhou:
- Seu corvo ingrato, ajudou-os a fugir? É assim que agradece por tudo o que tenho te feito?
E Evangeline contradisse:
- Não, ele não nos ajudou a...
Mas Roxilas cortou a palavra da garota e tomando a frente, afirmou para Malasas:
- Sim, eu os ajudei a fugir! Porque já estou cansado de fazer as suas vontades! Você vive xingando nós corvos, nos chamando de inúteis! Nos criou só para te servirmos e nem sequer nos deu um nome! Já Evangeline e o anjo da guarda foram muito legais comigo!
Malasas sacudiu os ombros e falou com desdém:
- Ó, como estou comovido! Corvos! Prendam o corvo!
Os corvos agarraram Roxilas e ele se contorcia. O levaram para uma cela.
- Não! Deixem ele em paz!
Gritava Evangeline, agitada, ao passo que o anjo da guarda a contia.
- Paz? Hahahaha...! Corvo, pegue o chicote.
Malasas ordenou ao corvo servo e este trouxe o chicote, no que disse o anjo do mal:
- Dê uma boa lição na garota.
Então o anjo da guarda colocou-se na frente de Evangeline, com os braços abertos, e exclamou:
- Não ei de permitir que toque um dedo sequer em Evangeline! Antes, terá que passar por cima de mim!
E falou Malasas:
- Bom, você quem pediu... Corvo!?
O corvo levantou o chicote, Evangeline virou-se de costas para ele e o anjo da guarda a abraçou por trás, nisso o chicote estalou em suas costas, ou melhor, em suas asas. Quando então Evangeline gritou em aflição:
- Anjo, saia!
Mas ele persistia e dizia:
- Não vou deixar que a firam! Não posso deixar!
Ora, disse Malasas:
- Quero ver até quando vai suportar. Mais forte, corvo!
Então o corvo estalou severamente o chicote no anjo, ele, por sua vez, espremia os olhos e rangia os dentes, mas Evangeline não se conformava e clamava para que ele a deixasse, dizia:
- Anjo, me deixe! É a mim que ele quer!
- Não...
Dizia o anjo da guarda, que caiu de joelhos com Evangeline, contudo, não a soltou. E o corvo continuava a bater o chicote. Viu Malasas que mesmo tanto apanhando e tão maltratadas suas asas, o anjo ainda resistia, e impressionou-se, no que ordenou ao corvo:
- Pare.
- Mas, mestre...
O corvo retrucou.
- Eu disse para parar! Ele não vai soltar ela.
O corvo obedeceu e baixou o chicote. Malasas mantinha os olhos no anjo ao chão abraçando a garota, até que aproximou-se e disse:
- Se você soltar a garota, o deixo ir tranquilo.
E com a voz debilitada, falou o anjo da guarda:
- Não me peça isso.
Malasas respirou fundo, impaciente, e disse:
- Está bem, você quem sabe.
E do chão ele fez nascer árvores em torno de Evangeline e de seu anjo; as árvores se abraçavam, deixando-os assim aprisionados. Pediu Malasas que o corvo servo pusesse ali uma poltrona e o corvo pôs, então sentou-se Malasas de frente à jaula e disse para seus dois prisioneiros:
- Quero ver agora quem terá coragem de ajudá-los diante dos meus olhos.
Fora dali, ia a andorinha pelo céu ao encontro de Bemasas. Por fim, ela o encontrou quase perto dos portões de Corvus e fez pouso em sua frente, virando uma mulher e dando-lhe um susto.
- Andorinha! Eu sabia que você voltaria! E então, encontrou minha filha?
Perguntou Bemasas.
- Sim, e Malasas estava a mantendo em cativeiro.
Respondeu a andorinha.
- Maldito! Bem que Angelina disse...
- Você precisa tirá-la de lá! Mas não deve ir sozinho, pois Malasas está tramando contra você.
- E quem poderá ir comigo?
- O exército de Tornan.
- Tornan! É, eu e o rei de Tornan somos grandes aliados. Então te peço, ó andorinha! vai até o rei de Tornan e diga a ele que preciso de ajuda!
E lá vai a andorinha, naquela tarde fria e ventanosa, para a cidade de Tornan. A cidade ficava além do mar, foi uma viagem um pouco cumprida até a andorinha chegar lá. Ar era o rei da cidade de Tornan e tinha um exército de homens que viravam tornados, em razão disso, por lá sempre ventava muito.
Estava o rei Ar tranquilo em seu trono, quando lhe veio um de seus soldados e disse:
- Majestade, há uma andorinha aí fora.
Ar franziu a testa e falou:
- Ora, mas o inverno acaba de chegar!
- Ela disse que tem algo muito importante para tratar com a vossa majestade.
- Então mande-a entrar.
Entrou a andorinha em forma de mulher e curvou-se diante do rei, que indagou:
- De onde vens, andorinha e o que desejas?
Ela respondeu-o:
- Venho a pedido do anjo Bemasas, majestade.
- Bemasas? Não o vejo há muito tempo... Como ele está?
- Desamparado. Sua cidade foi ameaçada por Har.
- Eu ouvi boatos, mas não achei que fosse verdade, Bemasas sempre foi tão forte!
- Mas ele derrotou os inimigos. O problema é que seu irmão, Malasas, havia prometido falsamente cuidar da filha de Bemasas, quando na verdade só queria dar um fim à pobrezinha. Bemasas descobriu e quis ir até Corvus buscá-la. Mas ele não pode chegar lá sozinho, porquanto Malasas também planeja contra sua vida! Por isso ele pede sua ajuda.
- Bemasas e a filha correm perigo? Mas é claro que vou ajudá-lo! Prepararei meu exército e você nos guiará até onde Bemasas nos espera.
Enquanto isso, na cidade da escuridão (Corvus), Malasas havia chamado um feiticeiro para usar de seus poderes de hipnose para com o anjo de Evangeline. O feiticeiro era um gato preto que andava de pé e vestia uma capa escura. Não era tão bom e nem muito desejado, mas tinha ainda sete vidas para Malasas poder se livrar dele.
- Faça com que o anjo pense que deve matar a garota, hipnotizando-o. Entendeu?
Falou Malasas para o feiticeiro, no que este assentiu. E o anjo da guarda havia escutado a conversa. Entrou o feiticeiro na jaula onde estavam presos o anjo e a garota e retirou do bolso um objeto parecido com um relógio de bolso, pulou encima de um banquinho e pôs o objeto de frente aos olhos do anjo e disse:
- Olhe para o relógio.
O anjo conssentiu, olhou para o grande relógio na parede do palácio e falou:
- São 16:30.
- Não para aquele, para esse relógio aqui!
- Mas isso não é um relógio, é uma bússula.
- É?
- Sim. Veja, Norte, Sul, Leste e Oeste.
- É verdade!
E Malasas revirava os olhos, porque não imaginava tanta tolice de um cuspidor de bola de pêlo.
Continua...