O ANJO DA GUARDA - capítulo XII
"Vamos, pense em algo, você consegue! Os corvos são uma das aves mais inteligentes do mundo!
- Verdade? Achei que fóssemos burros."
A sala em que estava a gaiola com Evangeline dentro era mui vasta e quente, pelo fato de correr um rio de lavra lá embaixo; do lado direito da sala havia uma estátua enorme de um anjo segurando um martelo de bronze, toda vez que o relógio marcava uma hora completa o anjo batia o martelo num sino gigante; e lá no alto da sala, pendurada por uma corrente forte, estava a gaiola quadrada com o tamanho mais ou menos de uma jaula de leão, suas grades eram demasiadas resistentes e o portão só podia ser aberto digitando a senha num painel na parede da sala. Dentro da gaiola, Evangeline chorava com o rosto nos joelhos e os braços abraçando as pernas. Até que ouviu uma voz familiar lhe falar baixinho, levantou o rosto e viu o anjo da guarda do lado de fora de frente à gaiola, tinha um pouco de dificuldade para voar, em razão do golpe que recebeu de Malasas em suas asas, mas resistia.
- Não chore, estou aqui.
Ele disse.
- Anjo! Como conseguiu entrar aqui?
Perguntou Evangeline, animando-se e se apegando às grades da gaiola.
- Eu consegui me livrar dos corvos e lembra que posso ficar invisível? Pois é, passei pela porta do palácio e cheguei até aqui, sem que pudessem me ver.
- Que bom! Achei que não mais o veria...
- Eu prometi que ia te proteger, não prometi? Então é o que farei. Agora vou te tirar daí...
- Mas a gaiola só se abre com uma senha...
- Eu ouvi Malasas falar a senha para o corvo.
O anjo voou até o painel e digitou a senha e a porta da gaiola automaticamente foi aberta, então o anjo voltou para pegar Evangeline, pôsto que ela não podia atravessar a sala sozinha se não tinha asas. Repentinamente, antes que o anjo saísse da gaiola com Evangeline nos braços, a gaiola balançou bruscamente e o portão acabou batendo e os trancando lá dentro, no que o anjo correu para tentar segurá-lo, mas já era tarde, estavam presos. O que acontecia é que a gaiola estava descendo pouco a pouco até o rio de lavra, era o plano de Malasas que Evangeline fosse morta pela lavra. Ora, o anjo se empenhava para tentar abrir o portão da gaiola, sacudia as grades com bravura, entretanto, era impossível de abrir.
- E agora?
Indagou Evangeline, atônita, e disse o anjo:
- Precisamos fazer alguma coisa!
- Já sei!
A garota exclamou, tendo uma ideia. Gritou:
- Roxilas! Roxilas!
E lá fora do palácio, um corvo que passava a bater asas por ali, ouviu os gritos e, como típico dos corvos poderem imitar sons que ouvem por aí, ele começou a repetir:
- Roxilas! Roxilas! Roxilas!
E quando passava por uma árvore, o corvo chamado Roxilas o escutou, chamou-o e perguntou intrigado:
- O que você está dizendo?
E o outro corvo respondeu:
- Eu ouvi alguém gritar "roxilas!" lá do palácio, daí achei tão engraçado que decidi imitar.
Roxilas esbugalhou os olhos e voou até o palácio, certo de que era Evangeline que o chamava. Sabendo ele que Malasas havia a prendido na gaiola, Roxilas foi até ela, conseguiu despistar os corvos nos corredores do palácio e chegou até Evangeline e o anjo; a gaiola já estava bem perto da lavra fervente.
- Rápido, você tem que nos tirar daqui!
Exclamou o anjo para o corvo.
- Sim!
O corvo disse.
- Você precisa digitar a senha no painel, eu acabei deixando o portão fechar antes de sair com Evangeline!
- Oh, não...
- O que foi?
- Cada vez que o portão é fechado automaticamente a senha é alterada e só Malasas é quem sabe das senhas!
- Então você precisa pensar em outra forma de abrir o portão!
- Mas, que forma?
Perguntou Roxilas, nervosíssimo. E disse o anjo da guarda:
- Vamos, pense em algo, você consegue! Os corvos são uma das aves mais inteligentes do mundo!
- Verdade? Achei que fóssemos burros.
- Malasas é quem quer que vocês pensem isso! Agora faça algo, rápido!
O corvo viu que a lavra já estava consumindo o fundo da gaiola, então olhou para a estátua de anjo e teve uma ideia! Pegou uma corda que havia jogada por ali e amarrou bem firme uma das pontas no portão da jaula e outra no martelo da estátua e falou para Evangeline e o anjo da guarda:
- Se segurem firme!
Então ele voou até o relógio na parede, que marcava 13h:20min e girou os ponteiro até marcarem duas horas em ponto. Foi quando a estátua moveu os braços e bateu o martelo no sino, nesse movimento, a corda presa ao martelo esticou e puxou a gaiola meio de lado e o anjo e Evangeline puderam escapar pela parte de baixo da gaiola que fôra derretida pela lavra.
- Foi uma ideia brilhante, Roxilas!
Exclamou Evangeline.
- Obrigado!
Agradeceu o corvo.
- Agora pode nos ajudar a sair daqui?
- Venham comigo!
Roxilas guiou-os para fora da sala e haviam dois corredores; vendo pois que o corredor da esquerda tinha muitos corvos a vigiar, Roxilas achou melhor que fossem pelo outro corredor, onde só havia um corvo a guardar a porta de uma cela. E disse Roxilas, escondido com os outros por trás de uma parede:
- Fiquem aqui, eu vou lá falar com ele.
O anjo da guarda e Evangeline permaneceram às escondidas, à medida que Roxilas conversava com o corvo na porta da cela.
- O mestre te procura.
Peteava Roxilas.
- E o que ele quer?
Indagou o outro corvo.
- Não sei, mas ele não parece nada pacífico. Vá lá, deixe que eu vigie a cela.
Então o corvo entregou a chave da cela a Roxilas e saiu, e Roxilas chamou Evangeline e seu anjo. Eis que ouviram alguém pedir para sair de dentro da cela, ora, vendo surgir da escuridão a andorinha mulher, Roxilas exclamou:
- É a androrinha!
No que Evangeline questionou:
- Que andorinha?
- A que veio te trazer um recado de seu pai.
E o anjo ressaltou:
- Não era uma andorinha, tentou matar Evangeline!
Roxilas porém corrigiu:
- Mas esta aqui é a verdadeira andorinha! Malasas a aprisionou e mandou uma falsa até vocês para enganá-los e matar Evangeline.
Ouvindo a discussão, a andorinha mulher olhou para Evangeiine e perguntou:
- Então você que é Evangeiine?
E a garota respondeu:
- Sim!
- Pois seu pai me mandou te dizer que ele está salvo dos inimigos e está vindo buscá-la. Oh, coitado! Já está esperando há tempos que eu retorne com notícias suas.
Evangeline tomou a chave da cela das mãos de Roxilas e libertou a andorinha, dizendo em seguida para ela:
- Então volte até meu pai e diga a ele que venha, mas não venha sozinho, pois meu tio planeja algo ruim contra ele!
- E então com quem ele virá?
Perguntou a andorinha e após ouvir a resposta de Evangeline, ela transformou-se em pássaro e escapou por uma janela do palácio, voando para fora dali.
Continua...