O ANJO DA GUARDA - capítulo XI

" O que estou fazendo? Eu te tirei do seu lugar, não posso deixá-lo aqui! Hhm... Então, Ponpon, quer ir comigo para Corvus?

Mas foi só dizer isso que o urso bateu pernas e correu para longe, desprezando Bemasas."

Assim que chegaram na Cidade das Palavras, desceram do urso os gêmeos Dici e Onário e deram tchau para Bemasas. A Cidade das Palavras era um mundo contido numa estante repleta de livros e livros cheios de sabedoria, já diziam Dici e Onário que todo aquele que pisava naquela terra aprendia algo novo que levaria por toda a vida e quem nela habitasse para sempre seria um grande sábio; Todavia, Bemasas não quis entrar na cidade, porquanto tinha premência em encontrar sua filha.

- É, Ponpon, agora somos só eu e você.

Falou Bemasas, alisando o pêlo do animal, mas adicionou:

- Pensando bem, acho que já posso seguir sozinho daqui.

Ele deu as costas para Ponpon, porém, sentiu muita dó quando olhou para trás e viu que o urso estava melancólico. Então soprou um ar de entrega e, voltando-se para Ponpon, disse:

- O que estou fazendo? Eu te tirei do seu lugar, não posso deixá-lo aqui! Hhm... Então, Ponpon, quer ir comigo para Corvus?

Mas foi só dizer isso que o urso bateu pernas e correu para longe, desprezando Bemasas.

- Tudo bem... Adeus!

Só que em Corvus, o clima ia de mau a pior... Após descer o abismo e encontrar Ilusory debruçada no chão, o corvo servo foi até Malasas para informar-lhe do que sucedera.

- Está morta.

Ele disse.

- Quem está morta?

Malasas perguntou, franzindo o cenho.

- Ilusory. O anjo da guarda a matou.

- Como disse?

- Isso mesmo, mestre, os corvos viram a luta entre Ilusory e o anjo e a hora em que ele a lançou abismo abaixo. Eu a vi caída e estava sem vida, claro.

- Não, não pode ser... Quem esse anjo pensa que é?

Dizia Malasas, bufando de raiva e sempre que se sentia assim seus olhos vermelhos se acendiam como fogo e ele espremia os punhos. E disse o corvo:

- Eu disse, mestre, ele é muito inteligente e forte!

- Cale essa boca!

- ...

- Não dá para acreditar que só por causinha de um bendito anjinho não consigam acabar com a garota!

- Eu não entendo por que o mestre deseja se livrar dela... Não é mais fácil acolhê-lha aqui e cuidar dela como sendo sua sobrinha?

- Olhe para a minha cara, seu imbecíl, pareço alguma fada babá? Já não mandei calar a boca?

- Já calei... Já calei.

- Quer saber? Já estou farto disso! Eu mesmo vou cuidar de dar um fim a essa garota.

Com todo seu furor à flor da pele e passos pesados que rachavam o chão, Malasas saiu de dentro do palácio e puxou como um tapete o caminho em que andavam o anjo e Evangeline. O chão se moveu e as árvores caíram num efeito dominó e tendo também caído de joelhos, o anjo protegeu Evangeline a envolvendo em seus braços e eles foram arrastados até o primeiro degrau da entrada do palácio, onde estava Malasas de pé.

- Vejam, se não é minha querida sobrinha?

Disse Malasas. Em virtude disso, puseram-se o anjo e Evangeline de pé e esta última olhou atemorizada para Malasas e disse:

- Tio?

- Pelos corvos! Como vocês demoraram! Achei que haviam errado o caminho. Olha para você... Pensei que estivesse só com cinco anos.

- Eu... Acabei comendo atrevidamente algumas balinhas de primavera.

- Que feio...

Malasas voltou o rosto para o anjo da guarda que estava ao lado de Evangeline, e falou:

- E você deve ser o tal anjo da guarda, acertei?

E respondeu o anjo:

- Sim.

- É, parece que protegeu muito bem minha sobrinha... Mas, agora que já a trouxe em segurança, já pode ir.

- Anh?

- Sim, Bemasas te mandou para me trazer minha sobrinha em guarda e você já a trouxe, não é preciso mais que fique aqui.

Em conta disso, retrucou Evangeline:

- Mas, tio, ele tem me protegido a todo instante!

- Querida, agora você está comigo, nenhum mal irá te ocorrer! Agora vá, anjo, saia daqui.

Malasas ordenou, no entanto, o anjo desacatou sua ordem quando disse:

- Não, não posso deixar Evangeline.

Foi quando Malasas perdeu o controle e muito colérico vociferou para o anjo:

- Olhe aqui seu anjinho cheio da graça, já estou cansado das suas aventurinhas de herói! Corvos! Livrem-se do anjo!

Os corvos avançaram para cima do anjo, mas ele os afastou com os punhos, eis que Malasas o atingiu com um forte murro nas asas - o anjo do mal era deveras muito vigoroso - e o anjo da guarda caiu no chão, assim os corvos conseguiram pegá-lo e o arrastaram floresta adentro, ao passo que ele bradava:

- Eu vou te proteger, Evangeline! Não deixarei que te machuquem! Eu prometi a seu pai e prometo a você agora!

- Não! Anjo! Anjo!

Gritava Evangeline, até que Malasas a puxou pelo braço e a carregou para dentro do palácio. E a garota indagava a chorar:

- Por que faz isso, tio? Por quê?

E disse Malasas, puxando-a brutalmente por um corredor escuro:

- Acreditou mesmo que eu me importasse em cuidar de uma garota irritante como você? Ah, por favor!

- Mas o senhor prometeu a meu pai que...

- Seu pai é outro o qual não vou com a cara. Mas deixe ele aparecer por aqui e terei uma surpresinha para ele!

- Não entendo por que o odeia tanto!

E o corvo que acompanhava Malasas, meteu-se na conversa e perguntou para Evangeline:

- Então você não conhece a história do bem e do mal?

No que Malasas revirou os olhos e falou:

- Ah, não... Você vai mesmo contar essa história chata?

E começou o corvo a contar para Evangeline:

- Havia uma cidade chamada Tornan, o rei dessa cidade vivia planejando atacar e se apossar da cidade de Luz, quando seu avô ainda a governava. Certa vez, o rei de Tornan enviou seu exército para lutar contra o exército de seu avô e, sabendo o rei de Tornan que quase todos os seus soldados haviam sido mortos, ele resolveu pedir paz. Porém, seu avô ficou em dúvida se aceitaria ou não o pedido de paz, uma vez que agora a cidade de Tornan estava fragilizada e seria fácil tomar posse dela. Então seu avó chamou seus dois filhos anjos (Malasas e Bemasas) para que lhe ajudassem a decidir o que fazer; seu pai ficou do lado direito de seu avô e meu mestre do lado esquerdo. E perguntou seu avô primeiro a meu mestre:

- Filho meu, que acha que devo fazer?

E meu mestre respondeu:

- Acho que não deve fazer as pazes com o rei de Tornan! Ele sempre quis nos destruir e agora está em risco, essa é a nossa chance de nos vingarmos de nossos inimigos!

Seu avô parou para imaginar sobre isso e em seguida perguntou a seu pai:

- Filho meu, que achas que devo fazer?

E seu pai respondeu:

- Acho que o senhor deve fazer as pazes com o rei de Tornan! Mesmo ele tendo intentado contra nós, está suplicando para que o perdoemos! E se estivéssemos em seu lugar, não faríamos o mesmo? E desajaríamos que nos poupassem, ou não?

Então seu avô refletiu também sobre essa questão e ficou satisfeito, decidiu fazer as pazes com o rei de Tornan, daí se tornaram grandes aliados! E seu pai se alegrou, no que viu seu avô que ele tinha um coração bom e decidiu chamá-lo de Bemasas, já meu mestre sentia raiva e seu avô viu que ele tinha um coração mau e o chamou de Malasas. Aconteceu que Bemasas herdou o palácio de Luz e Malasas foi expulso de lá.

- É, e eu fiquei muito chateado.

Disse Malasas, jogando Evangeline numa grande gaiola pendurada no alto de uma sala e a trancando.

Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 25/05/2016
Código do texto: T5646801
Classificação de conteúdo: seguro