Seven Devils - O Baile

Eu deveria me trocar e ir até a cozinha, mas minha raiva estava dominante. Não conseguia nem me mover, foi nesse momento que ouvi essa voz pela primeira vez.

-Mate-a!

-O que? - Olhei para todos os lados, mas não vi ninguém. – Quem está aí?

-Você deve mata-la.

Resolvi ir em direção à biblioteca, algum engraçadinho deve ter se escondido para me pregar uma peça. Eu estava quase chegando na porta quando ouço um barulho vindo por trás de mim. Viro-me de uma vez e dou de cara com Sabrina.

-Que susto!

-Qual o problema?

-Nada. Não me diga que D. Silla já está com pressa em me ver.

-Apenas vim saber como está. Ela foi bem estúpida com você.

-Em que momento das nossas vidas ela não foi estúpida comigo?

-Boa pergunta. Você está bem mesmo, Cristie?

-Eu vou sobreviver. Não é a primeira vez que sou humilhada em público, mas é a última.

-O que quer dizer?

-Eu vou embora daqui, Sabrina. Pensei em ir após o casamento de Freya, porém não aguento mais esse lugar. Talvez, acabe antecipando.

-Como pretende ir? Só Odin libera a passagem pela ponte e não acho que fará isso por você.

-Eu sei, não conto com a ajuda dele.

-Com a de quem?

-No dia certo você vai saber. Prometo me despedir antes. Agora é melhor eu ir mudar de roupa.

Deixei Sabrina e fui pro meu quarto, tirei com todo cuidado o vestido e coloquei o de empregada. Ele era um pouco mais curto, de um tecido bem grosso e cinza. Eu detesto cinza! D. Silla já estava a minha espera.

-Por que demorou tanto?

-Queria ficar bonita pra você! – Ela fechou a cara e Sabrina deu um risinho abafado.

-Pare com suas gracinhas e comece o trabalho.

-O que devo fazer?

-Pode encher essas bandejas para as meninas levarem. – Disse Sabrina.

-Está bem.

Passei parte da noite fazendo isso, então ouvi umas vozes na sala ao lado, entretanto, dessa vez, eu as reconheci. Eram de Freya e Frigga. Fui perto da porta.

-Como vocês puderam deixar Cristie ser tratada daquela forma? Aquela mulher a arrancou do salão.

-Ela apenas fez o que lhe foi ordenado. Ela exagerou, mas teremos uma conversa a respeito.

-Conversa?! Deveriam demiti-la. Ela sempre tratou Cristie muito mal.

-Freya, por favor. Respeite as ordens do seu pai.

-Não! Ela é minha amiga. Sabe qual o problema de vocês? Vocês são tão preconceituosos que não conseguem ver uma criada bem vestida.

-Não é isso! Se ela fosse uma simples criada... Um dia, você saberá a verdade e aí entenderá que fazemos isso para o bem de todos.

"Bem de todos?" Pensei comigo.

-O que isso significa? - Perguntou Freya.

-Um dia, quando você estiver crescida o suficiente...

-Sou adulta o suficiente para me arrumarem um noivo, mas não pra saber o motivo de humilharem minha amiga? Isso é ridículo.

-Chega! Vou falar com seu pai e iremos te contar tudo. Agora não é o momento, vamos voltar para o salão.

-Volte você!

Senti um puxão.

-Você está espionado os patrões?! - D. Silla me segurava com força.

-Apenas escutei uma discussão e queria saber o motivo dela. – Ela continuava a me segurar. – Larga o meu braço!

-Você vai aprender a se comportar.

-O que vai fazer, velha? - Não sei bem de onde essas palavras saíram, mas gostei delas. – Não sou mais uma criança que você pode ameaçar com agressões físicas ou verbais. Se ousar tocar em um fio do meu cabelo, vou matar você!

-Ah! Aí está, finalmente, mostrando quem é de verdade. Nada do que foi feito adiantou, você é igual ao seu pai.

-O que sabe sobre meu pai? - Ela me largou, dessa vez eu quem a segurava.

-Ele era um monstro e você é igual.

-O que quer dizer com isso? FALA!

Não tinha como ela proferir uma só palavra. Havíamos caído no chão e eu estava com as duas mãos em seu pescoço. Quando dei por mim tinha dois guardas me tirando de cima dela, eu gritava coisas... Nem sei o que. Sabrina estava apavorada, entretanto D. Silla apenas ria. Parecia ter conseguido provar seu ponto de vista sobre mim. Ela me achava perigosa, sempre achou, isso ficou claro agora. Contudo, ela falou do meu pai, ela o conheceu. Sabia que minha mãe havia morrido ao me dar a luz, mas ninguém nunca contou sobre meu pai.

Consegui me acalmar, ainda estava sentada no chão, encostada na parede e D. Silla na cadeira perto da mesa. Ela levantou e jogou uma badeja no meu colo.

-Volte para o seu trabalho. O pai de todos irá saber sobre seus atos, mas só amanhã. Tem muitos convidados e temos de manter as aparências.

Levantei com a bandeja nas mãos, coloquei vários copos e uma garrafa cheia de hidromel. Fui para o salão, muitos pediam pela bebida, mas passei direto por todos e fui até Odin e Frigga. Eles me lançaram um olhar interrogativo, então joguei a bandeja em seus pés. O líquido e os cacos se espalharam por todos os lados, o barulho das conversas cessou por completo. Não havia um ser naquele salão que não estivesse olhando pra mim. Dava pra vê o ódio crescer dentro do pai de todos e a confusão de pensamentos da rainha.

-Apresento minha demissão, majestades. – Fiz uma reverência e saí.

Fui para o jardim, estava tão furiosa que fiquei sem ar, acabei caindo de joelhos na grama. Tentava respirar, mas o oxigênio não entrava. Uma mão colocou-se sobre a minha em meu peito, alguém se encontrava de joelhos ao meu lado a me abraçar. Empurrava meu peito pra baixo e depois o soltava, repetiu isso por várias vezes, seguindo o ritmo da própria respiração. Acabei explodindo em um choro nada contido, ele me envolveu em seus braços e assim ficamos até não ter mais uma lágrima dentro de mim.

-Loki, o que está fazendo aqui?

-Não podia deixa-la sozinha.

-Obrigada. – Olhei para o seu rosto, nunca tínhamos ficado tão próximos.

-Sempre estarei por perto quando precisar.

-Não faça promessas que não pode cumprir. – Livrei-me dos braços dele e coloquei-me de pé. – Eu vou sumir de Asgard.

-Odin nunca dará permissão para passar pela bifrost.

-No entanto, essa não é a única forma de sair daqui.

-Como sabe?

-Tentei fugir daqui uma vez. D. Silla deu por minha falta e mandou alguns guardas atrás de mim, na volta eu vi você sumir por um caminho. Foi uma dedução bem fácil.

-E por qual razão pensa que te ajudarei a sair daqui?

-Você tem essa mania de me ajudar. - Nós dois sorrimos.

Ele veio até mim e pegou minha mão.

-Faço um mapa pra você, se dançar comigo.

-Agora? - Ele afirmou em um gesto com a cabeça. - Está bem.

Nós dançamos, mesmo sem música.

-Pra qual reino pretende ir?

-Ouvi falar que Midgard é bem divertido.

-Não dê ouvidos ao meu estúpido irmão.

-Por que o odeia tanto?

-Meu pai só presta atenção nele, por mais que eu me esforce o Thor é mais elogiado. Não percebem os meus feitos.

-Você vive a sombra da grandeza do seu irmão. Devia vir comigo.

-E deixar Freya e minha mãe a mercê desses dois? - Ele parecia realmente preocupado.

-Freya deve casar logo e não deve se preocupar com sua mãe. Ela e Odin são da mesma laia. –Ele me soltou assim que terminei a frase.

-Não fale assim de minha mãe.

-Oh! Desculpe meu príncipe. – Falei o mais sarcasticamente possível.

-Freya e ela são as únicas que gostam de mim, não aceito que a compare com Odin.

-Frigga nunca ligou pra mim, assim como o seu pai.

-Ela sempre nos punha pra dormir, contava histórias, brincava conosco. Não se lembra?

-Lembro-me das histórias. A minha favorita era sobre o reino de Centurion, o décimo e principal reino do universo. Lugar que a família real ficou louca e em seu último momento de sanidade o rei destruiu toda a civilização.

-E só aí voltamos a ter paz. Gosto dessa, mas prefiro histórias mais reais como a da guerra com os gigantes de gelo.

-Essa sempre me deu arrepios. – Sorri e me aproximei para voltarmos a dançar. – Loki, eu sei que Frigga é sua razão pra se manter em Asgard, mas no meu caso ela só é mais uma das pessoas que espero esquecer.

-Quem mais você deseja esquecer?

-D. Silla. – Comecei a sentir um frio na barriga. – Odin, os guardas e tantos outros. A lista seria imensa.

-E quanto a mim?

-Não... – Nos olhávamos. – Você nunca.

Ele estava me apertando contra seu corpo, conseguia sentir a batidas de seu coração e o ritmo da respiração. Ficamos cada vez mais próximos. Um beijo teria rolado se não tivesse ouvido mais uma vez aquela maldita voz.

-Ouviu isso?

-O que?

Tentei prestar atenção para saber de que lado vinha, mas o som havia se findado. Virei-me de volta pro Loki, tinha me distancia sem nem notar. Então vi Frigga parada no alto da escada.

-Melhor os dois irem dormir, está tarde e frio. Amanhã com todos mais calmos, conversaremos sobre os acontecimentos dessa noite.

Loki me acompanhou até meu quarto, deu-me um beijo no rosto e sumiu corredor adentro. Apaguei assim que deitei, estava exausta, contudo tive um sono conturbado. Vários sonhos com demônios. Eles eram sete e estavam ao meu redor, entravam em mim um a um. O último colocou a mão por dentro do meu peito e apertou meu coração até ele explodir. Acordei suada e ofegante.

ALANY ROSE
Enviado por ALANY ROSE em 24/05/2016
Código do texto: T5645612
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