O ANJO DA GUARDA - capítulo IX
"- Eu nunca soube seu nome, desde pequena só te chamo de anjo. Afinal, qual é seu nome?
[...]
"O anjo da guarda chegou mais perto dela e no pé de seu ouvido sussurrou seu nome..."
Muito pensativo e com a mente iluminada, Malasas esfregava o queixo e sorria à toa, no que indagou o corvo:
- O que foi?
E disse Malasas:
- Tive uma grande ideia de como me livrar da garota. Corvo, vá até minha amiga Ilusory e peça que ela venha até mim, que tenho algo importante a tratar com ela.
O corvo foi até um rio de espelhos do outro lado da cidade, onde Ilusory adimirava seu próprio reflexo; ela era uma mulher esbelta e ao mesmo tempo intimidadora e tinha esse nome em razão que era a dona da ilusão; usava um vestido longo de cor vinho e penteava os cabelos negros e lisos para trás, tinha um olhar hipnotizante, todavia, perigoso. Tendo sido avisada pelo corvo, Ilusory foi de encontro a Malasas e ele a recebeu em muita malícia.
- Minha nossa... Quanto tempo não a vejo.
Ele falou, contemplando as curvas da mulher.
- Estou dando um tempo, não quero me desgastar cedo.
Disse Ilusory, aproximando-se de Malasas e perguntando em sequência:
- Para que me chamou?
- Tenho uma tarefinha para você... Já deve saber que estou recebendo a filha de Bemasas...
- Ah, sim, por aqui só se fala dessa garota insuportável. E daí?
- Bom, eu pretendo me livrar dela, já mandei tudo que é criatura fazer isso, mas há algo que está os impatando de conseguir...
- O quê?
- O anjo da guarda que Bemasas mandou para acompahá-la.
- Ha! Ha! Você está brincando, não é? Um anjo da guarda?
- Pois é... Bemasas e suas ideias estúpidas. O pior é que o anjinho conseguiu até agora guardar a menina de todos os males de minha terra!
- Então por que acha que eu vou conseguir vencê-lo?
- Porque conheço seu poder de enganação e também porque tenho um plano infalível!
- E que plano seria esse?
- Veja só, Bemasas escapou das mãos dos inimigos e teve a ideia de mandar uma andorinha até aqui para saber como anda a filha, mas nós conseguirmos a capturar a tempo. O meu plano é que você se passe pela andorinha e vá até Evangeline; o anjo não deixa que o mal se aproxime dela de jeito nenhum, mas, por que ele a guardaria do bem? Então, você dirá à garota que tem um recado de seu pai e que precisa conversar particularmente com ela...
Malasas pegou uma faca bastante afiada e mostrando-a a Ilosory, disse:
- É aí que a matará com essa faca! E se puder se livrar do anjo também, melhor ainda!
- É um plano inteligente... Mas, o que eu ganharei em troca?
- O que você quiser, meu bem... Mas que não seja o meu trono.
- Está bem.
Ela tomou a faca de Malasas e deu de ombros, mas ele a segurou pelo braço e falou:
- Espere.
Chamou o corvo e este lhe entregou nas mãos as roupas da andorinha presa. Disse então Malasas passando as roupas para Ilusory:
- Para que se pareça mesmo com a andorinha, precisa vestir essas roupas.
- Azul e branco? Eu detesto essas cores!
Ralhou ela.
- É só por um momento, meu amor! E até acho que vão ficar lindas em você. Agora vá, e volte para me dizer se deu certo.
Enquanto isso, Evangeline descansava sentada num chão revestido de folhas secas e o anjo da guarda estava sentado bem de frente à ela. Eles conversavam...
- Eu espero que encontre logo meu tio, ou saiba de meu pai, pois tudo isso já está me atormentando.
Disse Evangeline.
- Eu tinha certeza de que o caminho era mais curto... Também, faz muito tempo que estive aqui.
O anjo falou.
- Você já esteve aqui?
- Sim, mas isso já faz alguns anos, quando vim com seu pai para te apresentar a Malasas, logo quando você nasceu. É justo que a cidade tenha mudado muito nesse período.
Evangeline fitou o anjo fixamente, teve vontade de falar:
- Eu nunca soube seu nome, desde pequena só te chamo de anjo. Afinal, qual é seu nome?
O anjo já esperava que um dia Evangeline fosse fazer essa pergunta, então disse à ela:
- Te direi, mas só você deve saber, mais ninguém.
- Está bem, prometo guardar segredo!
Disse Evangeline. O anjo da guarda chegou mais perto dela e no pé de seu ouvido sussurrou seu nome:
- Gael.
Evangeline sorriu singelosamente e murmurou:
- Gael...
- Shiii... Não deixe que ninguém saiba.
Falou o anjo, pedindo sigilo.
- Por que não podem saber?
- É a lei dos anjos da guarda. Só o protegido é quem poderá ter informações pessoais de seu anjo. Então guarde-o com você, só com você.
- Sim.
O anjo sorriu agradecido para Evangeline e seus olhos de repente ficaram congelados no rosto da garota; ele tinha seu rosto tão próximo ao de Evangeline que ela podia sentir sua respiração refrescante com hálito de hortelã; os dois estavam a se olhar fixamente, quietos e em silêncio... Então, o anjo tocou suavemente seus lábios nos de Evangeline e ela fechou os olhos, mas seu coração fazia muito barulho, pobre coração, estava tão inquieto, tão agitado! Foi quando ela sentiu o beijo do anjo, o doce de uma manhã fria tocar o céu da boca, uma sensação ainda desconhecida e inimaginável, provando dos lábios de um anjo de uma beleza tão notável! Coisas novas nasciam em seu peito e não era mais o frio que arrepiava sua pele, era um sentimento distinto. Quando o anjo da guarda separou seus lábios molhados dos de Evangeline, ela olhou para aqueles olhos azuis, acanhada e ofegante, ao passo que o anjo repetia:
- Me desculpe, por favor, me desculpe!
- Tudo bem...
Evangeline falou.
- Eu te beijei... Ó, céus! Eu te beijei...
- Calma... será o nosso segredo, ninguém precisa saber.
Alguns segundos de silêncio, olhares tímidos, e Evangeline consegue dizer:
- Meu primeiro beijo...
Então, o anjo a fitou com aflição, culpando-se por dentro, baixou a cabeça e disse bem baixinho:
- O meu primeiro, também.
Evangeline foi atraída pelas palavras do anjo, pregou os olhos nas suas maçãs vermelhas e sorriu, dizendo em seguida:
- Foi bom.
O anjo levantou o rosto e olhou para ela, confirmando timidamente:
- Sim, foi.
- Eu gostei muito.
Nisso, o anjo da guarda reaproximou-se de Evangeline e lhe deu outro beijo, dessa vez, um pouco mais profundo, um pouco mais longo, um pouco mais de desejo, um pouco mais de sabor... E ambos os corações se comunicavam em fortes batidas, uma grande briga.
Continua...