O ANJO DA GUARDA - capítulo II
"E os soldados de pedra quebravam as tesouras voadoras, mas os soldados de papel embrulhavam os de pedra e as tesouras cortavam os cavalos de papel e os soldados de pedra voltavam a quebrar as tesouras e ninguém fazia ideia de quem poderia vencer essa luta!"
Para chegar até a cidade de Corvus era um longo caminho, uma viagem cansativa. O anjo então pôs Evangeline em suas costas e pediu que ela segurasse firme em seu pescoço e da colina em que eles estavam o anjo fez voo e a menina espremeu os olhos, sentiu o coração palpitar ligeiramente na hora que o anjo tirou os pés da colina e bateu asas e segurou-o com muita força, sem abrir os olhos. Evangeline era uma menina muito bela, de cabelos castanhos e olhos cor de mel, usava um vestidinho florido com uma fita vermelha na cintura e sapatinhos dourados.
- Não precisa ter medo!
O anjo disse, mas Evangeline estava paralisada. Falou mais o anjo:
- Olhe para o céu, Evangeline! Veja como estamos perto das nuvens!
A menina abriu um dos olhos para expiar e eles estavam entre as nuvens, ela sempre quis saber de que eram feitas as nuvens e resolveu esticar o braço e arrancar um pedaço da nuvem para saborear.
- Huuum... Tem gosto de algodão doce!
Ela disse, e pegou mais um pedaço, mas viu logo em frente uma nuvem negra e prontamente recolheu o braço, o anjo então falou:
- Oh não... Acho que vem uma chuva por aí... Precisamos ir mais rápido. Evangeline, segure firme!
Evangeline segurou o mais firme que pode e o anjo arrancou em disparada e a menina deu uma gargalhada alta, sentindo o vento bater em seu rosto e arrepiar seus cabelos, estava se tornando muito divertido voar nas costas de um anjo!
- Vamos ter que descer, já sinto pingos de chuva.
Disse o anjo e começou a baixar o voo, estavam voando sobre o mar, até que as pontas das asas do anjo tocaram as àguas e Evangeline deslizou a mão na água e sorriu, quando finalmente chegaram ao outro lado e o anjo pousou sobre a terra e Evangeline desceu de suas costas. O anjo segurou a mão da menina e os dois correram para dentro de uma gruta e uma chuva forte caiu.
- Por que precisamos nos esconder da chuva? Eu brincava com o meu pai na chuva!
Falou Evangeline, vendo a chuva cair lá fora e o mar formar ondas. O anjo então respondeu:
- Se eu tomasse chuva minhas asas ficariam encharcadas e pesariam e eu não conseguiria voar. Sem contar que você pegaria um baita resfriado!
- Quando a chuva passar, nós vamos voltar para casa? Estou com saudade do meu pai.
O anjo olhou tristonho para a menina e respirou fundo, pensou em algo que responderia sem magoá-la, disse:
- Seu pai precisa resolver algumas coisas e precisamos dar um tempinho a ele. Mas enquanto isso, faremos um grande passeio e até conheceremos um tio seu!
- Eu tenho um tio?
Perguntou Evangeline, se pondo de pé e olhando com animação para o anjo da guarda.
- Sim, e ele está muito ansioso para vê-la e quer que passe um tempo com ele!
- E lá tem jardim para brincar? E fadas?
- Não sei se lá tem fadas... Mas dizem que ele construiu uma escada que leva até as nuvens! Não é legal?
- E as nuvens têm gosto de algodão doce?
- Eu... Acho que sim.
Evangeline se sentou ao lado de seu anjo e ficou a imaginar as escadas de que ele falava, até que pegou no sono. O anjo a cobriu com suas asas e velou seu sono durante toda a tarde, sem piscar os olhos por nenhum instante, ele a guardou.
Enquanto isso, na cidade de Luz, Bemasas preparava seu melhores guerreiros para a batalha, eram quatrocentos soldados de pedra montados em cavalos de papel. Ouviram então um tremor e anunciou o sentinela que se aproximavam os exércitos inimigos, com seus guerreiros de papel e montados em tesouras voadoras. Bemasas deu ordem aos seus soldados, disse:
- Avancem!
E avançaram os soldados de Bemasas contra os inimigos e vice-versa. E os soldados de pedra quebravam as tesouras voadoras, mas os soldados de papel embrulhavam os de pedra e as tesouras cortavam os cavalos de papel e os soldados de pedra voltavam a quebrar as tesouras e ninguém fazia ideia de quem poderia vencer essa luta! Percebendo que estava perdendo seus guerreiros, Bemasas mandou para a batalha mais duzentos soldados de água e o exército inimigo vinha com mais trezentos soldados de fogo, eles se enfrentaram e a força do fogo foi superando a força da água e dessa disputa nasceu um monstro de fumaça chamado Smoke e tomou conta de todo o céu e os inimigos vibravam de alegria, porque haviam despertado seu grande herói! E Bemasas temeu muito. Smoke então abriu seus enormes braços de fumaça e envolveu todos os de Bemasas neles e inalaram muita fumaça, tentavam correr dali, mas o monstro era enorme e os devorava, até que não suportaram mais e foram sufocados. Surgiu então Har, o chefe do exército inimigo e agradeceu a Smoke e o monstro evaporou aos poucos. Har apontou para Bemasas, que lamentava a morte dos seus, e ordenou a seus soldados:
- Prendam Bemasas!
Os soldados de Har seguraram Bemasas e o puseram na carroagem, prenderam seus pulsos com correntes fortes e o levaram dali.
Quando Evangeline acordou, a chuva já havia parado, ela olhou para o lado e o anjo estava a fitá-la com um sorriso, no que a menina perguntou:
- Anjo, você não dormiu?
E ele respondeu:
- Não sinto sono.
Evangeline correu para fora e o anjo imediatamente foi atrás dela.
- Olha, a chuva parou!
Disse Evangeline, abrindo os braços e rodopiando em euforia, e perguntou ao anjo:
- Já podemos ir para casa?
Ele, agachando-se de frente à Evangeline, num tom sereno, falou:
- Evangeline, lembra que estamos indo visitar seu tio?
- Mas eu quero voltar para casa, quero ver meu pai!
- Logo voltaremos. Mas, que tal mais uma viagem voando pelo céu?
- E eu posso fingir que você é meu cavalinho voador!?
- É!
A menina pulou nas costas do anjo e começou a gritar:
- Vai, cavalinho!
O anjo voou até o céu e Evangeline batia os calcanhares nas costelas dele, como quem comandava um cavalo, e o anjo mordia os lábios de dor, mas fingia estar se divertindo. De repente, um pássaro de asas de folhas de papel e que mais parecia um livro, esbarrou neles e Evangeline começou a tangí-lo com as mãos.
- Sai daqui, pássaro feio! Sai! Sai!
Ela gritava, no quando disse o anjo para ela:
- Não, Evangeline! Não bata nele! É um pássaro da sabedoria, pode nos ajudar.
Evangeline parou de tanger o pássaro e no fim ele já estava com as páginas de suas asas todas rasgadas, e ralhou:
- Veja, veja o que ela fez! Veja só o que fez comigo! Veja só o que fez comigo!
- Desculpa.
Falou Evangeline.
- É fácil pedir desculpas, não foram as suas páginas que rasgaram! A próposito, quem são vocês?
E o anjo respondeu:
- Essa é filha de Bemasas e eu sou o anjo da guarda dela, estamos indo para a cidade de Corvus.
- Cidade de Corvus? O que vão fazer naquele lugar horrível? Eu não suporto nem ouvir essa palavra Cor... Cor... Ai!
- Sabe se estamos perto?
- Melhor se estivessem longe! Aquele lugar é terrível!
- Então, estamos perto?
- É só atravessarem a montanha e chegarão em Cor... Ai, que arrepio!
Continua...