A SURPRESA DE UM AMOR...
De SMELLO - Alberto Frederico.
A revelação nos surpreendera, não podiamos ser tomados como con-
fessor, mas alí estava um grande amigo a revelar intimidades e pedir o-
rientação de procedimento, quase de joelhos aguardando o rumo que deveria seguir. Não
se poderia dizer que estava ensandecido, seu juizo
parecia perfeito, consciente, a nobreza de carater de que era possui-
dor credenciava o crédito de confiança, que nele depositávamos.
Ele parecia mais calmo e pouco a pouco foi contando o drama que
estava vivendo. Zuleide, mulher de seu amigo de infância, hoje médico,
Bernardo, insistia em ter um relacionamento amoroso, perseguindo-o a
todos os momentos, sem guardar um mínimo de comedimento, levando-
o situações desagradáveis e comprometedoras.
Chegara a um ponto de ele, Guilherme,desesperado, pensou em con-
versar com o próprio Bernardo,sobre a estranha anomalia de sua mulher,
só assim não procedendo porque poderia sobrevir um rompimen-
to da relação de amizade que perdurava há mais de 25 anos.
A primeira manifestação foi quando Zuleide pedira a Guilherme que lhe
escrevesse uma carta de amor. Ele achara singular o pedido e disse-lhe
ser impossível, não conseguiria externar em palavras paixão e aprofundar
afeições que normalmente aparecem em missivas desse teor.
Como poderia assim se comportar em se tratando da mulher do melhor amigo?
Zuleide replicou: - Você não está agindo como másculo, causa-me estranheza
que não possa separar os fatos, uma circunstância nada tem a haver com um
sentimento. Acrescentando mais, ou você faz a carta ou eu confesso à sua
mulher tudo o que sinto por você.
A coação levou-lhe a escrever a carta, mas teve o cuidado de subscrevê-la e
como se fosse redigida por Bernardo, podendo dessa forma ser tomada como
simples brincadeira, sem outras conseqüências. Zuleide recebeu, leu, gostou
das declarações e ao apertar a mão de Guilherme, agradecendo, acariciou-a.
Guilherme achou que se livrara daquelas inconveniências, evitou voltar a visitar
o amigo, como fazia frequentemente, originando perplexidade à sua mulher, que
lhe convidou irem à casa de Bernardo. Contrafeito voltou a visitá-lo. Zuleide
renovava a inoportunidade, desta vez de forma mais agressiva, dirigindo-se a
Guilherme na presença da esposa e de Bernardo, dizendo: "Se eu pedisse um
beijo na boca, você daria ou ficaria com medo de sua mulher"?
A essa altura Guilherme não sabia mais o que fazer, descontrolado, tentou desviar
a conversa para um assunto diverso daquele que falavam, achou que sua mulher
e o amigo Bernardo não assimilaram o desvario cometido.
Ficou, no entanto, em sua cabeça que o amigo simulara não ter ouvido, causando-lhe
sobressalto, perguntava a sí mesmo, o que estava ocorrendo, admitiu que o casal
pudesse estar com o relacionamento estremecido ou até Bernardo ter alterado seu
comportamento de homem. Rapidamente convidou sua mulher para se ausentarem,
o que fizeram. Lembrara-se,também,que em uma festa de aniverário da mãe
de Zuleide, dançara, por questão de cortesia, com a anciã aniversariante, que ficou
imensamente feliz, agradecendo o gesto de carinho e sentimento. A filha manifestou
ciúmes, não guardando moderação ao dizer que aquele privilégio seria somente dela,
proclamando mais: Você não sai daqui sem antes bailar duas ou três vezes comigo.
O comportamento de Zuleide sempre fora espalhafatoso, muito extrovertida, vestia-se
com roupas de cores vivas, sapatos bem altos, os maiores das sapatarias, em razão
de sua baixa estatura, talvez para que sua figura sobressaisse.
Ainda mocinha ou até mesmo depois de casada, em companhia do marido, não
observava o mínimo resquício de compustura, abraçava-o e beijava-o, estivesse
onde estivesse, na rua ou em uma solenidade. Eram considerados eternos
pombinhos em lua de mel. Mas, tais gestos extravagantes originavam comentários
desairosos, no mais procedia condignamente, nada maculava sua conduta.
Um belo dia Guilherme recebe um telefonema da filha de Zuleide informando-lhe
que ela estava muito mal no hsopital, talvez viesse a ser operada na cabeça,
dependia apenas de um outro exame radiológico e da presença do médico operador.
Não desejando vê-la, evitando principalmente encontrar-se com o amigo Bernardo,
pediu a sua mulher que fizesse uma visita, desculpando-se por sua ausência.
Enfim operada, retirou do crânio um quisto do tamanho de uma laranja. A cirurgia
decorrera satisfatoriamente, o quadro se apresentava estável, embora guardasse
perigo de falecimento, porque tivera de abrir a calota craniana, de dificil reconstituição.
Guilherme resolveu telefonar a Bernardo, que se mostrava inconsolável, sem manter
esperança na recuperação de Zuleide. Sentira que suas palavras a angústia e
intranqüilidade dominavam, mostrava-se céptico pelo restabelecimento da mulher,
seu estado era de pouca esperança.
Guilherme mostrou-se temeroso, em face dos acontecimentos anteriores, confortar
o amigo, preferiu ouvir tudo em silêncio.
Na cabeça de Guilherme apenas um pensamento, aquela conduta de Zuleide teria
sido determinada pela doença, que lhe afetara o célebro?
Razoável a conjetura,mas ela sempre tivera conduta fora da normalidade, trazia
há muitos anos aquela conduta de exceção às regras sociais.
O problema interno da parte mais nobre do corpo humano fora diagnosticado graças
aos exames radiológicos a que se submetera.
Tornara-se digna de ser perdoada dos juizos precipitados que a ultrajaram.
Depois de doze dias passados da cirurgia, Zuleide veio a óbito.
Guilherme preferiu não ir ao sepultamento, uma vez mais solicitou a
sua mulher e a filha fossem ao velório. A prudência assim recomendava,
não sabia qual seria o comportamento do amigo Bernardo, poderia advir um
mal entendido ou reação fora de propósito, aguardaria a missa de 7º dia.
À missa foi apenas com a filha e, logo ao chegar à igreja, se dirigiu a Bernardo,
permanecendo ao seu lado.
Um imprevisto aconteceria, Bernardo dirigindo-se a Guilherme lhe disse:
"Perdemos a nossa namorada". Guilherme reagiu: "O que você quer dizer com
essas palavras"?
Bernardo retorquiu: "Vai me dizer que não sabia ser Zuleide apaixonada por você"?
Enfrentei essa tormenta durante 15 anos, porque eu também era apaixonado por ela.
Transparecia, naquele momento, o pano que separava os
atores daquela representação, cairia como desencanto
- A SURPRESA DE UM AMOR!
De SMELLO - Alberto Frederico.
A revelação nos surpreendera, não podiamos ser tomados como con-
fessor, mas alí estava um grande amigo a revelar intimidades e pedir o-
rientação de procedimento, quase de joelhos aguardando o rumo que deveria seguir. Não
se poderia dizer que estava ensandecido, seu juizo
parecia perfeito, consciente, a nobreza de carater de que era possui-
dor credenciava o crédito de confiança, que nele depositávamos.
Ele parecia mais calmo e pouco a pouco foi contando o drama que
estava vivendo. Zuleide, mulher de seu amigo de infância, hoje médico,
Bernardo, insistia em ter um relacionamento amoroso, perseguindo-o a
todos os momentos, sem guardar um mínimo de comedimento, levando-
o situações desagradáveis e comprometedoras.
Chegara a um ponto de ele, Guilherme,desesperado, pensou em con-
versar com o próprio Bernardo,sobre a estranha anomalia de sua mulher,
só assim não procedendo porque poderia sobrevir um rompimen-
to da relação de amizade que perdurava há mais de 25 anos.
A primeira manifestação foi quando Zuleide pedira a Guilherme que lhe
escrevesse uma carta de amor. Ele achara singular o pedido e disse-lhe
ser impossível, não conseguiria externar em palavras paixão e aprofundar
afeições que normalmente aparecem em missivas desse teor.
Como poderia assim se comportar em se tratando da mulher do melhor amigo?
Zuleide replicou: - Você não está agindo como másculo, causa-me estranheza
que não possa separar os fatos, uma circunstância nada tem a haver com um
sentimento. Acrescentando mais, ou você faz a carta ou eu confesso à sua
mulher tudo o que sinto por você.
A coação levou-lhe a escrever a carta, mas teve o cuidado de subscrevê-la e
como se fosse redigida por Bernardo, podendo dessa forma ser tomada como
simples brincadeira, sem outras conseqüências. Zuleide recebeu, leu, gostou
das declarações e ao apertar a mão de Guilherme, agradecendo, acariciou-a.
Guilherme achou que se livrara daquelas inconveniências, evitou voltar a visitar
o amigo, como fazia frequentemente, originando perplexidade à sua mulher, que
lhe convidou irem à casa de Bernardo. Contrafeito voltou a visitá-lo. Zuleide
renovava a inoportunidade, desta vez de forma mais agressiva, dirigindo-se a
Guilherme na presença da esposa e de Bernardo, dizendo: "Se eu pedisse um
beijo na boca, você daria ou ficaria com medo de sua mulher"?
A essa altura Guilherme não sabia mais o que fazer, descontrolado, tentou desviar
a conversa para um assunto diverso daquele que falavam, achou que sua mulher
e o amigo Bernardo não assimilaram o desvario cometido.
Ficou, no entanto, em sua cabeça que o amigo simulara não ter ouvido, causando-lhe
sobressalto, perguntava a sí mesmo, o que estava ocorrendo, admitiu que o casal
pudesse estar com o relacionamento estremecido ou até Bernardo ter alterado seu
comportamento de homem. Rapidamente convidou sua mulher para se ausentarem,
o que fizeram. Lembrara-se,também,que em uma festa de aniverário da mãe
de Zuleide, dançara, por questão de cortesia, com a anciã aniversariante, que ficou
imensamente feliz, agradecendo o gesto de carinho e sentimento. A filha manifestou
ciúmes, não guardando moderação ao dizer que aquele privilégio seria somente dela,
proclamando mais: Você não sai daqui sem antes bailar duas ou três vezes comigo.
O comportamento de Zuleide sempre fora espalhafatoso, muito extrovertida, vestia-se
com roupas de cores vivas, sapatos bem altos, os maiores das sapatarias, em razão
de sua baixa estatura, talvez para que sua figura sobressaisse.
Ainda mocinha ou até mesmo depois de casada, em companhia do marido, não
observava o mínimo resquício de compustura, abraçava-o e beijava-o, estivesse
onde estivesse, na rua ou em uma solenidade. Eram considerados eternos
pombinhos em lua de mel. Mas, tais gestos extravagantes originavam comentários
desairosos, no mais procedia condignamente, nada maculava sua conduta.
Um belo dia Guilherme recebe um telefonema da filha de Zuleide informando-lhe
que ela estava muito mal no hsopital, talvez viesse a ser operada na cabeça,
dependia apenas de um outro exame radiológico e da presença do médico operador.
Não desejando vê-la, evitando principalmente encontrar-se com o amigo Bernardo,
pediu a sua mulher que fizesse uma visita, desculpando-se por sua ausência.
Enfim operada, retirou do crânio um quisto do tamanho de uma laranja. A cirurgia
decorrera satisfatoriamente, o quadro se apresentava estável, embora guardasse
perigo de falecimento, porque tivera de abrir a calota craniana, de dificil reconstituição.
Guilherme resolveu telefonar a Bernardo, que se mostrava inconsolável, sem manter
esperança na recuperação de Zuleide. Sentira que suas palavras a angústia e
intranqüilidade dominavam, mostrava-se céptico pelo restabelecimento da mulher,
seu estado era de pouca esperança.
Guilherme mostrou-se temeroso, em face dos acontecimentos anteriores, confortar
o amigo, preferiu ouvir tudo em silêncio.
Na cabeça de Guilherme apenas um pensamento, aquela conduta de Zuleide teria
sido determinada pela doença, que lhe afetara o célebro?
Razoável a conjetura,mas ela sempre tivera conduta fora da normalidade, trazia
há muitos anos aquela conduta de exceção às regras sociais.
O problema interno da parte mais nobre do corpo humano fora diagnosticado graças
aos exames radiológicos a que se submetera.
Tornara-se digna de ser perdoada dos juizos precipitados que a ultrajaram.
Depois de doze dias passados da cirurgia, Zuleide veio a óbito.
Guilherme preferiu não ir ao sepultamento, uma vez mais solicitou a
sua mulher e a filha fossem ao velório. A prudência assim recomendava,
não sabia qual seria o comportamento do amigo Bernardo, poderia advir um
mal entendido ou reação fora de propósito, aguardaria a missa de 7º dia.
À missa foi apenas com a filha e, logo ao chegar à igreja, se dirigiu a Bernardo,
permanecendo ao seu lado.
Um imprevisto aconteceria, Bernardo dirigindo-se a Guilherme lhe disse:
"Perdemos a nossa namorada". Guilherme reagiu: "O que você quer dizer com
essas palavras"?
Bernardo retorquiu: "Vai me dizer que não sabia ser Zuleide apaixonada por você"?
Enfrentei essa tormenta durante 15 anos, porque eu também era apaixonado por ela.
Transparecia, naquele momento, o pano que separava os
atores daquela representação, cairia como desencanto
- A SURPRESA DE UM AMOR!