O SANTUÁRIO

— Este lugar é um santuário sabia? — E é guardado por forças muito poderosas, tente entrar e terá que enfrentar uma sentença de morte!
Aquele que falou era um ancião de barbas longas e sua mão enrugada tremia apontando para a caverna escura em forma de templo logo a sua frente. O santuário ficava no alto do monte mais íngreme daquele estranho mundo.
— Quem é você, velho? — Perguntou o jovem delgado de ombros largos e longos cabelos negros.
O ancião trajava uma túnica escura e comprida com um cinto de ouro circundando o ventre, mas de algum modo àquele jovem era desconhecido pelo idoso de barbas longas e poucos cabelos rodeando a cabeça quase calva.
O brilho ofuscante do cinto de ouro certamente chamou a atenção do homem moreno de cabelos negros e longos, e de certa forma a espada que desembainhara no momento que fora abordado na porta da caverna, também chamara a atenção do velho.
—Você ousa apontar uma espada para o guardião do portal da eternidade? — Respondeu o homem velho ficando de frente para o jovem.
O rapaz vestia uma tanga de couro presa a uma corda trançada na cintura, calçava sandálias de couro surrado e, em sua cintura esguia também pendia a bainha de sua afiada espada de dois gumes.
Um crepúsculo avermelhado se formara ante a entrada da caverna escura, sombreando parcialmente os dois personagens que se olhavam fixamente. O homem velho com os olhos azuis arregalados fitava o guerreiro das ilhas sem nome de olhos cinza que queimavam na direção do velho.
—Deixe-me passar velhote! — Ou sentirá a lâmina de minha espada!
—Muitos homens já tentaram passar, e muitos deles bem mais armados e em maior número do que você meu jovem! Então eu deixo você ir pelo mesmo caminho que veio se desistir de entrar!
Uma espada reta brandiu no ar avançando em direção do velho em golpe certeiro, e atingiria seu pescoço caso sua trajetória cortante não fosse desviada de maneira sobrenatural por uma criatura oculta, que pulara das sombras da caverna em defesa do ancião.
O bicho armado de uma espada curva, ligeiro como o relâmpago assaltou o espantado jovem errante, aquele ser tinha a face do próprio terror, as suas orelhas eram pontudas e os seus olhos vermelhos perdiam-se na face com alguns traços humanos que se misturavam a uma caricatura de aparência grotesca de um gigante ogro meio encurvado. Trajava uma armadura escura que cobria totalmente seu corpo maciço e musculoso, apesar do golpe potente desferido pelo jovem de cabelos negros, ouviu-se apenas o som do tilintar dos metais se chocando. Aquela criatura surgida das sombras fez o ancião se afastar para o lado e o jovem guerreiro dar alguns passos para trás na direção do grande precipício.
Uma paisagem pictórica era vista atrás dele, surgida talvez devido ao grande cataclismo ocorrido ha algumas eras atrás.
De algum modo por aqui tudo era mar mil milênios atrás, e a atividade vulcânica que sombreava o horizonte distante, era de certa forma o formador daquelas cadeias de montanhas e vales vistas no horizonte, cada vez mais esfumaçado onde um sol avermelhado sumia vagarosamente detrás das montanhas gigantes.
A criatura rangeu os dentes pontudos e arregalou seus olhos vermelhos na direção do jovem em posição de defesa.
—Isso e bruxaria! — Grunhiu o guerreiro segurando firme na espada.
—Não meu jovem! — Este é um dos últimos guerreiros que ficaram para defender esta entrada, e por eras estão aqui protegendo para que ninguém entre na caverna.
—Ah! Chega de conversa! — Foi o que disse o jovem ao levantar sua espada na direção do bicho que guinchava e urrava ameaçadoramente, o monstro meio homem meio Ogro segurava a espada com sua mão coberta de pelo cinza e dedos com garras compridas.
O combate durou pouco tempo, ninguém sabia de onde vinha à força do guerreiro feroz, mas ele enfrentara a criatura mitológica de igual, saindo vencedor do combate que durara tempo suficiente. Depois de defender alguns golpes sua destreza com a espada de dois gumes certamente foi muito eficaz, conseguiu de forma quase sobre humana desferir um potente golpe, desviando-se do animal quando o mesmo avançando em sua direção escorregou no precipício, caindo de forma assustadora.
—Onde estão os seus guardiões, velho! — Para que eu possa matá-los! — Praguejou.
Certo da vitória o jovem e arguto guerreiro percebeu certo sobressalto no velho, que tentava dar passadas furtivas na direção da caverna. Então apontou sua afiada espada para o matusalém guardião da entrada, em seguida andou calmamente com passos lentos, até encostar sua lâmina próxima da garganta do idoso de olhos arregalados.
— O que você procura?! — Perguntou o ancião gaguejando.
— A chave para a vida eterna! — Disseram que quando encontrasse uma caverna guardada por um velho arrogante, eu estaria bem próximo disso!
— Quem te mostrou o caminho?! Indagou o velhote.
De repente soou de longe uma voz rouca e grave.
—Fui eu!
Tomado pelo espanto, o velho calvo ficou boquiaberto quando viu que a voz vinha da enigmática figura surgida detrás das sombras, e iluminada pelos últimos raios do crepúsculo.
—Lorde Thulsa! — Porque mostrou o caminho para esse pobre selvagem?! — Agora o segredo pode estar correndo sério risco de ser descoberto, não deveria ter feito isso!
-Cale-se Thugra! Você sabe muito bem que muitos cavaleiros conhecem o segredo dentro da caverna no topo do mundo, e agora que meu guerreiro venceu seu campeão certamente nada me impedirá de entrar na caverna e pegar o que me pertence!
Lorde Thulsa de certa forma é um ambicioso mago, e lendas de aldeãos medrosos sujeitos a sua mão de ferro contam está história de forma exagerada, fazendo com que de algum modo o mito se torne real. Thulsa o poderoso lorde de Chebron um dos condados do norte busca insistentemente o segredo da vida eterna.
Sabendo sobre o soldado furioso que guardava a entrada, com um encantamento secreto através de sua magia forjou uma espada mágica de dois gumes, e entregou nas mãos do guerreiro de olhos cinza, tornando de certa forma imbatível aquele jovem selvagem das ilhas sem nome.
—Vamos! Antes que o sol se ponha por completo e não poderemos mais pegar nossa recompensa!
Assim; o guerreiro de cabelos negros seguiu o mago vestido com uma túnica negra e uma capa esvoaçante. Adentraram a caverna sendo vigiados pelo olhar reprovador do ancião ultrajado, como se os pés de lorde Thulsa e do andarilho guerreiro estivessem pisando num solo sagrado.
Quando Lorde Thulsa adentrava a caverna parcialmente iluminada pelos últimos raios do crepúsculo, o ancião gritou, em seguida apanhando uma adaga oculta na sua túnica dourada partiu para cima do mago, porém sua investida foi interrompida por uma espada cortante, sendo que dessa vez não fora impedida por nenhum guerreiro sobrenatural.
Com espanto o mago viu o guerreiro esguio desferir sobre o velho um golpe mortal, atravessando seu corpo, fazendo seu rubro sangue jorrar sobre o chão pedregoso, caindo morto em seguida.
— Ele iria matá-lo! — Grunhiu o bárbaro.
Os olhos do mago não expressaram nenhuma emoção, apenas balançou a cabeça concordando com a atitude do guerreiro. Apanhando uma tocha acesa próxima da entrada do santuário seguiu para dentro do templo em forma de caverna no topo do mundo. Eles se aproximaram de um altar entalhado na rocha iluminado por tochas azuladas com um fogo vivo, ao lado de um fio fino de água transparente que jorrava da parede esverdeada de musgos, enchendo a pia transparente de cristal que não transbordava apesar daquela água correr intermitente. O arguto mago não se impressionou com toda a magia existente dentro do santuário, contudo não era a mesma expressão que se via na face do guerreiro boquiaberto.
—Vamos! Segure a tocha para que eu beba da fonte da vida!
O Guerreiro segurou a tocha iluminando a face satisfeita do barbudo mago de Chebron, quando o mesmo pegou o cálice dourado enchendo com a água cristalina da fonte que nunca transbordava, e bebeu.
Em seguida Thulsa cambaleou como um bêbado, depois de sorver toda a água do cálice caiu duro com se estivesse morto, o cálice vazio rolou na direção do assustado guerreiro como um convite para que ele também bebesse da água.
— Isto é bruxaria! — Grunhiu o jovem vendo que Lorde Thulsa se levantava.
— Meu jovem! Você ainda não bebeu da fonte da vida? — Falou o mago como se desse uma ordem ao jovem.
—Beber dessa água, ela parece que está envenenada! — Que feitiço é esse Bruxo?
—Você não quer viver para sempre guerreiro? — Retrucou o mago.
— Sim! É o que todos queremos! — Respondeu o guerreiro.
—Então beba da fonte!
Da mesma forma que o mago bebeu no cálice dourado, assim também fez o bárbaro segurando sua espada reta com os olhos fixos em Thulsa parecendo sorrir, ao ver que seu campeão também bebia em goles frenéticos, tanto que algumas gotas do líquido santo escorriam pelo canto de sua boca e respingava no peitoral definido, cumprindo assim a profecia.
No momento seguinte as tochas azuladas se apagaram e um intenso brilho pareceu surgir no fundo do templo sombrio. Aproximando-se dos invasores do santuário eterno, aquela luz iluminou tudo como se fosse dia, era possível ver na entrada da caverna que já era noite.
A face barbada de Lorde Thulsa iluminada por aquela luz ofuscante, não estava menos assombrada que o rosto do guerreiro, o mago com os olhos arregalados contemplava a enigmática figura de luz, que parou diante dele.
Uma voz de trovão pareceu ecoar da luz, era uma voz grave nunca ouvida antes por nenhum deles, de algum modo à sonoridade ensurdecedora da voz estremeceu os alicerces do templo, quando o mago Thulsa ouviu o que voz disse, ele ficou pálido como um leproso e tremeu quando ouviu o segredo da vida eterna.
A luz voltou calmamente para o fundo do tempo se apagando vagarosamente. Em seguida as barbas de Thulsa se tornaram alvas como flocos de neve, e sua túnica negra se tornou dourada.
A transformação do guerreiro de cabelos negros foi ainda mais incrível, uma armadura de bronze surgiu cobrindo todo o seu corpo esguio. O mago apesar de toda aquela transformação sabia de algum modo, que quem entra no templo eterno nunca mais sai.
O mago e o guerreiro eram agora protetores e guardiões do segredo da vida eterna.
Thulsa entendeu que o velho guardião da entrada da caverna, era apenas mais um que descobrira que a vida eterna não pode ser vivida no mundo, e o preço cobrado era bem alto.
A única maneira de viver eternamente seria para proteger o próprio segredo da eternidade.
FIM