Rio deles?

Alfredo, tio de mamãe, dava-se bem com a sobrinha, e melhor ainda com papai, que não se recusava a provar - e aguentar - o que saía de sua caixinha de rapé. Quando nos visitava em Pitangui, ou era visitado por nós em Beagá, prodigalizava-se em histórias e estórias que nos faziam resistir brava e estoicamente à chamada de Morfeu.

Maquinista da Central do Brasil, tio Alfie, já não deixando ninguém dormente, saía da linha para viajar mundafora com sua imaginação e seu autodidático conhecimento das cousas e suas causas. Uma de suas paixões era a geografia, disciplina de que sempre gostei, e que viria mais tarde, direcionar minha vida profissional. Capitais dos países do mundo, marcos geográficos, povos e idiomas exóticos eram uma frequente nesses nossos esporádicos e espirrádicos (graças ao rapé!) embates.

Contudo, porém, todavia, mas, entretanto e no entanto, o lado mais onírico que tio Alfie despertava era a descrição que fazia da cidade de São Sebastião do Rio de todos os meses, daqueles anos 50 e 60, que visitava regularmente e que conhecia como a palma de sua mão, e com a planta de seus pés, de tanto que caminhava pela cidade maravilhosa.

E era tanta coisa para se ver e ser rever, que não acaba mais...A mágica lagoa Rodrigo de Freitas então, chegava a passar quinau no Pão de Açúcar...

Sua proposta-convite recorrente era levar papai numa viagem dessas. E antegozando as maravia do Rio, aquelas mordomias de carro-leito, wagon-restaurant, o serviço impecável...Papai sempre acedia ao conceito, sob a aprovação entusiástica de nossa parte. Mas a questão da falta duma "forga" na fábrica é que emperrava tudo, ab ovo. Quem sabe, nas férias, sugeria papai, sob o nosso olhar esperançoso de uma lembrancinha e muita conversa vindas da cidade abençoada pelo Redentor, que, aliás, tava de braços abertos pra receber nosso progenitor.

E, por fim, o Redentor recebeu a ambos, titio Alfie e Luiz, em ocasiões distintas e meio distantes, só que um degrau mais acima de onde, estou seguro, mesmo na mudez andam de olho em tanta abençoada e ah bem suada nudez.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 10/03/2016
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