Ganso Motivado
Todos sabem que a ave notívaga serve bem de cão emplumado de guarda. Quartéis e propriedades rurais são boas moradias para o bicho que devolve a pensão, guardando suas fronteiras.
Antenor era assim meio ganso. Na república em que morava, recebia de merenda toda a etapa de caserna na mesa farta e se esparramava nos colchões de macias bandeiras que adornavam o dolce far niente de suas tardes, ao longo de anos e anos em conselhos desperdiçados.
Nada parecia ser problema para tão preparado guardião. Dizia aos amigos mais pacatos que com ele , enérgico guerreiro, tudo se resolvia na razão da força. Sim , verdade, mas resguardada a proporção de seu entendimento, ele próprio se travestia e grasnando as soluções para os problemas alheios, ameaçava sua leitura do espelho.
Cresceu sua história como a dormiu, plantando anedotas sobre o mundo.
Um belo dia , longe dos conselhos, deu de cara com um funil francês no paraíso do milho e logo gargarejou seus dias inflando as entranhas na fartura gratuita, encantando uma e outra confiture junto a pães de marmelo e aveia negra, já não sendo ganso mas dele o melhor grasnado...