LUZ DO TEMPO
Cada um faz seu tempo...O resplendor advém dos astros, do sol, das estrelas e da luz cada um espelha. Naquele dia, à porta da Igreja da Ajuda, ele tentava desembaraçar os colares que dificultavam o saque do dinheiro do bolso , moeda para poder pagar a cerveja que já bebia. A santa do recinto, uma das mais bonitas da cidade, creio deveria estar rindo da façanha desatada daquele incrédulo. - Mas vejam só, nestes tempos de tanta intolerância religiosa, um devoto do candomblé, um abiã, pelos trajes, ultrajes que assim o demonstram, necessitando de auxílio em minha porta para a sua festa profana, ou seja, a realização do milagre da restauração da ordem capilar dos seus adereços carnavalescos.
Da Rua Chile a partida da patuscada era bastante concorrida, principalmente por aquelas senhoras de meia idade, alcunhadas pelo parentesco de Tia, e pelas muitas turistas, benvindas do Japão e da Escandinávia.
Sim, a centúria masculina atraia as mulheres. Os atabaques e agogós enchiam o espaço de sons e as carnes de arrepios.
Os claríns e as trombetas apresentaram armas, estas mesmas que soaram há muito tempo na Babilônia , vindos pelo Rio Nilo, desde a Núbia. Uma nuvem de perfume de alfazema exultou o olfato quando os sons timpanaram as mentes. A barba cristã do abiã estava empapada de suor que aspergia em gotas sobre o tecido do peito. Salivava aromas de dendê. Quem conhece o gosto sabe o que descrevo. Quem desconhece aprochegue-se, aproveite a batida, o passo é do ijexá. O universo girava. A via láctea, dadivosa, reproduzida estava na dimensão daqueles turbantes repletos e reunidos. O Universo conspirava, o verso inspirava!
Pouco antes, neste quase mesmo relógio, uma negra tão frajola quanto a morena da saga de Ari Barroso, reproduziria o par Bahia-Minas. Vinha ela a pé pela Baixa dos Sapateiros para depois subir pelo Largo do Pelourinho, assistir ao padê e aguardar a saída do Gandhy. A Senhora da Ajuda reconheceu o infiel de uma das procissões da liturgia, de quando caminhava ele bem perto do andor. A Santa resolveu interferir. Assim, não por acaso, a nossa protagonista iluminada , que vinha a pé pela Baixa dos Sapateiros, abordou o incauto folião com a intenção de ajudar.
Ousou desabraçar um feixe de brajás, desamarrando primeiro a fita em laço que represava a metade das vertentes, em um dos ombros. Ele portava o número de cordonês equivalente aos seus anos de vida mas aparentava poder carregar uns dez a menos. Já descendo a Castro Alves, o bloco vindo da Rua Chile, os colares ainda estavam trançados uns aos outros.
Nos dias atuais ninguém mais acredita que toda aquela serventia fosse considerada e de prestígio. Colocar na mão direita da foliã o cordão, amparar com a esquerda por cima e pulverizar uma benção mágica com a alfazema compunha o ofertório. À ela caberia decidir o uso do amuleto naquela hora ou não. Como o tempo passou!
Ainda bem que ela chegou com um olhar ensolarado, um camafeu, encantanda, pronta para decidir a trama dos humgêbês.
Todos os nomes, lagdibá, nação, imperiais, delonguns...rungevi...ensinava o poeta Limeira.
Ele, o incauto, disse olhando-a nos olhos, logo que o momento ditou sua rima: - A matemática é uma linguagem. Este cálculo de um beijo por um fio de contas está errada. Por cada conta conta do colar, cada miçanga destas vale um beijo...
A turba atraída pelo magnetismo do momento saudava:
- Não para que ainda estão filmando!
Ela largou o Seu bloco de camisas e segue-o no Maior Afoxé do Mundo...e da Bahia! Foram para o sempre felizes!
Cada um faz seu tempo...O resplendor advém dos astros, do sol, das estrelas e da luz cada um espelha. Naquele dia, à porta da Igreja da Ajuda, ele tentava desembaraçar os colares que dificultavam o saque do dinheiro do bolso , moeda para poder pagar a cerveja que já bebia. A santa do recinto, uma das mais bonitas da cidade, creio deveria estar rindo da façanha desatada daquele incrédulo. - Mas vejam só, nestes tempos de tanta intolerância religiosa, um devoto do candomblé, um abiã, pelos trajes, ultrajes que assim o demonstram, necessitando de auxílio em minha porta para a sua festa profana, ou seja, a realização do milagre da restauração da ordem capilar dos seus adereços carnavalescos.
Da Rua Chile a partida da patuscada era bastante concorrida, principalmente por aquelas senhoras de meia idade, alcunhadas pelo parentesco de Tia, e pelas muitas turistas, benvindas do Japão e da Escandinávia.
Sim, a centúria masculina atraia as mulheres. Os atabaques e agogós enchiam o espaço de sons e as carnes de arrepios.
Os claríns e as trombetas apresentaram armas, estas mesmas que soaram há muito tempo na Babilônia , vindos pelo Rio Nilo, desde a Núbia. Uma nuvem de perfume de alfazema exultou o olfato quando os sons timpanaram as mentes. A barba cristã do abiã estava empapada de suor que aspergia em gotas sobre o tecido do peito. Salivava aromas de dendê. Quem conhece o gosto sabe o que descrevo. Quem desconhece aprochegue-se, aproveite a batida, o passo é do ijexá. O universo girava. A via láctea, dadivosa, reproduzida estava na dimensão daqueles turbantes repletos e reunidos. O Universo conspirava, o verso inspirava!
Pouco antes, neste quase mesmo relógio, uma negra tão frajola quanto a morena da saga de Ari Barroso, reproduziria o par Bahia-Minas. Vinha ela a pé pela Baixa dos Sapateiros para depois subir pelo Largo do Pelourinho, assistir ao padê e aguardar a saída do Gandhy. A Senhora da Ajuda reconheceu o infiel de uma das procissões da liturgia, de quando caminhava ele bem perto do andor. A Santa resolveu interferir. Assim, não por acaso, a nossa protagonista iluminada , que vinha a pé pela Baixa dos Sapateiros, abordou o incauto folião com a intenção de ajudar.
Ousou desabraçar um feixe de brajás, desamarrando primeiro a fita em laço que represava a metade das vertentes, em um dos ombros. Ele portava o número de cordonês equivalente aos seus anos de vida mas aparentava poder carregar uns dez a menos. Já descendo a Castro Alves, o bloco vindo da Rua Chile, os colares ainda estavam trançados uns aos outros.
Nos dias atuais ninguém mais acredita que toda aquela serventia fosse considerada e de prestígio. Colocar na mão direita da foliã o cordão, amparar com a esquerda por cima e pulverizar uma benção mágica com a alfazema compunha o ofertório. À ela caberia decidir o uso do amuleto naquela hora ou não. Como o tempo passou!
Ainda bem que ela chegou com um olhar ensolarado, um camafeu, encantanda, pronta para decidir a trama dos humgêbês.
Todos os nomes, lagdibá, nação, imperiais, delonguns...rungevi...ensinava o poeta Limeira.
Ele, o incauto, disse olhando-a nos olhos, logo que o momento ditou sua rima: - A matemática é uma linguagem. Este cálculo de um beijo por um fio de contas está errada. Por cada conta conta do colar, cada miçanga destas vale um beijo...
A turba atraída pelo magnetismo do momento saudava:
- Não para que ainda estão filmando!
Ela largou o Seu bloco de camisas e segue-o no Maior Afoxé do Mundo...e da Bahia! Foram para o sempre felizes!