Nobre Rei

Todos aguardavam que o rei apresentasse seu filho como herdeiro do trono, mas no íntimo o rei ainda tinha dúvidas se seu primogênito tinha todas as qualidades necessárias para assumir tão difícil e nobre tarefa. Após muito deliberar com a rainha propôs ao príncipe que fosse até o mais sábio homem do reino para lhe fazer perguntas que o orientariam caso assumisse o reino. Dependendo das perguntas realizadas o príncipe mostraria maturidade e bons propósitos e as respostas recebidas seriam de grande valia na condução do reino por toda essa geração. A rainha, temendo que o filho falhasse nesse teste, ordenou que o filho levasse consigo o mais novo sábio encontrado, pois no caminho teria companhia inteligente para conversar, e o novo sábio com certeza seria amigo do novo rei, podendo ajuda-lo nas temeridades futuras.

Partiram os dois noite adentro, numa jornada que duraria meses até o topo da mais alta montanha do reino, enfrentaram chuvas torrenciais, nevascas, calor escaldante e ventos sufocantes, cruzaram pântanos, rios, mares, lagos e até um deserto.

Durante toda a viagem os jovens conversavam sobre os mais diversos assuntos, desde política, agricultura, artes, economia, esportes e damas. O jovem sábio falava livremente e francamente sobre tudo que era perguntado. O príncipe rapidamente o reconheceu como um bom amigo a quem podia abrir o coração e contar-lhe as inseguranças. Tinha muito medo de ser rei, pois sobre ele pesariam todas as responsabilidades do reino, seu sucesso ou seu fracasso, e sentia-se muito frágil em suas convicções, pois tinha pouca experiência de vida.

Por diversas vezes eles cruzavam com outros rapazes e homens em seu caminho, que possuíam as mais diversas necessidades, e como não tinham pressa sempre ajudavam os outros a conseguir seus objetivos, desempacando burros, atravessando crianças no rio, auxiliando na colheita de idosos, na construção de moradias e proteções.

Eles sempre pagavam sua alimentação e pernoite e quando assaltados por bandidos, esses não os tiraram tudo que possuíam, deixando-os com as roupas e sapatos em sinal de bondade (pelo frio que fazia). O jovem sábio sempre via o lado bom das coisas e não parecia preocupado com sua experiência de vida, e dizia que para ser sábio basta querer e não desistir.

Ao chegar ao sábio eles se despediram com tristeza um do outro, pois haviam aprendido muito e firmado uma amizade sólida.

O jovem príncipe retornou sozinho à sua casa e se tornou um nobre rei, com elevado senso de justiça e sólida condução do reino à prosperidade. Sua mãe estava sozinha, pois o rei havia desaparecido.

Muitos anos depois o rei foi chamado à montanha por seu amigo, refez o caminho, e para sua surpresa encontrou seu velho pai prestes a falecer que lhe perguntou quais foram as perguntas que fez ao velho sábio, e quais foram as respostas que obteve.

O filho aflito atendeu ao pedido do pai revelando seu segredo.

Pai, perguntei se ele podia me oferecer água, ele me deu um copo com água e eu bebi.

Ele me disse que tudo que eu precisava saber estaria no fundo do copo, eu olhei pelo copo e nada vi, então ele me mostrou o copo novamente, do lado de fora de sua caverna, pelo fundo do copo vi o caminho que percorri até lá.

Percebi que tudo que precisava para me tornar um bom rei era estar disposto a correr o risco e percorrer o caminho que você havia trilhado antes de mim, com bondade e amizade.

Mas seu segredo está bem guardado comigo, foi você quem deixei nessa caverna, não foi? E não aquele que parecia ser um jovem amigo.

Obrigada! Eu também farei por meu filho o que você fez por mim. O que direi à minha mãe? Não precisa dizer nada a ela, pois ela sabe onde estou desde que saí, ela tem me visitado sempre que pode, virá quando você se casar e não mais sairá daqui. Porque a nobreza de todo rei está em se dedicar a todos de seu país, não apenas aos caprichos de sua vontade ou de sua família. Seja feliz!