Es pó?
Nos meados dos anos cinqüenta, a cooperativa da companhia de tecidos abastecia o operariado do Brumado, ofertando gêneros básicos, a preços razoáveis, entre secos e molhados. Uma vez por mês, o caminhão trazia a mercadoria, e a dupla Geraldo Preto e Aristides, é que a distribuía. Praticamente, todo o povoado, festejando, comparecia, e de sacola vazia, fila é que fazia pro sortimento, como se dizia.
Vez por outra, pintava alguma novidade, fugindo ao remerrão do arroz e banha, manteiga, açúcar e feijão...Duma feita, foram os quitutes de porco, que vinham numas latinhas trapezoidais e de que o Jésus abusara demais. Seu monumental desarranjo intestinal, por falta de papel, consumiu muito jornal...e tanto adubou seu quintal.
E agora, perante a turba, ordenada, embora ansiosa, via-se surgirem umas latinhas bonitinhas, rotuladas com brilhantes medalhinhas que louvavam a virtude do produto que encapsulavam: era chocolate em pó, ao sabor natural, superpremiado em exposições universais. As medalhas, a bem da verdade, passavam quinau naquelas das devoções religiosas que todo mundo tinha por milagrosas, mas que eram tão esmaecidas, diante daquelas loirinhas, tão oferecidas.
E Maria Quininha não hesitou, quando a sua, feito um troféu, no balcão arrebanhou: foi logo pra quina do passeio, abriu a tampinha e, depois de provar o conteúdo na pontinha da língua, deu uma cusparada e verteu todo aquele pó amargo ali mesmo na rua, sob o olhar atônito de tantos cooperativados: queria porque queria aquela latinha bela, pra mandar o latoeiro botar-lhe uma asinha, e tomar café com leite nela...