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Era tão triste (miniconto)

De longe percebi sua tristeza. Soluçava inconsolavelmente. O guardanapo sobre a escrivaninha estava encharcado. Haviam ligado o som na sala de visitas. Alguns jovens e adultos conversavam e riam descontraídamente. No terraço um casal de idosos contava histórias para os pequenos da família. À medida que o sol foi sumindo no horizonte, ele chorava cada vez mais. Em meio a todo aquele burburinho ninguém lhe ouvia. Sua dor carregada de outros tantos sentimentos passou, como as dores de inúmeras gentes desapercebidas. Mas... isso não tem importância, não. Era só um menino de pés descalços, sem família, sem casa, sem escola, sem pão, que partiu antes da hora, deixando um verso triste chorando sua perda. Bobagem, não vai fazer falta, não. Amanhã, muitos meninos e meninas nascerão. Embora a vida continue 'perdendo' cada dia mais.
Na hora do Ângelus, uma senhorinha que o conhecia das ruas, pensou nele no momento em que respondia às Ave Marias. E de seus olhos cansados, vi que algumas lágrimas escorriam.
Era apenas um verso triste que chorava a morte de um menino triste, que ninguém sentiu.
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Natal/ RN, 09 de Janeiro de 2015
Aparecida Ramos
Enviado por Aparecida Ramos em 15/01/2016
Código do texto: T5512151
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