Um conto do Valhalla
Primeiro ato
"Aquela que se torna"
Abriu os olhos lentamente e tentou distinguir o local no qual estava, não viu nenhuma de suas irmãs; deu uma boa olhada ao redor e o que viu parecia ser uma igreja velha e abandonada. De repente um relâmpago passou pelos vitrais seguido por um estrondo fantasmagórico do trovão.
“ Onde está Loki ? E quanto as outras ?”
Lembrava-se da última cavalgada, quando saíram sob as ordens de odim em busca de mais um dos valorosos guerreiros dos dias atuais, porém no meio do caminho ele surgiu como uma tempestade vinda do “nada”. Era Loki e seus anjos decaídos; houve batalha nos céus, e em uma estratégia mal concebida as valkírias foram separadas. Como poderiam retornar a Asgard se não estivessem juntas, os portões de Valhalla nunca se abririam desta maneira e principalmente porque ainda não haviam cumprido o mandado de seu senhor. Seu pai não toleraria fracassos mesmo em uma situação tão adversa como aquela
As portas da velha catedral se romperam numa explosão sem par e a chuva advinda da tempestade que castigava o mundo lá fora invadiu impetuosamente o ambiente levada por ventos furiosos por todo o grande salão repleto de bancos empoeirados e imagens antigas. Os relâmpagos surgiam a todo momento como seres etéreos e em seguida trovões ribombavam como os golpes do Mjolnir. O espectro passou pela porta quase se arrastando e sua voz ecoou por toda a igreja:
_ Sküld!_ Urrou a sombra.
Ela olhou ao redor numa reação de batalha; notou que não estava mais usando sua armadura reluzente, tão pouco tinha sua lança dourada em mãos para se defender.
_Valkiria!!_tornou a Bradar o ser sombrio.
Sküld correu tentando manter-se oculta aos olhos fantasmagóricos da criatura que varriam todo o lugar, mas ele notou e partiu em sua direção. A guerreira não conseguiria confrontar tal ser das profundezas sem as armas de Asgard, mas sabia que o confronto era inevitável; jogando-se pelo chão ela rastejou em meio a poeira, teias de aranha, e ratos que fugiam ao vê-la. Queria manter uma distância segura em relação ao “vulto”.
_Suas irmãs foram capturadas._ recomeçou o espírito com a voz ao mesmo tempo gutural e estridente. E continuou._ Lord Loki terá misericórdia de você, basta apenas se entregar aos seus desejos.
O monstro parecia fazer um tremendo esforço para produzir som que fosse audível, e ela não cria que suas bravas irmãs tivessem tombado diante dos anjos decaídos de Loki “o velhaco”, por outro lado, se não estivessem combatendo juntas não teriam realmente muita chance contra as artimanhas do mestre dos truques e das maldades.
Mais um relâmpagos passou pelos vitrais, destruindo-o completamente e chegando ao solo causou o mesmo estrago em tudo no que tocou, bancos e assoalho da velha igreja, uma cratera se abriu a esquerda de onde se encontrava a valkíria; se ela fosse um pessoa comum agora certamente estaria gravemente ferida ou senão morta, entretanto ficou bem mais abalada do que de costume. Não podia crer, mas provavelmente estivesse perdendo sua imortalidade. O tempo estava contra ela também; não fazia idéia de quantas horas ou dias estivera desacorda desde a batalha nos céus.
Teria de fugir, mas preferia a morte e o esquecimento a ter que retroceder em batalha, nunca fugira e não seria aquela noite tempestuosa que testemunharia a queda das filhas de Wotam, nem uma catedral abandonada onde ninguém veria o confronto; não havia honra alguma nessa derrota, mas a vitória por outro lado sempre era vitória e trazia consigo lembranças de uma outra época, uma época onde os homens resolviam-se em confrontos titânicos à lanças, machados e muita vontade e fervor pelos campos da Escandinávia, quando o império dos Aseir era dominante por todos os condados e principalmente nos corações e mentes dos guerreiros valorosos como sigfrid e tantos outros.
O espectro tornara-se translúcido e flutuava junto aos caibros que sustentavam o velho telhado, vez por outra retornava a sua forma corpórea, mas sempre que a luz ofuscante dos relâmpagos invadia o ambiente ele voltava a ser como um espírito. De repente o monstro mergulhou em um golpe certeiro que arremessou a jovem e bela guerreira a metros de distância chocando-se contra o altar do templo e antes que ela fizesse algo a criatura emitiu um pesado grito que feriu seus ouvidos, depois como que chamando as sombras para a batalha o anjo decaído convocou:
“ Ergam-se, sombras, por Loki levantem-se e conduzam esta valkiria ao lugar onde nem a honra nem a glória importam e onde tudo o que há é o esquecimento eterno, de onde o príncipe das potestades do ar comanda os seus anjos”.
Tal como o chamado foi a reação das sombras que se levantaram como um pequeno exército sobre as ordens do espectro, não possuíam forma alguma nem de homens nem de animais e atacavam-na de todas as formas possíveis. Sküld resistia como era possível embora a cada vez que a luz tremeluzente surgia o exército se retirava para uma zona onde nenhum mortal ou imortal pode vagar, uma zona feita apenas para as sombras; afinal onde há luz não existe escuridão.
Lembrando-se de palavras antigas pronunciadas por homens servos de um Espírito superior a tudo e todos que ela mesma conhecia, superior até mesmo ao próprio Odim; a esperança renasceu como a aurora que derrota a noite e irrompe para um novo dia de vitórias e Sküld desejou intensamente vencer aquela batalha, as sombras retornaram e começariam outro ataque quando uma nova explosão ensurdecedora fez-se presente, com uma chuva de raios destruindo tudo o que encontrava pelo caminho. Quando finalmente parou a tempestade de relâmpagos a bela jovem envergava novamente sua poderosa armadura forjada em tempos imemoriais e segurava na mão direita a lança que traria o fim aquele confronto. Por detrás do elmo dourado seus olhos azuis produziam uma luminosidade de mesma cor emanando ao ponto que seus adversários pudessem ver.
As sombras avançaram ao comando do espectro e com movimentos rápidos e firmes de uma exímia guerreira, uma a uma as sombras foram derrotadas pela luz que faiscava reluzente no mover da lança, por fim todo o ambiente havia se ilimunado apenas pela presença dela e restavam apenas o vulto grotesco e Sküld.
O espírito negro assomou para fora da catedral, para os braços da tempestade em um vôo e de lá desafiou a mulher.
“ Gostaria de ter Sleipnir aqui comigo”. Ela pensou, e em seguida ergueu-se também em vôo.
Sob a tempestade eles se digladiaram tão brutalmente que o som dos trovões estavam sendo subjugados pelos estrondos produzidos em seus golpes um sobre o outro e assim foi durante toda à noite até que a aurora começou a intentar surguir e o terror espectral de Loki perdera as forças sendo transpassado pela poderosa lança da deidade; com um grito medonho o anjo decaído se desfez em pleno ar retornando para o lugar sombrio de onde viera e onde com certeza seria punido por seu senhor. Sküld por sua vez tomou a estrada luminosa dos raios de sol matutinos em busca de suas irmãs seqüestradas.
Fim do primeiro ato.