No coreto da praça- 1.
No coreto da praça
capítulo 1
Após uma terrível briga com meu marido, me tranquei no quarto enquanto o ouvia quebrar algo na sala, comecei a chorar por ver que nossa relação que a principio fora tão intensa e amorosa, se transformara naquilo, brigas após brigas e um odiando o outro, como as coisas puderam chegar a aquele ponto? Me olhei no espelho e vi que aquela mulher refletida não parecia eu, de fato não poderia ser eu, ela estava triste, acabada, com os cabelos despenteados, maquiagem escorrida, e olhar perdido. Me perguntei por alguns minutos, onde estava aquela jovem cheia de sonhos? Aquela que estudou por anos e tinha uma lista de objetivos a serem realizados, onde ela se perdeu?
Sem conseguir encontrar resposta alguma, resolvi parar de pensar nisso. Decidi sair e caminhar um pouco, aquele ambiente não estava me deixando respirar. Antes de sair, passei pela sala e vi um porta retrato, o juntei... Era nossa foto de casamento, estava com o vidro quebrado, e meu marido, sabe Deus onde estava. Lágrimas quiseram saltar de meus olhos, mas as contive, peguei um casaco e sai.
Fui até uma praça que ficava próxima a meu apartamento, estava um pouco escura, e quase deserta, mas isso não me importava, minha intenção era ficar à sós com meus pensamentos mesmo, na verdade a intenção era fugir deles, mas eu sabia que isso não ia acontecer. Se algum assaltante viesse, que levasse minha dor, pois nada mais tinha para oferecer. Adentrei na praça, por entre as arvores, fui envolvida pela tranquilidade de um coreto, apoiei-me e observei a paisagem, e por alguns segundos consegui esquecer meus problemas e deixei minha mente descansar, mas isso não durou...
Ouvi alguns gritos, eram de mulher, e vinham de algum canto da praça, corri a principio de medo e depois na direção do som, tinha a intenção de ajudar, mas logo mudei de ideia, as sombras da noite me escondiam e por detrás delas e das arvores pude ver o que acontecia, uma garota jovem, estava sendo atacada por um homem forte e muito alto, como não havia ninguém mais, perto, não pude pedir ajuda e se eu tentasse sair dali, poderia fazer barulho e atrair a atenção do homem para mim, tudo o que pude fazer foi jogar uma pedra para outra direção, o homem escutou aquele barulho e julgou que alguém estava vindo então correu.
Fui até a moça, ela estava assustada e ferida, perguntei-lhe o que havia acontecido, quem era aquele homem, ela me disse que não sabia, mas que já o havia visto antes, levei-a para minha casa, dei água a ela e disponibilizei meus remédios para seus ferimentos, enquanto ela estava sentada na minha cozinha, comecei uma conversa tão intensa com ela, como se fossemos amigas de infância, embora ela fosse uns 10 anos mais jovem que eu, ela me contou que estava tão confusa naqueles dias, que tinha fugido de casa e que não sabia para onde ir, embora fosse errado e completamente sem noção da realidade, ofereci minha casa para ela ficar por alguns dias, ela não me transmitia nada de mau, então confiei na minha intuição, era apenas uma garota que precisava de ajuda, era só por alguns dias...
Como eu estava sem empregada, ofereci o quarto da mesma para a moça, que não quis me dizer seu nome, pediu apenas que a chamasse de Iris, que era o nome de uma boneca que ela teve, após tomar banho e me agradecer infinitamente, deitou-se. Fui então para a sala esperar o Carlos chegar. Horas se passaram e nada dele, assumi que ele estava na casa de algum amigo, na certa não aguentava mais ficar sob o mesmo teto que eu, antes de ir me deitar, cheia de raiva e tristeza, passei no quarto onde a Iris estava, abri devagar a porta e a vi em um sono calmo e tranquilo, e logo senti algo tão estranho, e isso só aumentou quando vi o que ela tinha colocado em cima da mesinha, um colar, extremamente familiar, aquilo me alertou, será que ela o roubara? Mas não conseguia lembrar se era meu, ou se o tinha visto em algum lugar, resolvi deixar de paranoia e fui me deitar. Mas aquele colar e aquela sensação não me saiam da cabeça (...)