Um dia de Paulo

Um dia de Paulo

Paulo acordou às dez e meia da manhã. Era segunda-feira e sua cabeça doía muito. O fim de semana foi uma loucura, pensou. Bebera no dia anterior uma mistura de Vodka barata e energético que lhe fez a boca amarga. O trânsito já buzinava à sua janela anunciando que o mundo não acabou, contrariando uma expectativa íntima e sutil. Ainda deitado, recapitulou alguns flashes. Um garçom de colete vermelho. Uma discussão. Uma garota chorando. Risadas. Uma folha de cheque. Talvez duas. Levantou-se.

Entrou em seu banheiro, mas não olhou no espelho logo de entrada. Cabeça baixa abriu a torneira e encheu a concha das mãos com água fria. Espalhou a água pelo rosto. Puxou os cabelos para trás e ergueu o rosto. Encarou-se de frente. Um alívio momentâneo o dominou: não havia em sua face pálida, ou nas olheiras profundas sinal de luta corporal. Conjecturou que foi à boate, bebeu, tanto quanto todas as outras pessoas e voltou pra casa com algum amigo.

A hipótese se confirmou após alguns telefonemas que deu antes mesmo de sair do quarto. Depois do banho foi tomar seu café.

Passou o dia todo com o pensamento na noite anterior. Mudava os canais sem perceber. Uma enorme crise existencial expandia-se dentro de seu peito apertado. Perguntou-se quanto tempo se passaria até que alguém o acordasse para a realidade. Indagou a sim mesmo se não tomaria jeito. A ressaca moral fustigava a mente confusa. Pegou um livro para se esquecer que era um traste. Dom Casmurro. Não passou da primeira página.

De repente a casa se enche. Começam a transitar pela sala dezenas de pessoas. Alguns amigos, seus avós... Inexplicavelmente todas as mulheres com as quais Paulo tivera algum tipo de envolvimento aglutinavam-se sobre ele. Estóico, limitou-se a cobrir a cabeça com o travesseiro.

O Barulho aumentou. Copos de vidro caiam no chão a cântaros. A música estava altíssima. Carlos Gardel no stereo.

O som de um despertador o fez tirar o travesseiro do rosto. Olhou de lado. Dez e meia. Dor de cabeça.

Bebeu um copo de Vodka e fez algumas ligações para se lembrar da noite anterior.

Leonardo Leão
Enviado por Leonardo Leão em 02/07/2007
Reeditado em 30/01/2009
Código do texto: T549437