SAPATINHOS NA JANELA (PARA ANALIZZ)

Então a árvore de Natal finalmente ficou pronta. Analizz olhava maravilhada para a mamãe, que olhava maravilhada para a árvore. Que tinha na simplicidade sua maior beleza.

Agora no seu terceiro Natal, Analizz aprendera muitas coisas. E sabia de outras tantas que ninguém imaginava. Sabia que Papai Noel deixa os presentes debaixo da árvore. Mas só depois que já escureceu. Que ele sabe certinho quais os meninos e as meninas obedientes.

Só que uma coisa intrigava Analizz. Intrigava tanto, que muitas vezes, ela coçava a cabecinha pensando: Como é que Papai Noel vai saber e trazer exatamente o presente que eu quero?

Essa pergunta começou a ser respondida durante uma brincadeira com as amiguinhas. Num certo momento, uma começou a perguntar para a outra, o que tinha pedido de presente ao Papai Noel.

Depois de ouvir as respostas Analizz que era a novata da turminha se aproximou um tanto tímida das amiguinhas e criou coragem para perguntar.

— Com vocês fizeram para pedir os presentes?

E as três menininhas responderam em sequência.

— Pelo computador do papai!

— Pelo tablet da mamãe!

— Pelo celular da vovó!

Depois ainda deram um sorriso daqueles bem marotos. Um sorriso que dizia: “Essa menina não sabe de nada”.

Analizz fez de conta que nem ela com ela, e se afastou feliz da vida. Ela sabia muito mais do que as meninas pensavam. E agora sabia também como fazer para pedir o seu presente.

E Analizz bolou seu plano. O domingo que estava chegando seria o dia perfeito. Até sonhou com aquilo na noite de sexta-feira e do sábado.

A primeira chance foi logo depois do almoço de domingo. Analizz viu seu vovô mexendo no computador. “É agora ela pensou”.

— Vovô!

— Sim! — E vovó nem tirou os olhos do jogo de paciência.

— Pode me ajudar a pedir meu presente ao Papai Noel no computador.

— Depois Analizz. Depois o vovô te ajuda.

A segunda chance apareceu só à noitinha. O tablet da mamãe estava dando sopa sobre a mesa. Onde estaria mamãe? Analizz não demorou muito para descobrir. Mamãe estava namorando. E quando mamãe está namorando ai ai ai, melhor nem chegar perto.

Perto da hora de dormir já de pijaminha, e amuada com aquelas coisas de gente grande, Analizz viu a vovó sentada na sala vendo TV. O filme era sobre o Natal.

Analizz sentou-se perto da vovó que acariciou sua cabecinha.

— Tá com soninho?

Analizz ia responder que sim até que viu o celular ali do ladinho. Pegou-o e começou a brincar. De celular ela também já sabia muita coisa.

— Vovó como a gente faz para falar com o Papai Noel?

— Falar com Papai Noel?

— É vovó. Para pedir um presente.

Vovó deu um sorriso. Não era um sorriso igual o daquelas meninas.

— Ah! Aninha. Papai Noel não tem telefone celular.

— E computador?

— Nem computador e nem tablet.

— Então vovó como vou pedir o meu presente?

— Para pedir presente de Natal ao Papai Noel tem um jeito diferente.

— Como?

— A gente pega um par de sapatinhos que já não servem mais, depois escreve um bilhetinho com o nome do presente, coloca dentro e deixa na janela.

— Só isso?

— Só isso. Papai Noel passa voando de treno, vê os sapatinhos e leva.

— Por que ele leva os sapatinhos?

— Ele leva para dar aos meninos e meninas que não podem comprar um. É uma boa ação tua e dele.

Analizz ficou algum tempo matutando toda aquela simplicidade.

— Quer colocar um par de sapatinhos teu na janela?

— Quero!

E lá foram as duas. Escolheram um par de sapatinhos azul que já não servia mais, e amarraram uma fitinha. Depois vovó pegou caneta e papel e perguntou para Analizz o presente que ela queria.

Analizz abraçou a vovó e cochichou baixinho no seu ouvido. Queria que só ela ouvisse.

— Hum! — E vovó sorriu enquanto escrevia.

Depois com a ajuda da vovó Analizz colocou os sapatinhos na janela do seu quarto.

Quando o dia amanheceu Analizz acordou e correu para a janela. Os sapatinhos não estavam mais lá. Papai Noel tinha levado.

Mesmo assim Analizz ficou ansiosa até a noite de Natal. Quando as luzes da sala se acenderam lá estava o presente. Exatamente aquele que vovó ajudou a escrever no bilhetinho e ela colocou dentro do sapatinho.

Em algum lugar do mundo havia outra menininha feliz. Que agora tinha sapatinhos para calçar.