Eu, Mais Fome e Uma Encruzilhada - CONTO/POEMA
dado à circunstância favorável e
consequentemente à favor do meu caminho,
eis de súbito e apetitoso banquete,
sobreposto no barranco d'uma encruzilhada.
sei que macumba não fala!, mas
ao que tudo indicava, o sujeito cujo
feitio endereçado se dava
só poderia ser a alguém apurado
e fino.
(receita das braba que só vendo!)
cabeça degolada de cabra ao chifre
("arqueados para trás"), entre outros
ingredientes que subiram na vida, sob
forte indício: farofa gourmetizada,
uva-passa e azeitonas importadas,
mais pipoca e uns docinhos.
ao lado
um maço de cigarros juntamente com
uma garrafa de vinho.
era eu
longe de casa e ali tudo prontinho!
meu estômago, insistente, me intimava.
e eu mais pra SIM do que NÃO
suscitei: vai ou racha! é sim ou não...
(...) e, entre alguns instantes passados
– na fé faminta a ser confirmada –, foi-se
goela abaixo meia garrafa de vinho e...
nada.
porém, com muita sede e a fome roendo
fundo meu torso
a ponto de engolir um boi pela perna
sozinho
tratei logo de ficar com o maço de cigarros
inda o vinho.
Dali a pouco por certo tomei o rumo de casa
muito embora indagando:
comida de rua até que vai, mas de oferenda
nem à moda cambaleante à alcoólica.