O jardim secreto
O jardim secreto
Entre os anjos de plantão naquele espaço do céu, um se destacava por sua tristeza e ansiedade. O supervisor do turno já havia observado há algumas horas sua atitude depressiva, contagiosa e desnecessária. Consultou seu arquivo e verificou após longo exame que ele não estava super atarefado, pelo contrário tinha desfrutado de férias recentes em outras esferas similares a sua dimensão. Ainda era cedo para fazer-lhe alguma observação. Anjos também tinham seus dias de tristeza, e nostalgia. O supervisor conhecia bem seus subordinados e quando se tratava de dar-lhes um tempo para adaptação ele o fazia com muito carinho e a amor.
Não demorou muito e o anjo tristonho veio ao encontro do supervisor. Nem precisou dizer nada, o amigo sabia os motivos de sua desilusão.
Achava-se triste e deprimido, pois falhara em uma importante missão na terra. Sentia-se decepcionado consigo mesmo. Maria do Rosário sua assistida resolvera dar fim a sua vida. O anjo que lhe guardava tentou de todas as formas impedi-la de cometer tal ato.
Eliel cansou-se de assistir Maria do Rosário, e tirou férias. Solicitou a intervenção de seu supervisor e voou para outras paragens. Numa dessas fugas encontrou em uma dimensão similar a terra, um oásis no meio do deserto cósmico. Lá ficou um tempo a contemplar o mais belo jardim que até então tinha visto. As flores que lá desabrochavam eram especiais de um colorido suave aos olhos, toque macio, e perfume esplendoroso. Até a brisa que passava parecia especial, era leve e tinha uma melodia carinhosa que fazia as flores bailar num compasso harmonioso.
Em sítio tão aprazível, Eliel passou algum tempo recuperando suas energias para voltar a sua missão. Logo após sua volta, sentiu-se esgotado de novo. Maria estava muito negativa e lhe dava um grande trabalho para manter sua guarda fechada dos predadores de energia. Eliel vivia constantemente voando até o novo abrigo que encontrara no meio daquele caos. Lá apreciava as flores, sentia a brisa suave e sonhava.
Em um de seus sonhos alados, tinha corpo e alma, era humano e sentia todas as dores e alegrias normais a esta espécie. E finalmente podia compreender um pouco como era ser humano. Maria do Rosário, sua assistida era mesmo ingrata. Tantas bênçãos que o Criador lhe derramava a cada centésimo de segundo. Como podia ela rejeitar sua angélica ajuda e se enredar na trama do mal? Ela derramava tantas lágrimas por coisas tão banais. E na sua aflição por não poder inspirar a sua assistida, sentimentos mais nobres, no corpo humano em que residia momentaneamente, chorou muitas lágrimas sentidas.
O supervisor para levantar o ânimo de Eliel, usou de um recurso muito eficaz. Acenou-lhe dizendo-lhe amorosamente: - Vamos até seu oásis belo como um paraíso. Voaram e em segundos alcançaram o outro lado do cosmos. Dentro do oásis, Eliel transformou-se, a magia das flores, o perfume, a bela paisagem tudo colaborava para uma troca de energia benéfica.
O supervisor então lhe disse: - Não fique triste ou deprimido, Eliel. Você não foi vencido em sua missão. Seu amor fiel e incondicional a sua assistida, deu resultado, quando suas lágrimas caíram no solo árido do coração daquela mulher, as sementes do bem que lá estavam adormecidas, começaram a germinar e formaram um jardim secreto na alma de Maria. Não se preocupe. Algum dia, na grande imensidão da roda mágica do tempo, Maria vai acordar de novo, em uma nova vida, e você será a prova mais difícil para ela. Será seu filho, um menino bondoso e curioso, sempre disposto a aprender. Com suas traquinagens e alegria preencherá a vida daquela que um dia foi sua assistida. Então o jardim secreto que desabrochou em sua alma e que foi regado com as lágrimas sentidas de sua desilusão será a inspiração para ela, e também para você rumo a novas dimensões.