Em um certo baile de máscaras e fantasias! (EC) Parte II

SEQUÊNCIA DA PARTE I

Melzequíades sempre fora um cara tremendamente introvertido!

E isto contribuía para que sua popularidade dentre as garotas fosse diminuta.

Apesar de ser introvertido, exalava muita empatia e tinha um grande rol de amigos. No entanto, amigas tinha poucas.

Vivia ouvindo as bravatas dos colegas de turma, que contavam as peripécias que viviam realizando com suas coleguinhas de turma e com as outras das demais turmas. Ficava acabrunhado em não ter a mesma extroversão dos demais e por não se aproximar e se enturmar com as serelepes mocinhas! Até que havia entabulado alguma conversa com algumas, tais como: Helena, Clotilde, Carol, Selena, Kate... Segundo seu feeling, elas haviam sentido pena dele e lhe concedido alguns momentos de prosa. Pensando ser inconveniente com elas, que viviam sendo paparicadas por todos seus colegas de classe e também por muitos outros de outras turmas, Melzequíades optou, segundo ele mesmo dizia, por recolher-se em sua insignificância, não mais aproximar-se das meninas e seguir isolado, pura e simplesmente concentrado nas aulas e nos ensinamentos ministrado.

Com o amigo de turma Airton até que podia contar, haja vista ele viver constantemente mencionando seu nome para seu grande número de admiradoras. O jovem Airton era do tipo garanhão, aloirado, olhos claros, boa musculatura, chamado de ‘pão’ pelas espevitadas amigas.

Logo que circulou a notícia de que seria realizada uma confraternização entre os alunos regularmente matriculados, em forma de uma festa à fantasia, Airton incentivou o reticente Melze, como o tratava, que deveria participar do evento, procurando fantasiar-se de forma que se tornasse totalmente irreconhecível. Assim, poderia aproximar-se de uma das garotas também participantes e, certamente, bom de papo como era, a convenceria a ficar com ele durante o evento e, quiçá, até posteriormente!

Melzequíades relutou bastante dizendo que não daria certo e que seria melhor, como dos outros eventos que ocorreram, ele omitir-se em comparecer. Porém, Airton tanto insistiu que Melze acabou aquiescendo...

Parece que o tempo voou e quando deu por si, Melzequíades constatou que havia chegado a hora do seu comparecimento à festa. No último instante resolveu alugar uma fantasia de Pierrô, pois achou que foi aquela que melhor escondeu totalmente a sua identidade.

Efetivamente, ficou irreconhecível pois ao chegar ao local do evento, nem seu Amigo Airton, fantasiado de Superman o reconheceu, indagando dentre os demais colegas de classe, em presença do Pierrô se haviam visto o Melze por lá. Satisfeito com o resultado, revelou-se para Airton e adentraram o ambiente já repleto pelos animados adolescentes.

Mal adentrou o local, Airton/Superman dirigiu-se a uma odalisca que se aproximou e já saiu atracado efetuando passos no gingado da canção que era entoada!

Melze/Pierrô permaneceu em pé, somente observando o bailar dos animados fantasiados da festa.

Foi quando notou, afastada como ele, uma desconsolada Colombina que também somente estava na observação! Seus olhos não conseguiam desviar-se daquela figura absorta que acompanhava a alegre dança pelo salão!

Parece que o magnetismo que emana do olhar fixo que é lançado de uma pessoa para outra funcionou em meio ao lirismo que imperava no ambiente. A absorta Colombina, num repente, olhou diretamente para o local onde se encontrava Melze/Pierrô! E seus olhares cruzaram!

Como que hipnotizado por aquele fixo olhar, Melze/Pierrô caminhou ao seu encontro!

Aproximou-se, estendeu os braços e recebeu entre eles a Colombina enlevada!

Iniciaram um belo bailado pelo salão que foi pouco a pouco monopolizando a atenção de todos os que rodopiavam pela pista de dança! Um dos casais que estava mais próximo a eles, fantasiados de Batman e Mulher–Gato, pararam de bailar, separaram-se e lado a lado começaram a bater palmas de incentivo ao casal Pierrô e Colombina! Aos poucos, o que se via eram os casais imitando o gesto patrocinado pelo primeiro casal!

Em breve, estava formado um grande circulo dos casais fantasiados, tendo ao centro em empolgante e com bastante destreza, o casal Pierrô e Colombina!

Incentivados pelas palmas de todos que formavam o grande circulo, os músicos componentes da banda que animava a festa, enveredavam por diferentes ritmos musicais, todos eles recepcionados com a mesma destreza e competência pelo entrosado casal de bailarinos!

Decorrido bom tempo, os músicos executaram o acorde final, interrompendo a primeira seleção de músicas apresentadas no evento, sob estrondosos aplausos dirigidos ao casal, que permaneceram por alguns longos minutos como figuras centrais da ovação, de braços dados e meneando suas cabeças em sinal de agradecimento.

Os casais que bailaram foram se desfazendo, com a maioria dos rapazes e donzelas dirigindo-se aos reservados, alguns indo em direção ao bar e outros preferindo voltar às suas mesas!

Silenciosamente, Pierrô e Colombina, de mãos dadas, dirigiram para a porta de entrada/saída do salão e saíram, dirigindo-se para um pequeno jardim contíguo ao salão. Em lá chegando, olhos nos olhos, ficaram frente a frente, e a Colombina sussurrou:

--- Quem é você?

Melze respondeu:

--- Sou o Pierrô, que procurava sua Colombina!

A jovem, docemente retrucou:

--- Não brinque! Quem realmente é você?

Melze novamente falou:

--- Não importa no momento! Vivamos estes momentos de encantamento que nos uniu!

Ato contínuo, apertando aquela delicada mão que segurava, fez com que ela o seguisse em direção a um parque agregado ao jardim que estavam. Sem oferecer qualquer resistência, Colombina o acompanhou...

Na solidão do ambiente, onde se podia ouvir os gorjeios dos pássaros nas copas das árvores, como que saudando a chegada de um novo dia, deram-se as mãos e frente a frente encararam-se por alguns instantes, advindo em Melze uma repentina e surpreendente coragem que o fez murmurar:

--- Seus olhos e o encantamento deste momento me fascinam! Posso retirar sua máscara e mirar sua face?

Sem retirar seus olhos do dele, a donzela também murmurou:

--- Não sem antes eu possa fazê-lo com você...

Permaneceram alguns instantes em silêncio, como se meditando e Melze respondeu:

--- Embora ainda preferisse o contrário, vou satisfazer a vontade de minha musa! Esteja à vontade... É claro que permito que o faça...

Ainda com os olhos nos olhos, soltaram as mãos e a Odalisca erguendo-as retirou suavemente a mascara que recobria aquela face até então não vista...

Permaneceu uns instantes estática e num misto contido de alegria e surpresa, brandamente falou:

--- Eu tinha certeza que era você, Melzequi!

O pierrô/Melze, também sem denotar surpresa, exclamou:

--- Com sua licença, também vou retirar sua máscara, e adianto que acredito que também sei quem é você! A somatória do chamamento dos seus olhos, acrescidos pela sonoridade de sua voz, pela candura do seu tratamento comigo e até pelo calor do seu abraço, fizeram com que houvesse uma justificável empatia que senti! Sua pronúncia chamando-me Melzequi me deu a certeza final! Só há uma pessoa que me tratou desta forma até hoje... Não se torna necessária uma sua aquiescência sonora... Seu terno olhar me autorizou!

Procedendo da mesma forma que a ela, o pierrô/Melze, lentamente retirou a mascara que recobria a, até então escondida face da Odalisca. Com ar de muita satisfação estampada na face, o rapaz exclamou:

--- Carol! Tinha certeza de que era você...

Permaneceram estáticos, apenas olhando-se nos olhos por alguns longos segundos, até caírem nos braços um do outro, unindo seus lábios num sôfrego beijo, festejando a revelação de uma platônica paixão!

Este texto faz parte do Exercício Criativo - Máscaras e Fantasias

Saiba mais, conheça os outros textos:

http://encantodasletras.50webs.com/mascarasefantasias.htm