MUNDO DEVA
Nina nunca deixou de acreditar no mundo das fadas. Mesmo quando o resto das pessoas à sua volta, achava que isso era apenas fantasia de livros infantis e filmes feitos em Hollywood.
As coisas sumiam, ela dizia que foram os duendes ou gnomos.
Uma maçã aparecia comida, eram eles também...
Pediu aos seus pais quando mudaram para a casa que compraram, para fazer um imenso jardim.
Sabia: Seres do mundo Deva, ( assim é chamada a dimensão paralela e invisível desses elementares da natureza) adoravam povoar locais de muito verde e flores.
Ah, mas, as fadas! Essas que povoavam seus sonhos de meninice, nunca lhe faziam visitas!
Os pais atenderam seu pedido. O jardim foi providenciado.
Fizeram uma festinha de inauguração da casa, para os familiares conhecerem seu novo lar.
Nesse dia, ela enfim teve o encontro tão sonhado:
Ao brincar com os balões da festa, correndo de um lado para outro, com seus primos, ela deixou alguns escapar de suas mãos. Correu frenética para alcançá-los antes que voassem longe.
Quando chegou em certo ponto, parou em frente à uma árvore frondosa que já era centenária naquela propriedade, e lá estava para sua surpresa, uma linda e etérea fada.
Possuía tatuagens brilhantes, vestia-se apenas com pedrarias coladas ao corpo de forma a cobrir sua intimidade. E as asas? Perfeitamente translúcidas e brilhantes, com um tom azul turquesa e nuances em lilás.
Trazia um flor cor de rosa, em seus lindos cabelos de tom castanho claro.
Nunca os adultos iriam acreditar!
Enquanto seus pais conversavam não muito longe, satisfeitos com a festa, ela sorrindo, desenvolveu um diálogo com a elementar dos bosques e jardins:
- Eu sabia! Um dia uma de vocês apareceria para mim!
- Estamos muito felizes com essa nova morada. Sempre que fazem um jardim como esse, alguns de nós vem habitar. Pena que em seu mundo, a maioria das pessoas por não acreditar em nossa existência, não faça tantas áreas verdes e floridas como essa... Vivemos em uma realidade paralela à sua, podemos vê-los sempre, mas, somente alguns de vocês nos veem. Precisa-se acreditar e ter um coração e mente abertas.
- Ah, eu sei disso! Leio tanto sobre fadas e duendes que já sei tudo sobre o seu mundo Deva...
- Pequenina, não pense que sabe tudo. Ninguém sabe nada do que existe no Universo.Os homens escrevem, mas, nunca estiveram em nosso meio, tampouco nos outros mundos, portanto, como saber o que realmente existe? Assim é com tudo na vida terrena. Uma lição eu te dou:
Nunca acredite em tudo que lê, nem no que dizem. Desconfie sutilmente.O chamado mundo real, é coberto de falcatruas e enganos. E existem muitos homens maus que se aproveitam da inocência de muitas crianças para fazerem coisas terríveis!
- Obrigada pelo seu conselho. Posso saber seu nome fadinha?
- Meu nome é aquele que quiser me dar. Cada fada protege uma criança, e ela tem direito de escolher o nome que mais gostar. Como uma boneca, entende?
- Sim! Então deixa ver... Hum... Que tal Nicole? Eu não tenho nenhuma boneca ainda com esse nome...
- Então serei Nicole para você. Não conte a ninguém, não iriam acreditar.
- Tá bem. Poderei te encontrar de novo?
- Estarei aqui no jardim, mesmo que não me veja mais.
- Que bom! Tá certo. Agora eu vou, por que eles devem estar achando que eu demoro...
- Vá, criança.
Nina saiu correndo de volta para a festinha, e a fada ainda ficou de longe acenando até desaparecer atrás da árvore.
Dias depois, olhando um álbum de família com sua mãe, que procurava uma foto específica para retirar e escanear, ficou boquiaberta com o que via:
-Mamãe, eu não sabia que conhecia Nicole! Quem tirou essa foto dela? Parece bem antiga...
- Como você sabe que sua avó se chamava Nicole?! Eu nunca disse. Minha mãe morreu nova, assim que nasci. Fui criada somente pelo meu pai.
- Mas mamãe, a Nicole é minha fada protetora, como poderia ser minha avó?
- Lá vem você Nina, com essa coisa de fadas! Só estranho saber o nome dela... Seu nome é Nina em homenagem à minha mãe que nunca pude conviver para conhecer...
- Mãezinha, eu escolhi o nome da minha fada.
Elas ficaram olhando uma para a outra, em um silêncio que só confirmava o que era verdade:
Cada ser (espírito) se plasma da maneira que quiser, e aproveitando que Nina gostava de fadas, sua avó, que morrera de parto jovenzinha, achou agradável satisfazer a ânsia da menina.
Fátima Abreu Fatuquinha