Pés Descalços
Quando eu era menino costumava pensar em me tornar um peregrino, viajar por todo o mundo conhecido, desbravar novos horizontes, conhecer pessoas importantes, acumular tesouros… Mas a vida nem sempre toma os rumos que queremos. Hoje, já adulto, sou dono de uma pequena pousada localizada em um vilarejo menor do que um estábulo. Se não fosse o fato desse ser um local a beira de uma grande estrada, acho que já teria morrido de fome.
Mesmo com a minha vida comum e rotineira, ainda sonho com grandes jornadas e com riquezas esquecidas de reis que já se foram há muitos séculos. Ainda pergunto aos viajantes que por aqui passam como andam as coisas pelas outras bandas. Ainda me vejo olhando para minha antiga espada, agora presa em uma estante do outro lado do balcão. Mas acima de tudo, ainda ouço a voz da aventura, sussurrando desejos em minha mente, e fomentando inquietação em meu coração.
Algumas vezes me transporto em memórias para os tempos de criança. Correndo descalço nas ruas, esperando encontrar dragões, orcs, diabretes e todo tipo de seres habitando o bosque dos fundos de minha casa. Eu enfrentaria essas criaturas com nada além de minha coragem, e as derrotaria com a força de minha voz.
Porque é assim que os grandes heróis fazem sua fama, não com espadas e escudos, muito menos com artimanhas, eles a fazem usando nada além da pura coragem. Essa coragem ainda reside em mim, e quem sabe um dia ela possa reavivar um pedaço meu esquecido há muito tempo. Quando esse dia chegar, não importa a idade que eu possua, eu me lembrarei dos sonhos de criança e me lembrarei dos meus pés descalços sobre as pedras.