NA COR DA SAUDADE...

Mal pude acreditar...era ela!

De repente nos vimos naquele mesmo portão.

Costumava freqüentar aquele espaço fértil, aonde encantava aos que lá passavam, embora sempre nos deixasse claro que era de pouca conversa.

E eu , já sabendo disso, pois me fora cantada e contada pela poesia dos poetas de outrora, com ela me comunicava apenas com o olhar!

Seu encanto não se fazia através das letras, nem mesmo nas palavras fonadas.

Seu encanto era o seu viço...seu vibrante colorido...o seu canto.

Um canto silencioso somente audível aos ouvidos especiais, cuja acuidade vai além do tempo e do espaço.

Eu, na correria das grandes cidades, confesso que não me dei conta da sua ausência.

Passava apressada pela calçada, a acionar o portão automático, e nem percebia que há tempos ela não aparecia por lá.

Mas hoje, ao vê-la timidamente resplandecer ao relento, fitando-me através da névoa, pude enfim responder ao seu sorriso...ao seu aconchego!

Senti que havia saudade, pois sua cor já não era mais a mesma, e então, me pus a meditar.

Talvez cansada, viesse de longe, a se proteger de mais um inverno que recomeça amanhã, optando assim, por cores mais sóbrias.

Engraçado...como certas ausências deixam-nos espaços virtuais...que não se preenchem nunca.

Foi essa sensação que inundou meu peito, quando me aproximei e reconheci o seu perfume.

A me ver, percebi que soltou uma pétala amarelada...parcialmente enferrujada, que se dispersou ao vento.

Também lacrimejei.

Aquele momento era único, pois ambas éramos as mesmas...

Eu me reconheci na sua cor...

Era ela!...a minha mesma rosa, que naquele velho jardim, ainda guardava de nós, antigas e remotas primaveras.