834-ENCONTRO COM WOODY ALLEN EM NEW YORK

ENCONTRO COM WOODY ALLEN EM NEW YORK

Nova York, fim do outono de 2010. O vento soprava frio e cortante pelas avenidas e ruas da megalópole, forçando os transeuntes (e eu e Enny no meio deles) a abaixar as cabeças encapuzadas e procurar proteção nos vãos e reentrâncias sob as marquises das fachadas dos edifícios gigantescos.

Saindo da Central Station logo encontramos nosso destino. Na Rua 42, entre a 7th. e 8th. avenidas, um grande letreiro anunciava o Madame Tussaud' s Wax Museum — o Museu de Cera de Madame Tussaud

Entramos depressa, fugindo do frio da rua. Após exibir os ingressos, fomos admitidos imediatamente na área de exposição. Enny já começou a tirar fotos.

Vi Woody Allen sentado, apoiando os braços em uma mesa oval. Sentei-me ao seu lado, e sem maiores formalidades, começamos a conversar.

—Então, você é escritor? Em que língua você escreve.

Ele já tinha ouvido falar de mim? Pensei.

Respondi:

— Escrevo em português.

— Ah! Em Portugal...

— Não, sou brasileiro. Meus contos são em português, língua que usamos por lá.

— Brasil? Você escreve contos para serem lidos por brasileiros — Notei um ar de deboche em suas palavras.

— Sim. Você...

— Mas então você está perdendo tempo.

— Por quê? Já tenho livros editados e meus contos...

Ele falava sem me olhar, as vista fixa num ponto indefinido no salão. Era muito inexpressivo, não colocava emoção nas suas palavras.

Enny nos fotografava de diversos ângulos. Woody não se importava, nem piscava os olhos com os flashes da câmara digital

— É pura perda de tempo. — Fez uma pausa e concluiu:

— Realmente, é pura perda de tempo escrever para um país de analfabetos.

Não tive tempo de responder a este comentário tão ácido, porque, em seguida, acordei.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 19 de março de 2014

Conto # 834 da Serie 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 04/07/2015
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